Seguinte, gurizada. Como eu disse, o blog daria um tempo pelos últimos e nos próximos dias, mas eu tinha que ao menos vir aqui para dar um recado. No último Domingo, publiquei um Desafio que dava uma pista de onde eu estaria hoje. O Rui Amaral Jr. matou a charada. O piloto em questão era mesmo o Leonel Friedrich e a pista era Mônaco, lugar onde estou agora. Amanhã estarei no meio da multidão que todos os anos vem para cá assitir a essa prova única do automobilismo mundial. O negócio é impressionante.
Quando voltar publicarei alguns registros feitos aqui.
Era isso. Um abraço a todos!
sábado, 28 de maio de 2011
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Pilotinho inexperiente
Hoje continuo com a trajetória do Ayrton Brum na Speed 1600, contada pelo próprio, que nos leva agora para 1994.
"Iniciei o ano mais confiante e já com minha auto estima em alta. Por problemas financeiros, fui procurar o Paulo Ferreira, conhecido como Paulinho, que foi Campeão com o Fusca 40 do Guto Furst, da equipe Parks em 1989 e se não me engano em 90 também, e tinha a oficina MC Serviços, na Av. Aparício Borges no. 35.
Ao procurar o Paulinho ele me disse: Brum, lembro de você com o Fusca 77, todo errado em 1989, eu já com a pole feita e você lá naquela oficina no sábado à noite, lutando para poder ir correr no domingo. Também lembro de você, naqueles anos que parou de correr, aqui na oficina, sentado no carro do Guto, sonhando que estava pilotando um carro de ponta. Pois vou preparar o teu carro, e de graça, pois tive muita pena de te ver naquele carro. Você somente paga a minha despesa no autódromo e em caso de eu ter que fazer motor ou caixa de câmbio, vou te cobrar a tabela da oficina, como se fosse um carro de rua.
Para vocês entenderem, o Paulinho foi meu PAI, meu AMIGO, meu PROFESSOR, e muito aprendi com ele, como ser humano, foi a pessoa que, depois do Renato que me ajudou no Fusca 77, a outra pessoa que me estendeu a mão no automobilismo.
Em Janeiro de 1994, mudei as corres do Speed 11, do branco, para as corres amarela, azul e verde que o Guto utilizou no Speed 40, quando o Paulinho preparava para ele. Era uma homenagem que fiz ao meu amigo e pai, que ficou emocionado quando viu o carro e a nova pintura.
Com o carro de pintura nova, fui fazer um treino em Fevereiro, um domingo, e na volta do autódromo, na faixa de Viamão, antes da RS-040, o Speed 11 caiu da carreta, arrebentou as correntes e ele deslizou pela parte de traz e como estava em ponto morto desceu da carreta e sai rolando pela faixa. Ao olhar pelo espelho interno do meu carro não vi mais ele. Ao olhar pelo retrovisor externo vejo o Speed 11, vindo rodando, já ao lado da carreta. Não queria acreditar que iria perder meu carro, novinho, pintura linda, e ele indo direto contra os carros que viam em sentido contrário.
Fiz a única coisa que me restava, dar sinal de luz para os carros que vinham em sentido contrário, acelerar e com a carreta segurar o Speed 11, e assim fiz. Quando o 11 encostou na carreta eu freiava de leve, a carreta prensada pelo carro e pelo Speed 11, começou a atravessar, eu soltava o freio, ela alinhava e eu novamente freiava de leve, assim fui segurando ele, já no acostamento ao contrário da estrada.
Desci, fui engatar o Speed 11, para recolocá-lo novamente na carreta, quando vi as pessoas dos carros que pararam no acostamento, começaram a bater palmas para mim. Foi a única vez que fui aplaudido em pé na minha vida, mas meu carro estava ali, apenas com o capô dianteiro furado pela alça da carreta que prendia as rampas.
Logo após a morte do Senna, fomos fazer a minha primeira prova do campeonato em Guaporé. Por mim eu não iria, pois as despesas com a viagem eram pesadas, mas o Paulinho me disse: Brum, eu pago as nossas despesas, depois quando receberes teu salário, você me paga. Vamos lá, estamos bem no campeonato e não podemos só fazer as provas de Tarumã.
Assim fomos numa madrugada fria de Junho e eu me borrando de medo da minha carreta, pois tinha medo que o Speed 11 caisse novamente.
Chegamos ao autódromo de madrugada, eram 2 horas da manhã, a cerração era demais, um frio, e o pilotinho aqui nunca tinha ido no inverno à Guaporé. Levou pouca roupa e nada de roupa de cama. Dormimos no box. Enfiamos a carreta com o Speed 11 no box, arrumamos as camas com papelão no chão frio. Como levei pouca roupa e nada para me cobrir na noite fria, vesti o macacão e dormi com ele. Mas o frio era terrível. Eu lembro que dormia e meu corpo tremia de frio. No meio da madrugada o Paulinho pegou um cobertor dele e me cobriu dizendo: piloto, se você não dormir bem, amanhã você não vai consegui pilotar, e zombou de mim...PILOTINHO INEXPERIENTE."
Abaixo alguns registros daquele ano, onde aparece a família, a equipe e o mecânico Paulinho,na segunda e terceira imagens, de bigode.
Fonte das imagens: arquivo Ayrton Brum.
