terça-feira, 4 de agosto de 2009

O nascimento do MCR

Após a saída da Swift UK, Luiz Fernando Cruz, mudou totalmente seu rumo. Se mudou para os Estados Unidos e passou a se dedicar a outros negócios que não o automobilismo. Entretanto, em 1994 encontrou o amigo Oswaldo Negri Júnior que competia na Fórmula 3 Mexicana. Este o convidou para dar o suporte técnico durante toda aquela temporada e lá foi Cruz para o México, mas apenas nos finais de semana.

A equipe era a Prometeo que tinha além de Negri, o irlandês Derek Higgins na pilotagem dos carros. Curiosamente, Higgins havia sido concorrente de Cruz na Fórmula Ford 1600 em 1987. O time acabou sendo o vice campeão da temporada 94. Cruz também deu suporte ao piloto da equipe na Fórmula Renault, o mexicano Horacio Richards, que acabou campeão.



Mais cinco anos afastaram Cruz das corridas até que o velho amigo Michel Ligonnet, piloto da Fórmula Renault em 88, que correu com o primeiro carro totalmente projetado pelo gaúcho, o convidou para acompanhar as 24 Horas de Le Mans, em Junho de 1999, onde Michel correria com um Porsche 911 GT2.


A experiência de Le Mans trouxe à tona uma ideia antiga de construir um protótipo. Cruz já estava morando novamente no Brasil (desde 1997) e num encontro casual com o construtor Ademar Moro, veio a proposta de uma parceiria. Cruz entraria com o know how e Moro com a estrutura para fazer o protótipo. Isso foi em Julho de 99. O objetivo era estrear o carro nas 12 Horas de Tarumã, que seriam realizadas cinco meses depois.

Cruz ainda lembra que não conseguiu ficar sem meter a mão na massa, pois queria ver o protótipo nascer, e acabou, ele e Moro, ficando noites e fins de semana construindo o primeiro MCR. Depois de muito serra-e-solda-ferro, o carro ficou pronto no final de Novembro, uma semana antes das 12 Horas. O carro foi para a oficina do Luciano Mottin, que desde então participa ativamente dessa história. A equipe foi para a pista testar e o carro se comportou muito bem. Viraram tempos de ponta já de cara. Fazia sete anos que Cruz não pilotava, desde sua saída da Swift. Mas como ele diz, pilotar é como andar de bicicleta ou esquiar, uma vez aprendido, não se esquece mais. Porém ocorreu a quebra de um rolamento de roda o que fez o carro sair reto na curva do Laço. Uma pancada na barreira de pneus acabou com a carenagem. Cruz teve de virar sete dias e sete noites para fazer uma carenagem nova, sem molde nem nada, tudo na mão, poliuretano, fibra e lixa.


O carro ficou pronto na véspera. Cruz preferiu não correr e cedeu seu lugar a João Sant'Anna, ficando concentrado no trabalho de box. O carro venceu a prova com 11 voltas de vantagem. A esta altura Cruz já trabalhava na montagem do MCR grande, que inicialmente teria um motor BMW M3 e mais tarde o Chevrolet V8.


Cruz ficou com o chassis do carro grande e comprou um motor V8, câmbio, freios, etc e tentou por quatro anos fazer um esquema forte. Mas precisava de parceiros. O carro era o protótipo mais veloz do Brasil, mas mesmo fazendo todas as pole positions possíveis, quebrava muito a transmissão e abandonava as provas, sempre na ponta. Foi o carro mais veloz das Mil Milhas em 2003. A equipe, composta por ele, Rodrigo Ribas, Walter Soldan e Fernando Parra, com Egon Herzfeldt na preparação, não fez a tomada de tempos, mas baixou em 1,5s o tempo da pole no warm-up. Na prova, após sensasional recuperação, a equipe abandonou depois de quebrar a fixação da roda. Com esse time o carro teria tido grandes chances se houvesse mais tempo para trabalhar.


Na sequência veio a vitória no Torneio de Verão de Tarumã. Depois disso, Cruz fez a carenagem fechada e andou apenas nos 500 Km de Interlagos e acabou vendendo o carro para uma equipe de Sao Paulo em 2004.




Enquanto isso os chassis MCR menores ganhavam inúmeras provas e campeonatos, principalmente no Sul do país. Foi Tri-Campeão da Brascar (2001, 02 e 03) e Hepta Campeão das 12 Horas de Tarumã (1999, 2001, 02, 03, 04, 07 e 08).

