sábado, 4 de agosto de 2012

Não sabendo que era impossível...

O último Desafio mostrava uma imagem interessante, parecida com aquela que se faz em todo o início de temporada da Fórmula 1: os pilotos posando para a fotografia oficial. Tudo bem que nem todos os 32 pilotos inscritos compareceram para o retrato, feito naquela que era a prova de abertura do Campeonato Brasileiro de Fórmula Super-Vê de 1975, em Interlagos.

O representante dos pampas que estava entre aquele grupo era "Janjão" Freire, que até o ano anterior competia na Divisão 3 com seu Fusca #47. Na prova de Interlagos, correndo com um Kaimann preparado por Carmelo Carlomagno, finalizou em 10º lugar na soma das três baterias.

Em contato com o próprio "Janjão" nesta última semana, ele teve a gentileza, mesmo estando do outro lado do mundo, de escrever algumas linhas sobre aquela imagem.

"Ao ver esta foto que o Leandro gentilmente me enviou, hoje, mais de 30 anos depois, um pensamento me veio quase que imediatamente à cabeça: como eu era pretensioso!  Eu não tinha nenhuma condição de estar neste grupo! Não que não tivesse condições como piloto, mas hoje tão distante daquele momento, vejo que foi uma loucura total. Meus recursos financeiros eram limitadíssimos, tinha uma permuta com a Radio Continental que me proporcionava um número X de espaços comerciais que eu vendia próximo a cada corrida para pagar as despesas de viagem, mecânico e pneus. E era tudo. Se o carro quebrasse ou batesse,  era colocá-lo de novo na carretinha e voltar para Porto Alegre. Mas, lá estava eu ao lado daquelas feras, algumas incontestáveis como o magrinho que aparece todo sorridente atrás do Marcos Troncon e do grande Chiquinho Lameirão. Sobre ele, tenho uma história saborosa que divido com vocês agora: quando as corridas eram em São Paulo, eu parava num hotelzinho 'boca de porco' na frente do aeroporto de Congonhas chamado Nóbrega (que até hoje existe). Lá morava o Piquet. Todo o dia nos encontrávamos para um café da manhã de pão e manteiga, ele de calção e chinelo de dedos. Alguns anos depois, ele já campeão do mundo, fui visitá-lo em Mônaco, durante um grande prêmio. Ele desta vez estava hospedado no Lowes, aquele hotel que fica em cima do túnel que leva os carros ao porto. Fui na portaria e perguntei qual era o quarto do Sr. Piquet. A resposta do recepcionista: o Sr. Piquet não se hospeda num quarto, ele tem um andar todo a disposição no nosso hotel! O magrinho com cara de quem fez alguma traquinagem na foto tinha realmente progredido. O hotelzinho Nóbrega tinha definitivamente ficado para trás...

O pensamento se completou com uma expressão conhecida: "não sabendo que era impossível foi lá e fez". Quando lembro daquela aventura e me vejo aqui no meio da China aos 64 anos de idade, pretendendo vender produtos brasileiros para os chineses, vejo que a velha pretensão ainda continua intacta, não aprendi nada com os anos, infelizmente. "Não sabendo que era impossível...", aqui estou!

Abraços,
Janjão Freire"

Abaixo imagens da prova em Interlagos, disputada no dia 16 de Março de 1975.







Fonte das imagens: revista Quatro Rodas.

8 comentários:

Anônimo disse...

Sensacional as palavras do Janjão, como uma lição de vida para muitos...
Eu agora me sinto em um grupo de elite pois além do Piquet e do Janjão também frequentei muito (até mais do que eles...)o "Hotel" Nobrega (carinhosamente chamado de Nó Brega)na Av.Washington Luiz em frente ao Aeroporto de Congonhas, isto claro na minha época também de vacas magras na aviação brasileira...

Renato Pastro

Roberto Giordani disse...

Caro Janjão Freire :
Nada como um "pretencioso" igual a ti para confirmar a fé que tínhamos nós, teus amigos da época, na tua capacidade de pilotar, inobstante as dificuldades financeiras que a maioria de nós tínhamos naqueles idos anos de 1975 ou próximos. Soubesses sobrepujar as adversidades e de alguma forma inscreveste teu nome na galeria dos pilotos históricos que breve será eternizada a memória no Livro dos Jurássicos, " Das pistas para a História".
Se hoje estás na China com a tua atividade profissional, com muito respeito te digo que deves empunhar com confiança a mesma arma que chamas de "pretensão" na busca de teus objetivos; assim como deu certo no automobilismo, com ajuda de nosso Grande Pai continuarás sendo um vencedor.
Roberto Giordani
Coordenador dos Jurássicos.

Anônimo disse...

Fantástico esse comentário do Janjão! E esse impagável comentário que carcaterizava o estilo Piquet de ser. Essa frase é de guardar(e tentar praticar)e inédita.PAULO A.TREVISAN

vitorio soder disse...

Grande janjão...soltando a emoção isso é muito legal...o blog do sanco proporciona isso as pessoas.eu tbm ja fiquei neste hotel a primeira vez que fui a formula um tenho uma historia deste dia chequei do voo as 6;30 atravesei a passarela peguei a chave do guarto tomei um banho a 230 km/h fui pra avenida pegar uma da vans que iam até o autodromo chegando la escutamos os barulhos dos carros pulei a janela e fui procurar a minha bilheteria era a g a mais longe de todassss chegando la abro a muchila coloco tudo no chao o coraçao saindo na boca e o talllll do ingreço cade???ficou em cima da televisao do hotel.....eheh resolvido....abraço sanco que blog cara.

luizborgmann disse...

Olá amigos,
Vale lembrar que o Janjão, posteriormente à Super Vê, continuou na Divisão 3 com o patrocinio da Rádio Continental, mas com uma VW Brasilia, e como andava essa...Mas a Brasilia acabou estatelada, pernas pro ar, na antiga curva 3 de Interlagos...
luiz borgmann

Anônimo disse...

Muito bom Sanco, fotos muito interessantes do primeiro ano da Super Vêe. Nas fotos vemos carros que não correram desde o início do ano como os Avallones. Excelente material. Abraço,
Aloisio Adib

Anônimo disse...

Há um Bino, que eu nem lembrava ter corrido na Super-Vêe e também um Heve com carenagem que também foi usada na F-Ford.

Aloisio Adib

roger disse...

Janjão marcou tempo! Admiro a garra do velhão! rsss