"Iniciei o ano mais confiante e já com minha auto estima em alta. Por problemas financeiros, fui procurar o Paulo Ferreira, conhecido como Paulinho, que foi Campeão com o Fusca 40 do Guto Furst, da equipe Parks em 1989 e se não me engano em 90 também, e tinha a oficina MC Serviços, na Av. Aparício Borges no. 35.
Ao procurar o Paulinho ele me disse: Brum, lembro de você com o Fusca 77, todo errado em 1989, eu já com a pole feita e você lá naquela oficina no sábado à noite, lutando para poder ir correr no domingo. Também lembro de você, naqueles anos que parou de correr, aqui na oficina, sentado no carro do Guto, sonhando que estava pilotando um carro de ponta. Pois vou preparar o teu carro, e de graça, pois tive muita pena de te ver naquele carro. Você somente paga a minha despesa no autódromo e em caso de eu ter que fazer motor ou caixa de câmbio, vou te cobrar a tabela da oficina, como se fosse um carro de rua.
Para vocês entenderem, o Paulinho foi meu PAI, meu AMIGO, meu PROFESSOR, e muito aprendi com ele, como ser humano, foi a pessoa que, depois do Renato que me ajudou no Fusca 77, a outra pessoa que me estendeu a mão no automobilismo.
Em Janeiro de 1994, mudei as corres do Speed 11, do branco, para as corres amarela, azul e verde que o Guto utilizou no Speed 40, quando o Paulinho preparava para ele. Era uma homenagem que fiz ao meu amigo e pai, que ficou emocionado quando viu o carro e a nova pintura.
Com o carro de pintura nova, fui fazer um treino em Fevereiro, um domingo, e na volta do autódromo, na faixa de Viamão, antes da RS-040, o Speed 11 caiu da carreta, arrebentou as correntes e ele deslizou pela parte de traz e como estava em ponto morto desceu da carreta e sai rolando pela faixa. Ao olhar pelo espelho interno do meu carro não vi mais ele. Ao olhar pelo retrovisor externo vejo o Speed 11, vindo rodando, já ao lado da carreta. Não queria acreditar que iria perder meu carro, novinho, pintura linda, e ele indo direto contra os carros que viam em sentido contrário.
Fiz a única coisa que me restava, dar sinal de luz para os carros que vinham em sentido contrário, acelerar e com a carreta segurar o Speed 11, e assim fiz. Quando o 11 encostou na carreta eu freiava de leve, a carreta prensada pelo carro e pelo Speed 11, começou a atravessar, eu soltava o freio, ela alinhava e eu novamente freiava de leve, assim fui segurando ele, já no acostamento ao contrário da estrada.
Desci, fui engatar o Speed 11, para recolocá-lo novamente na carreta, quando vi as pessoas dos carros que pararam no acostamento, começaram a bater palmas para mim. Foi a única vez que fui aplaudido em pé na minha vida, mas meu carro estava ali, apenas com o capô dianteiro furado pela alça da carreta que prendia as rampas.
Logo após a morte do Senna, fomos fazer a minha primeira prova do campeonato em Guaporé. Por mim eu não iria, pois as despesas com a viagem eram pesadas, mas o Paulinho me disse: Brum, eu pago as nossas despesas, depois quando receberes teu salário, você me paga. Vamos lá, estamos bem no campeonato e não podemos só fazer as provas de Tarumã.
Assim fomos numa madrugada fria de Junho e eu me borrando de medo da minha carreta, pois tinha medo que o Speed 11 caisse novamente.
Chegamos ao autódromo de madrugada, eram 2 horas da manhã, a cerração era demais, um frio, e o pilotinho aqui nunca tinha ido no inverno à Guaporé. Levou pouca roupa e nada de roupa de cama. Dormimos no box. Enfiamos a carreta com o Speed 11 no box, arrumamos as camas com papelão no chão frio. Como levei pouca roupa e nada para me cobrir na noite fria, vesti o macacão e dormi com ele. Mas o frio era terrível. Eu lembro que dormia e meu corpo tremia de frio. No meio da madrugada o Paulinho pegou um cobertor dele e me cobriu dizendo: piloto, se você não dormir bem, amanhã você não vai consegui pilotar, e zombou de mim...PILOTINHO INEXPERIENTE."
Abaixo alguns registros daquele ano, onde aparece a família, a equipe e o mecânico Paulinho,na segunda e terceira imagens, de bigode.
Fonte das imagens: arquivo Ayrton Brum.
domingo, 22 de maio de 2011
Desafio da Semana
Seguinte, gurizada. O post de hoje tem dupla função. Além do tradicional Desafio da Semana, que deve estar na edição #203, tenho de dizer que infelizmente o blog vai andar em marcha bem lenta pelas duas próximas semanas. Mas é por uma causa nobre. Amanhã inicio uma viagem a trabalho, por um lugar bem distante, que terminará somente no dia 3 de Junho. O Desafio de hoje tem a ver com um local que fica mais ou menos por perto de lá e se der tudo certo, terei a grata oportunidade de conhecer.
Então ficamos assim, vocês identificam o local, piloto (fácil), ano e o meu desafio será fazer de tudo para conseguir chegar lá. Vocês vão tirar essa de letra. Tomara que eu também.
Então... mãos à obra!