Foi em 2004 que Cruz foi procurado pelo inglês Matt Manderson, que era gerente da BAR-Honda, para fazer um projeto para a categoria Sport 2000 inglesa. Eles assim criaram a MCR UK (Manderson Cruz Racing). O projeto, embora se assemelhe com o MCR brasileiro, possui muitas diferenças técnicas, a suspensão traseira, motor, câmbio e principalmente quanto ao seu peso, cerca de 100 Kg mais leve, pois lá o peso mínimo é de 500kg. Foram enviados aqui do Brasil dois carros no inicio de 2005. Após a montagem do primeiro carro Cruz foi para Silverstone, para a segunda etapa do campeonato.


Eram 40 carros no grid. Matt largou em sétimo e terminou em quinto. Na prova seguinte em Donnington Park, largou em quinto e chegou em terceiro (primeiro podium. Na prova seguinte, enquanto liderava, saiu reto na chicane e estragou bastante o carro. A vitória era certa mas ficou adiada.

Matt ficou algumas etapas sem correr, pois teve que arrumar o carro e um dos patrocinadores retirou o apoio. Matt voltou na última etapa, o Festival de Brands Hatch. Eram 70 incritos, com baterias classificatórias e final. Ele largou a final em terceiro, passou dois na curva Paddock Bend e disparou na frente. Abriu uma boa vantagem sobre os demais, até que o motor quebrou. Mais uma vitória certa e dessa vez na mais importante prova.


Como os planos de patrocínios não deram certo, Matt acabou vendendo tudo para Clive Hayes, que montou uma oficina em St. Davids, País de Gales. Após um par de anos de investimentos em infra-estrutura, em 2009 a equipe veio com mais força.

A equipe esteve expondo nas duas últimas edições do Autosport Racing Car Show em Birmingham. Hoje já são cinco carros prontos. Muitos componentes ainda são enviados do Brasil para lá, mas as carenagens e os quadros, por exemplo, ja são produzidos lá.

A vitória de Chris Yarwood em Silverstone há poucas semanas, com Patrick Sherrington completando o podium em terceiro, colocam a equipe MCR entre as mais fortes da categoria.


Além do MCR, em 2007 Cruz construiu um novo protótipo para competir no Brasil, o LFC Tornado com motor da moto Suzuki Hayabusa. Com ele vem participando de provas até então, ao lado do piloto Cali Crestani, um dos incentivadores do projeto e responsável pela última pole do carro em Tarumã, há poucas semanas.



Termina aqui a história do piloto-engenheiro Luiz Fernando Cruz. Ele ainda se mantém na ativa e muito tem contribuido para a divulgação do automobilismo gaúcho dentro e fora do Brasil.

Agradeço a atenção dele enviando todo esse material fotográfico, bem como todas as informações para compor toda a trajetória dele nas pistas.

Valeu, Cruz!

Fonte das imagens: arquivo Luiz Fernando Cruz.

8 comentários:

Paulo Schütz disse...

Ótima série, tanto a história quanto as imagens.

Anderson Puiatti disse...

Muito Bom mesmo..

Tohmé disse...

Porra Sanco, isso tem que estar num livro. Excelente matéria.

Rui Amaral Lemos Junior disse...

Lendro , vc poderia me enviar uma foto para que eu coloque uma postagen com link p/ essa exelente postagen sua sb o Cruz ?
Um abraço

Jonny'O disse...

Parabéns Sanco, esta serie foi demais .

Fico na torcida para que o Cruz continue esta vitoriosa trajetória ,a vitória de um protótipo nacional na Inglaterra é a prova de que temos um grande engenheiro por aqui e que este talento não pode ser desperdiçado de forma alguma.

Leandro Sanco disse...

Obrigado pela citação, Rui. Fique a vontade para divulgar.
Grande abraço,
Sanco

Cezar Fittipaldi disse...

POxa Leandro...

Maravilhosa matéria. Eu conhecia o Cruz de nome, claro, quase nos "esbarramos" na Inglaterra, pois eu competi na FF 1600 inglesa até 1986. Parabéns a ele e a tantos outros pilotos gaúchos que engrandecem o nosso automobilismo.

Luciano Lorencini disse...

Incrível a história!

Aproveito para contar que, agora em Outubro de 2016, o MCR inglês estará disponível virtualmente, no simulador Automobilista, da brasileira Reiza Studios!

Veja o video: https://www.youtube.com/watch?v=f1e8-UZ3P4A

Pelo simulador, fui procurar a história desse carro, e me deparei com essa história simplesmente FANTÀSTICA!

Esse mesmo simulador, o Automobilista, possui vários carros de corrida do brasil, como o Stock Car, os da Copa Petrobrás de Marcas, os F-3, tem até o protótipo da Metalmoro.

Um grande abraço e parabéns!