segunda-feira, 25 de julho de 2011

12 Horas de Tarumã - 1998

Hoje publico um post sobre a última prova disputada pelo Ayrton Brum. Após a vitória nas 12 Horas de 96, Brum ficaria de fora das temporadas de 97 e 98 da Speed 1600, voltando nas 12 Horas de 98. Ele nos traz todos os detalhes de como foi aquela prova.

"Neste ano resolvi não disputar o Campeonato Gaúcho, mas me dedicar somente as 12 Horas, que era a prova que mais prazer sentia em disputar. Me procurou o colega de Curso de Pilotagem, Waldemar Max, fizemos uns acertos e resolvemos disputar as 12 Horas de dupla, somente os dois na pilotagem.

O carro foi preparado pelo João Mascarello, fizemos a desmontagem total do carro e praticamente refizemos o carro na parte mecânica e elétrica. Com exceção da parte estética, todo o resto era novo, com peças novas, esquema para vencer.

Na tomada de tempo abri a volta cronometrada e quando cheguei na curva do Laço, disparou o motor e para não "tirar de giro" desliguei e encostei na parte interna na curva. Não consegui fazer uma volta sequer cronometrada e fui para a última posição no grid. Tinha soltado uma agulha do carburador.

Na largada, estilo "LE MANS", os carros ficavam parados com a chave geral desligada e ao dar a largada, o outro piloto corria em direção ao carro, ligando a chave geral e assim o piloto dentro do carro dava a partida.

A estratégia seria, por eu ser mais experiente, largar e pilotar as três primeiras horas, que era o máximo que o regulamento permitia para o início de provas longas, e a minha parte da pilotagem também previa a última parte, que seria a chegada, caso ainda estivessemos na prova.

Assim, esperei com a primeira marcha engatada, pé na embreagem e o dedo colado no botão de partida. Ao dar a largada, acelerei e a mão do botão de partida já escorregou para o câmbio engatando a segunda marcha e entre Chevettes, Voyages, Corsas, fui abrindo caminho em direção a Curva 1.

Fizemos dois Pit Stops no início da madrugada, sempre comigo pilotando. No terceiro, assumiu o Waldemar Max, isso já às 3:00 da madrugada. Na primeira volta o carro não aponta na Curva 9, depois de eternos minutos, vem o Speed 11, lentamente em direção ao box, tinha saltado fora a correia.

O Mascarello sempre com a técnica de colocar a correia com o motor funcionando, colocou nova correia e novamente estávamos na prova, embora nas últimas posições.

Às 5:00 da manhã entra novamente no box o carro com os faróis quebrados devido a uma batida. Assumi o carro com os faróis que sobraram virados para baixo, mas como o dia estava amanhecendo, não atrapalhou muito e assim fomos encontrando a manhã, já cansados, os olhos ardendo e o sono incomodando.

As 10:00 da manhã assumo o carro e noto que tínhamos uma vareta de válvula torta, o carro não passava de 4.500 rpm e quando forçava a terceira marcha, a vareta vibrava e ameaçava quebrar. Tive que começar a cambiar bem antes do normal.

As 10:30 o carro perde completamente o freio, nada de freio, o pedal ficou igual ao da embreagem, pois tinha partido um cano do freio de uma das rodas traseiras e a direção da prova estava começando a chamar os carros para as penalizações, por algum problema na madrugada. Ao passar na reta vejo na mão do diretor de prova a bandeira com o numero 11 para cumprir a penalização na saída dos box e assim, na volta seguinte me dirigi para o local determinado. Mas, ao chegar ao local, o dirigente me aguardava parado na saída do box e eu sem freio e sem poder segurar na caixa, senão a varetinha de válvula quebrava, fiz sinal para ele sair, ou iria ser atropelado e ele, quando notou que eu não tinha freio, fez sinal para eu continuar e retornar à pista.

Nas voltas seguintes, fiquei observando se seria dado bandeira preta para o Speed 11, ou se eu seria chamado novamente para cumprir a penalização. Para meu alívio, veio novamente a bandeira para cumprir penalização e não a desclassificação da prova.

Mas agora, o diretor da prova me aguardava não na minha frente, mas mais junto ao muro do box, e aí pude explicar que estava sem freio e sem condições de segurar na caixa de câmbio, o que ele sorridente me disse que dera para notar, pois quase fora atropelado. Assim regressei a prova, sempre pilotando o Speed 11, pois o Mascarello sugeriu, e eu concordei, em levar o carro até a bandeirada pelo estado que ele se encontrava, e por ter mais experiência.