Então ficamos assim, vocês identificam o local, piloto (fácil), ano e o meu desafio será fazer de tudo para conseguir chegar lá. Vocês vão tirar essa de letra. Tomara que eu também.
Então... mãos à obra!
sábado, 21 de maio de 2011
Quimiogravura
Quem matou o último Desafio foi o André Pasquale, piloto que, se não estou enganado, também aparecia naquela imagem, logo atrás do #25, o "Chico Bala". A resposta do Desafio era o piloto Roberto Mantovani.
Foi o próprio Roberto que entrou em contato com o blog, enviado duas imagens de 1981, ano em iniciou no kartismo. Sua carreira foi rápida, não passando de 82.
O Roberto hoje tem 49 anos e informou que frequenta o Tarumã desde os 12. Ele lembra que entrou no kart através da empresa Quimiogravura, serigrafia de Canoas que pertencia ao pai do então piloto de kart Fernando Maciel, grande amigo do Roberto, que mais tarde passou para os carros, vencendo inclusive uma 12 Horas de Tarumã em 1996. Roberto foi contratado para ser o segundo piloto da equipe nas provas dos campeonatos Citadito e Gaúcho daquele ano.
A imagem do Desafio era da final do Campeonato Citadino de 81. Ele lembra muito bem dos pilotos da época. "Só tinha fera. Alguns nomes da minha categoria (Standard) eram o próprio Fernando Maciel, Waldir Buneder, Alexandre Muller, Gerson Morsbacher, João Luis Casarin, André Rebechi, Roberto Schimitz entre outros. Sem falar em outros que apareciam às vezes quando tinham tempo(Bocão Pegoraro, meu ídolo) Neco Fornari, Luiz Fernando Cruz, Anor Friedrich..."
O Gian Gasparotto, que corria na Quarta Menor, entrou em contato e lembrou que ele e o Roberto correram juntos numa prova longa no final do ano. Ele disse que quase ganharam. O Gian aproveitou e enviou uma tabela de tempos daquele ano. Na Standard corriam nada menos do que 31 karts.
O Roberto ficou de escrever algumas histórias e enviar mais fotos da época. Vamos aguardar.
Abaixo alguns registros da época que mostram a participação do Roberto no kart. Há o resultado de uma prova longa, os 200 km de Tarumã, na qual o Roberto e o Maciel correram juntos, chegando na sétima posição.
Fonte das imagens: arquivo Roberto Mantovani, Roberto Lacombe e Giancarlo Gasparotto.
Foi o próprio Roberto que entrou em contato com o blog, enviado duas imagens de 1981, ano em iniciou no kartismo. Sua carreira foi rápida, não passando de 82.
O Roberto hoje tem 49 anos e informou que frequenta o Tarumã desde os 12. Ele lembra que entrou no kart através da empresa Quimiogravura, serigrafia de Canoas que pertencia ao pai do então piloto de kart Fernando Maciel, grande amigo do Roberto, que mais tarde passou para os carros, vencendo inclusive uma 12 Horas de Tarumã em 1996. Roberto foi contratado para ser o segundo piloto da equipe nas provas dos campeonatos Citadito e Gaúcho daquele ano.
A imagem do Desafio era da final do Campeonato Citadino de 81. Ele lembra muito bem dos pilotos da época. "Só tinha fera. Alguns nomes da minha categoria (Standard) eram o próprio Fernando Maciel, Waldir Buneder, Alexandre Muller, Gerson Morsbacher, João Luis Casarin, André Rebechi, Roberto Schimitz entre outros. Sem falar em outros que apareciam às vezes quando tinham tempo(Bocão Pegoraro, meu ídolo) Neco Fornari, Luiz Fernando Cruz, Anor Friedrich..."
O Gian Gasparotto, que corria na Quarta Menor, entrou em contato e lembrou que ele e o Roberto correram juntos numa prova longa no final do ano. Ele disse que quase ganharam. O Gian aproveitou e enviou uma tabela de tempos daquele ano. Na Standard corriam nada menos do que 31 karts.
O Roberto ficou de escrever algumas histórias e enviar mais fotos da época. Vamos aguardar.
Abaixo alguns registros da época que mostram a participação do Roberto no kart. Há o resultado de uma prova longa, os 200 km de Tarumã, na qual o Roberto e o Maciel correram juntos, chegando na sétima posição.
Fonte das imagens: arquivo Roberto Mantovani, Roberto Lacombe e Giancarlo Gasparotto.
quarta-feira, 18 de maio de 2011
25 anos depois
Ao vê-los lado a lado, em frente à churrasqueira na última semana, imediatamente lembrei de um registro de 25 anos atrás, mostrando os dois "botas" Paulo Roberto Hoerlle e Antônio Miguel Fornari ainda sem os cabelos brancos, quando corriam no saudoso Campeonato Regional de Turismo.
Grandes figuras!
Fonte das imagens: revista Quatro Rodas e arquivo pessoal.
Grandes figuras!
Fonte das imagens: revista Quatro Rodas e arquivo pessoal.
terça-feira, 17 de maio de 2011
Brilhante trajetória como piloto
Na última quinta aconteceu a reunião dos Jurássicos, lá no Templo dos DKW's, do amigo Teodoro Janusz. Foi a primeira do ano que pude participar. Vinha aguardando essa data para poder rever os amigos, degustar a ótima culinária, ouvir boas histórias e tudo o mais.
Tratei de chegar cedo dessa vez para aproveitar ao máximo aquele tempo. Chegando lá, fui recebido pelo próprio Teodoro que mostrou seu mais novo projeto que está transformando o seu DKW #56 em uma réplica de um DKW que marcou época no automobilismo gaúcho. Mais para frente ele vai nos dar mais detalhes sobre o assunto.
Depois encontrei o Giordani e o "Chico" preparando o prato da noite: cordeiro mamão assado.
Uma "espiada" pelo local e encontro as camisas personalizadas da confraria que seriam entregues ao grupo e também um belo troféu que seria mais tarde entregue ao homenageado da noite, o Henrique Iwers. No troféu estava escrito: Henrique Iwers, pela brilhante trajetória como piloto, receba a homenagem dos Pilotos Jurássicos. 12 de Maio de 2011.
Tão logo as carnes estavam em ponto de bala, aguardando a chegada do assador oficial, Antônio Fornari, o Giordani presenteou o Teodoro com algumas relíquias, como por exemplo a sua carteira de sócio do Automóvel Clube do Rio Grande do Sul para ser incorporada à sua bela coleção.
Com a chegada do Fornari, a coisa esquentou para valer. O mesmo talento e competência que ele tem ao volante de um carro de competição é demonstrado sempre que ele está à frente daquela churrasqueira.
Enquanto isso eu ouvia histórias do Carlos Alberto Petry, dos tempos dos Passat da Divisão 1 em que ele e o Paulo Hoerlle competiam na mesma equipe. Histórias hilárias, algumas delas impublicáveis. As mais leves, deixarei para o próprio nos contar.
Daí chega o Amedeo Ferri e dê-lhe histórias da Fórmula Ford e depois o "Castrinho" lembrando do seu Fusca de corrida... Sensacional.
Depois de servidos os assados, o Giordani pediu a palavra e passou o troféu ao Iwers que agradeceu a homenagem. Na sequência vários assuntos foram discutidos, entre eles uma próxima andada no Velopark, Fórmula 1, entre outros. Sobre F1 a questão era o uso da asa móvel, onde alguns são a favor e outros contra. O Ronaldo Bitencourt fez uma ótima explanação sobre isso.
Daí chega o Ibraim Gonçalves com o Basílio Tarragô, sendo que o primeiro segurava um troféu. O Basílio falou que era a segunda vez que aquele momento acontecia. Feito o click, depois ele explicou. O troféu fora entregue a ele pelo Ibraim no dia 08 de Julho de 1979 quando Basílio venceu a prova das motos, categoria 50 cc Standard, em Tarumã. Muito bacana.
Bacana também a presença do Daniel Dias, especialista em automobilismo do jornal Zero Hora, que acompanhou toda a movimentação e ouviu todas as histórias, ficando até o final conversando com o grupo.
Foram ótimos momentos. Esses encontros são sempre inesquecíveis. Até o próximo!
Fonte das imagens: Francisco Feoli e Leandro Sanco.
Tratei de chegar cedo dessa vez para aproveitar ao máximo aquele tempo. Chegando lá, fui recebido pelo próprio Teodoro que mostrou seu mais novo projeto que está transformando o seu DKW #56 em uma réplica de um DKW que marcou época no automobilismo gaúcho. Mais para frente ele vai nos dar mais detalhes sobre o assunto.
Depois encontrei o Giordani e o "Chico" preparando o prato da noite: cordeiro mamão assado.
Uma "espiada" pelo local e encontro as camisas personalizadas da confraria que seriam entregues ao grupo e também um belo troféu que seria mais tarde entregue ao homenageado da noite, o Henrique Iwers. No troféu estava escrito: Henrique Iwers, pela brilhante trajetória como piloto, receba a homenagem dos Pilotos Jurássicos. 12 de Maio de 2011.
Tão logo as carnes estavam em ponto de bala, aguardando a chegada do assador oficial, Antônio Fornari, o Giordani presenteou o Teodoro com algumas relíquias, como por exemplo a sua carteira de sócio do Automóvel Clube do Rio Grande do Sul para ser incorporada à sua bela coleção.
Com a chegada do Fornari, a coisa esquentou para valer. O mesmo talento e competência que ele tem ao volante de um carro de competição é demonstrado sempre que ele está à frente daquela churrasqueira.
Enquanto isso eu ouvia histórias do Carlos Alberto Petry, dos tempos dos Passat da Divisão 1 em que ele e o Paulo Hoerlle competiam na mesma equipe. Histórias hilárias, algumas delas impublicáveis. As mais leves, deixarei para o próprio nos contar.
Daí chega o Amedeo Ferri e dê-lhe histórias da Fórmula Ford e depois o "Castrinho" lembrando do seu Fusca de corrida... Sensacional.
Depois de servidos os assados, o Giordani pediu a palavra e passou o troféu ao Iwers que agradeceu a homenagem. Na sequência vários assuntos foram discutidos, entre eles uma próxima andada no Velopark, Fórmula 1, entre outros. Sobre F1 a questão era o uso da asa móvel, onde alguns são a favor e outros contra. O Ronaldo Bitencourt fez uma ótima explanação sobre isso.