Assim, fui me arrastando e cada vez o carro mais lento e perdendo rendimento. Quando entrava o Pace Car e andávamos lentos, eu tinha que manter a rotação do motor alto, pois eu sentia que se apagasse o motor, ele não pegaria mais.

Procurava tirar o máximo de proveito quando conseguia e nas curva onde precisava de freio, fazia a traseira escapar lentamente e matar um pouco a velocidade para contornar o Laço. No Tala entrava direto, pois ele não ganhava muita velocidade entre o Laço e o Tala Larga.

Às 11:30, no último pit stop, o Mascarello me avisou que estávamos em terceiro lugar e que o carro do Marco Pinto, que estava na segunda posição, tinha abandonado na Curva do Tala, e que nós tínhamos 409 voltas e eles tinham 419 voltas e se quiséssemos o segundo lugar, teria de tirar essas 10 voltas nos 30 minutos finais.

Nessa última meia hora de prova o Speed 11 estava cada vez pior, isso me desgastava muito na pilotagem e várias vezes conversava com ele pedindo: Filho, aguenta mais um pouco, não me abandona agora. Conversava com ele e procurava aproveitar o máximo aquelas imagens de dentro da pista, pois algo em meu coração dizia: Você não verá mais essas imagens e não sentirá mais essa adrenalina; É hora de voltar para casa.

Na última volta, ao sair da Curva 9 e entrar na reta, vi a bandeira quadriculada, ainda não sabia que tinha tirado as 10 voltas de vantagem e que estava em segundo lugar. Acendi os poucos faróis que me restavam, as lágrimas escorreram, passei a linha de chegada sem enxergar direito e encostei o Speed 11 no parque fechado, e depois da vistoria, ao levar ele de volta ao box, o motor não pegou mais, tivemos que empurrá-lo.

No podium novamente olhei com carinho e me despedi daquele lugar, pois sabia que não o veria mais, como realmente foi. O meu troféu de segundo lugar me foi entregue pelo filho do Pedro Carneiro Pereira, morto na década de 70, e ao apertar a mão do filho do Pedro, eu sentia que era o próprio Pedro que me entregava o troféu.

Retornei ao box número 7, que foi o último que utilizei. Juntei meu material de corrida, meu troféu e meio sem rumo, voltei para casa.

Mesmo após pilotar o total de nove horas, não conseguia dormir naquela tarde de domingo, sentia uma mistura de alegria, tristeza, ansiedade e saudade. Nunca mais retornei ao Autódromo de Tarumã. Se um dia voltar ao Autódromo onde fui tão feliz, não será do lado das arquibancadas."


Estava fechada a história da trajetória do Brum nas pistas, pelo menos aqui no blog. Mas o Speed #11 não ficaria inativo por muito tempo. Um grande amigo se encarregaria de dar nova vida ao simpático carrinho. Conto mais sobre isso amanhã. Ao Brum, o meu muito obrigado por dividir todas as suas histórias com a turma aqui.








Fonte das imagens: arquivo Ayrton Brum.

4 comentários:

Francis Henrique Trennepohl disse...

S E N S A C I O N A L ! ! ! Já ouvi essa história do Ayrton quando fui buscar o nosso Fusca (um pedaço dele ainda é teu, Ayrton, e sempre será!).
Tô aqui com os olhos derramando lágrimas, pois ontem o bravo "Pinico Atômico" suportou 2 horas de corrida nas 100 Milhas de São Bento do Sul, e por diversas vezes conversei com ele durante a prova.
Pude rir e chorar embaixo do capacete, senti emoções e adrenalina que jamais imaginei que sentiria na vida.
Quem sabe um dia eu o leve pras 12 Horas de Tarumã.
Vida longa ao 11, ao 2!
Abraços empoeirados

Brum disse...

Gracias Francis.

Esse carro nasceu pra vencer. Vc vai ter muitas vitorias com ele.
Nossa trajetoria, pela paixão, e pelo inicio da carreira, eh muito parecida.
Quando fiquei olhando pelo espelho do carro, vc levando o speed 11, falei a meu filho:
"O CARRO ESTA EM BOAS MÃOS, O FRANCIS VAI CUIDAR DELE, MUITO MELHOR QUE EU, E O CARRINHO MERECE CONTINUAR CORRENDO E VENCENDO."

Um grande abraço.

vitorio soder disse...

A gasolina na veia é foda....
proporciona essas declarações que emociona a gente....
abraço brum e francis...

luizborgmann disse...

Na última foto também aparece o Aldee #10 vencedor na geral com Ribas, Soldan e Luiz Castro.
luiz borgmann