Daí chega o Ibraim Gonçalves com o Basílio Tarragô, sendo que o primeiro segurava um troféu. O Basílio falou que era a segunda vez que aquele momento acontecia. Feito o click, depois ele explicou. O troféu fora entregue a ele pelo Ibraim no dia 08 de Julho de 1979 quando Basílio venceu a prova das motos, categoria 50 cc Standard, em Tarumã. Muito bacana.
Bacana também a presença do Daniel Dias, especialista em automobilismo do jornal Zero Hora, que acompanhou toda a movimentação e ouviu todas as histórias, ficando até o final conversando com o grupo.
Foram ótimos momentos. Esses encontros são sempre inesquecíveis. Até o próximo!
Fonte das imagens: Francisco Feoli e Leandro Sanco.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Esse carro vai ser meu
Continuando com a história do Ayrton Brum nas pistas, hoje ele nos conta sobre seu retorno, no final de 1992.
"Com o anúncio na mão liguei para o João Silva em Montenegro, isso no final do mês de Outubro de 92. Ele me falou que estava liderando o campeonato com o Speed 11 e que dia 02 de Novembro teria uma prova em Tarumã e mais uma outra em Dezembro, também em Tarumã.
Dia dos Finados de 92, lá fui eu ao Tarumã e ao olhar o Fusca, já olhava com olhos de "ESSE CARRO VAI SER MEU", faceiro como uma criança, sentado no bando do carro.
Nessa prova o João andava disputando as primeiras posições e na Curva do Laço, levou uma "fechada" de dois carros, rodando e caindo para o fim do grid. Chegou ao box com a porta do piloto amassada e eu olhando o carro ainda falei a ele: "agora amassado" tens que baixar o preço.......e rimos juntos.
Na mesma semana fui até Montenegro e busquei meu "sonho".
Em Dezembro o João me liga e me diz: Brum, preciso do teu carro emprestado, pois tenho a última corrida e me faltam três pontos para sair Campeão. Te devolvo o Fusca como Campeão e com o número 1 de Campeão para correres o ano de 93 e te deixo um cheque com o valor do carro, caso aconteça alguma coisa com ele. De imediato respondi: MAS NEM PENSAR, não quero dinheiro nenhum, eu não quero é perder o meu carro, depois que eu vi o que fizeram contigo em Tarumã, imagina o que irão fazer com você e com meu carro na última prova!
Acho que foi a maior sacanagem que já fiz para alguém no automobilismo, pois o João pegou um outro carro emprestado, não conseguiu os três pontos, sofreu com o carro e ficou com o Vice Campeão.
Para o ano seguinte o João me indicou um preparador, o João Mascarello, de Viamão, que foi o meu primeiro preparador. Foi um ano de muito aprendizado, pois eu tinha certeza que agora sim eu tinha um carro, um grande preparador com nome nos Fuscas e muita experiência. Tudo agora era comigo. Tinha muito o que aprender e treinar. E aprender sozinho, pois eu tinha CIÚME de meu carro, e não deixava ninguém sentar o traseiro nele.
Na época o grid dos Fuscas era de 38 carros, chegando no ano de 95 a 42 carros.
Com muito treino na quinta corrida consegui meu primeiro troféu, que foi um décimo lugar, conquistado na última volta com uma ultrapassagem na Curva do Laço (o Fusca 35 desgarrou e eu o ultrapassei por dentro)".
Abaixo é possível ver o resultado da corrida na qual o Brum foi comprar o carro do João Silva. Nas imagens seguintes, aparece o carro com as cores originais. O preparador "Paulinho" Ferreira aparece numa delas, agachado, calibrando os pneus.
Fonte das imagens: arquivo Ayrton Brum.
"Com o anúncio na mão liguei para o João Silva em Montenegro, isso no final do mês de Outubro de 92. Ele me falou que estava liderando o campeonato com o Speed 11 e que dia 02 de Novembro teria uma prova em Tarumã e mais uma outra em Dezembro, também em Tarumã.
Dia dos Finados de 92, lá fui eu ao Tarumã e ao olhar o Fusca, já olhava com olhos de "ESSE CARRO VAI SER MEU", faceiro como uma criança, sentado no bando do carro.
Nessa prova o João andava disputando as primeiras posições e na Curva do Laço, levou uma "fechada" de dois carros, rodando e caindo para o fim do grid. Chegou ao box com a porta do piloto amassada e eu olhando o carro ainda falei a ele: "agora amassado" tens que baixar o preço.......e rimos juntos.
Na mesma semana fui até Montenegro e busquei meu "sonho".
Em Dezembro o João me liga e me diz: Brum, preciso do teu carro emprestado, pois tenho a última corrida e me faltam três pontos para sair Campeão. Te devolvo o Fusca como Campeão e com o número 1 de Campeão para correres o ano de 93 e te deixo um cheque com o valor do carro, caso aconteça alguma coisa com ele. De imediato respondi: MAS NEM PENSAR, não quero dinheiro nenhum, eu não quero é perder o meu carro, depois que eu vi o que fizeram contigo em Tarumã, imagina o que irão fazer com você e com meu carro na última prova!
Acho que foi a maior sacanagem que já fiz para alguém no automobilismo, pois o João pegou um outro carro emprestado, não conseguiu os três pontos, sofreu com o carro e ficou com o Vice Campeão.
Para o ano seguinte o João me indicou um preparador, o João Mascarello, de Viamão, que foi o meu primeiro preparador. Foi um ano de muito aprendizado, pois eu tinha certeza que agora sim eu tinha um carro, um grande preparador com nome nos Fuscas e muita experiência. Tudo agora era comigo. Tinha muito o que aprender e treinar. E aprender sozinho, pois eu tinha CIÚME de meu carro, e não deixava ninguém sentar o traseiro nele.
Na época o grid dos Fuscas era de 38 carros, chegando no ano de 95 a 42 carros.
Com muito treino na quinta corrida consegui meu primeiro troféu, que foi um décimo lugar, conquistado na última volta com uma ultrapassagem na Curva do Laço (o Fusca 35 desgarrou e eu o ultrapassei por dentro)".
Abaixo é possível ver o resultado da corrida na qual o Brum foi comprar o carro do João Silva. Nas imagens seguintes, aparece o carro com as cores originais. O preparador "Paulinho" Ferreira aparece numa delas, agachado, calibrando os pneus.
Fonte das imagens: arquivo Ayrton Brum.
domingo, 15 de maio de 2011
Desafio da Semana
sábado, 14 de maio de 2011
12 Horas de Tarumã - 1989
O Marcos Luz foi quem chegou mais perto da resposta do último Desafio. Era mesmo o Opala dos irmãos Paulo e Patrícia de Souza, vencedores das 12 Horas de Tarumã de 1989. Só faltou incluir o Luiz Gustavo Lazzari, que fechou o trio vencedor.
Quem enviou o registro foi o Muriel Hirschmann, fã das corridas que desde que se conhece por gente acompanha o automobilismo, levado pelo pai no trailer da família.
Abaixo mais alguns registros daquela prova, que teve preliminar de motos e Speed 1600. Nos Speeds é possível ver o "Guto Furst", Carlos Castro, André Senger, Luciano Fossá, Urbano da Silva, "Paulinho" dos Santos, Ronaldo Bartelle e o resto. Antes disso observem que há algumas imagens de um treino das 12 Horas, provavelmente. Vejam que não há público e a sombra indica que seja um final de tarde.
Alguém aí, além do Muriel, esteve naquela prova? Se sim, que conte aqui o que lembra.
Fonte das imagens: arquivo Muriel Hirschmann.
Quem enviou o registro foi o Muriel Hirschmann, fã das corridas que desde que se conhece por gente acompanha o automobilismo, levado pelo pai no trailer da família.
Abaixo mais alguns registros daquela prova, que teve preliminar de motos e Speed 1600. Nos Speeds é possível ver o "Guto Furst", Carlos Castro, André Senger, Luciano Fossá, Urbano da Silva, "Paulinho" dos Santos, Ronaldo Bartelle e o resto. Antes disso observem que há algumas imagens de um treino das 12 Horas, provavelmente. Vejam que não há público e a sombra indica que seja um final de tarde.
Alguém aí, além do Muriel, esteve naquela prova? Se sim, que conte aqui o que lembra.
Fonte das imagens: arquivo Muriel Hirschmann.
terça-feira, 10 de maio de 2011
Desafio do meio da semana
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Difícil começo
Hoje o Ayrton Brum nos traz a continuação da sua história no automobilismo, dando detalhes da montagem do seu primeiro Fusca de corrida, em 1989, as dificuldades enfrentadas e a necessidade de interromper seu sonho. Muito bacana.
"A montagem do 77 foi uma fase muito complicada, a mais dura e cansativa na minha carreira, pois a grana era muito curta, mas o sonho era muito longo.
O meu conhecimento de carro de Corrida era zero, entendia o básico de carro de rua, mas quanto a corridas, era menos que zero.
Embora sonhasse todos os dias com carros de corrida, cometi o erro de nunca procurar me informar e conviver com pessoas envolvidas com corrida. Eu era completamente desinformado em montagem de carro de carro de competição, apenas tinha era muita vontade de correr e achava que isso bastava.
O primeiro passo era comprar um carro. Encontrei uma Fusca de rua de um mecânico chamado Renato, que tinha uma pequena oficina na Av. Érico Veríssimo, quase esquina com a Ipiranga. O nome da oficina era Multi Serviços.
Com o Fusca comprado eu não tinha um carro de passeio para andar na rua, andava de ônibus para poder ir trabalhar, mas o mais importante para mim era ter meu carro de corrida e assim pegava o ônibus e ia procurar alguma oficina que arrumasse o meu carro.
Tinha uns amigos que rebocavam meu carro para levar de oficina em oficina, e "implorar" que preparasse meu carro para que eu pudesse realizar meu sonho, mas com um "pequeno detalhezinho": tinha de ser de graça, pois eu não tinha grana. Cansava de sair do serviço e ir nas oficinas e ao chegar lá, a decepção, o carro estava do mesmo jeito que deixava a dias dias atrás. Tristeza, decepção e raiva era o máximo que conseguia nessas oficinas.
Um dia lembrei do mecânico que me vendeu o carro e fui na oficina dele ver se ele "terminava" meu carro para que eu pudesse correr e ele concordou. Foi o primeiro que estendeu a mão para mim e não me enrolou, apenas me falou que não entendia nada de preparação para corrida. Lembro que comentei com ele: você entende de carro de rua, me serve, vamos lá. Combinamos de depois do expediente dele eu saia do meu serviço e ia na oficina dele e trabalhávamos até a meia noite. Comia um xisburguer, horrível, em pé, em um trailer que tinha na própria Érico Veríssimo. Levava um outro pro meu amigo e começávamos a "mexer" no carro, sempre com o regulamento preso na parede de madeira da oficina.
Muitas vezes um ia ler o regulamento e não entendia, chamava o outro e também não entendia, riamos e fazíamos da maneira que achávamos que era, e lembro que uma
vez ainda comentei com ele: Renato, vamos fazer como entendemos, ninguém é louco, tu achas que vão protestar meu carro e abrir o meu motor??? Assim conseguimos deixar o 77 mais ou menos parecido com carro de corrida. E lá fomos para a primeira corrida, no peito e cheio de orgulho.
Ao chegar, o pessoal olhava meio estranho pro meu carro, não sei se era porque meu carro era o único que tinha forração no teto, ou se era pela minha suspensão, completamente retinha, sem cambagem nenhuma nas rodas dianteiras e a traseira bem alta.
Eu não cheguei a ver, mas eu acho que quando passei na reta na primeira volta com chuva, todo mundo deve ter ido para a mureta ver como eu ia fazer a Curva 1. A minha sorte era que meu motor não empurrava nada, era um motor de rua, piorado.
No sábado, para tomada de tempo, chuva, dia escuro, perfeito para quem era piloto experiente. Não tem nada, vamos lá, eu nem sabia como era o ritual pra entrar na pista para tomada de tempo, não sabia se era por ordem de número do carro, ou inscrição. Resolvi seguir o carro que ia na minha frente e fui... Entrei na pista e a chuva caindo.
Nunca tinha andado na pista de Tarumã, pois o meu curso de pilotagem foi em Guaporé. A parte que se enxerga da arquibancada tudo bem, mas eu não entendia e não sabia como era a pista ali na Curva 9, pois nunca tinha visto ali pelo kartódromo. Esse foi meu primeiro contato com a pista de Tarumã.
Na segunda prova eu não fiz tomada de tempo no sábado, nem fomos para o autódromo, pois tinha coisas para fazer no carro.
Nessa época corria o "Guto Furst", com o Fusca 40 da Parks e quem preparava o carro era o Paulo Ferreira da Mecânica MC na Aparício Borges e o Guto morava na Av. Érico Veríssimo, a uma quadra da oficina onde eu o Renato trabalhávamos no 77.
O Paulinho Ferreira, anos depois, veio a preparar o Speed 11 e foi com quem obtive os melhores resultados e bons resultados também tive com meu outro preparador do Speed 11, que foi o João Mascarelo de Viamão. Esses foram meus dois únicos preparadores.
O Paulinho entrou na oficina umas 9 horas da noite, conversou com a gente, comentou que tinha feito a pole, deu umas dicas para nós e foi embora, dizendo que esperava nos ver no dia seguinte em Tarumã. No dia seguinte lá estava eu, chegando com o carro rebocado pelos amigos e perguntando quem era o último colocado e que eu iria largar atrás dele, pois não tinha feito tempo no sábado.
Assim foram três provas, com um carro completamente torto das porradas que levou na rua.
A minha esposa começo a me cobrar, que morávamos em um apartamento que não estava pago, e que se me acontecesse alguma coisa, ela não iria ficar bem.
Fui na garagem onde guardava o 77 e fiquei olhando para ele, e pensando...putz cara, minha esposa tem razão, vou ter que vender você, mas não cometerei o erro
de comprar um carro de rua todo ruim, vou comprar um carro já pronto, andando, de preferência de ponta.
Resolvi vender o Fusca, coloquei um cartaz no mural da FGA, pedi Cr$ 5.000,00, e pensei que não conseguiria vender por esse preço, um carro sem história no
automobilismo, mas coloquei lá. Em poucos dias apareceu um pessoal de Santa Cruz do Sul que queria para Arrancada, gostaram, e levaram o 77.
Senti como se estivesse vendendo meu próprio filho. Fechei o portão da garagem e não olhei para trás, não quis ver levarem meu filho, feito com tanto
carinho, mas ao mesmo tempo sabia que com ele não conseguiria resultados.
Em 1992 comprei minha casa, onde moro ainda hoje, e disse a minha esposa: pronto, aí está a casa que você queria, está paga, agora vou tratar de voltar a correr... Ela apenas comentou: meu Deus, vai começar tudo de novo... Eu disse: não, agora vai ser diferente, não cometerei os erros que cometi com o 77.
Passei longos dois anos e alguns meses sonhando novamente todos os dias com meu retorno às pistas, mas com uma mentalidade e conhecimento muito diferente.
Olhando os classificados, na parte de Fuscas, em Outubro de 1992, vejo o seguinte anúncio: VENDO FUSCA DE COMPETIÇÃO, SPEED 11, tratar com JOÃO SILVA. Meu Deus, era tudo o que queria encontrar no jornal".
Abaixo alguns registros daquelas três primeiras provas em 89.
Sobre as imagens acima ele ainda lembra de alguns detalhes, como a aquela em que ele está alinhado no grid, pronto para a primeira corrida. A luva foi comprada em uma loja de material esportivo, era de goleiro (!). O macacão foi feito por uma parente e tinha quase o mesmo peso do piloto. O único patrocínio era o da oficina do amigo Renato, a Multi Serviços. Brum ainda lembra do seu pensamento no momento daquela foto: sonho realizado aos 30 anos de idade...
Na foto em que mostra o painel do 77 ele lembra que o painel em que estavam o conta giros e o da pressão de óleo foi feito do fundo de uma lata de thinner, cortado na diagonal.
Na primeira foto em que ele aparece limpado o carro, aparece ao fundo o Fusca amarelo do "Guto Furst" e o seu preparador, o Paulinho Ferreira, que mais tarde veio a ser o preparador do Speed 11 do Brum. Sobre isso, ele nos traz mais detalhes.
"Ele foi meu preparador, meu pai, meu amigo. Quando ele foi preparar o meu Speed 11 ele me disse: Brum, vou te ajudar e preparar teu carro, pois tinha muita pena de você, pois via teu sofrimento com aquele Fusca 77, completamente errado. Várias vezes te vi aqui na oficina sentado no carro do Guto sonhando.
Depois que parei de correr, todos os anos eu ia em sua casa no dia 31 de Dezembro dar um abraço e um beijo na única pessoa que me ajudou no automobilismo. Sempre que voltava a sonhar em pilotar, pensava no meu "Velho", que era como eu o chamava, para preparar meu carro novamente. E eu sentia que seus olhos brilhavam quando eu falava em voltar a pilotar.
"A montagem do 77 foi uma fase muito complicada, a mais dura e cansativa na minha carreira, pois a grana era muito curta, mas o sonho era muito longo.
O meu conhecimento de carro de Corrida era zero, entendia o básico de carro de rua, mas quanto a corridas, era menos que zero.
Embora sonhasse todos os dias com carros de corrida, cometi o erro de nunca procurar me informar e conviver com pessoas envolvidas com corrida. Eu era completamente desinformado em montagem de carro de carro de competição, apenas tinha era muita vontade de correr e achava que isso bastava.
O primeiro passo era comprar um carro. Encontrei uma Fusca de rua de um mecânico chamado Renato, que tinha uma pequena oficina na Av. Érico Veríssimo, quase esquina com a Ipiranga. O nome da oficina era Multi Serviços.
Com o Fusca comprado eu não tinha um carro de passeio para andar na rua, andava de ônibus para poder ir trabalhar, mas o mais importante para mim era ter meu carro de corrida e assim pegava o ônibus e ia procurar alguma oficina que arrumasse o meu carro.
Tinha uns amigos que rebocavam meu carro para levar de oficina em oficina, e "implorar" que preparasse meu carro para que eu pudesse realizar meu sonho, mas com um "pequeno detalhezinho": tinha de ser de graça, pois eu não tinha grana. Cansava de sair do serviço e ir nas oficinas e ao chegar lá, a decepção, o carro estava do mesmo jeito que deixava a dias dias atrás. Tristeza, decepção e raiva era o máximo que conseguia nessas oficinas.
Um dia lembrei do mecânico que me vendeu o carro e fui na oficina dele ver se ele "terminava" meu carro para que eu pudesse correr e ele concordou. Foi o primeiro que estendeu a mão para mim e não me enrolou, apenas me falou que não entendia nada de preparação para corrida. Lembro que comentei com ele: você entende de carro de rua, me serve, vamos lá. Combinamos de depois do expediente dele eu saia do meu serviço e ia na oficina dele e trabalhávamos até a meia noite. Comia um xisburguer, horrível, em pé, em um trailer que tinha na própria Érico Veríssimo. Levava um outro pro meu amigo e começávamos a "mexer" no carro, sempre com o regulamento preso na parede de madeira da oficina.
Muitas vezes um ia ler o regulamento e não entendia, chamava o outro e também não entendia, riamos e fazíamos da maneira que achávamos que era, e lembro que uma
vez ainda comentei com ele: Renato, vamos fazer como entendemos, ninguém é louco, tu achas que vão protestar meu carro e abrir o meu motor??? Assim conseguimos deixar o 77 mais ou menos parecido com carro de corrida. E lá fomos para a primeira corrida, no peito e cheio de orgulho.
Ao chegar, o pessoal olhava meio estranho pro meu carro, não sei se era porque meu carro era o único que tinha forração no teto, ou se era pela minha suspensão, completamente retinha, sem cambagem nenhuma nas rodas dianteiras e a traseira bem alta.
Eu não cheguei a ver, mas eu acho que quando passei na reta na primeira volta com chuva, todo mundo deve ter ido para a mureta ver como eu ia fazer a Curva 1. A minha sorte era que meu motor não empurrava nada, era um motor de rua, piorado.
No sábado, para tomada de tempo, chuva, dia escuro, perfeito para quem era piloto experiente. Não tem nada, vamos lá, eu nem sabia como era o ritual pra entrar na pista para tomada de tempo, não sabia se era por ordem de número do carro, ou inscrição. Resolvi seguir o carro que ia na minha frente e fui... Entrei na pista e a chuva caindo.
Nunca tinha andado na pista de Tarumã, pois o meu curso de pilotagem foi em Guaporé. A parte que se enxerga da arquibancada tudo bem, mas eu não entendia e não sabia como era a pista ali na Curva 9, pois nunca tinha visto ali pelo kartódromo. Esse foi meu primeiro contato com a pista de Tarumã.
Na segunda prova eu não fiz tomada de tempo no sábado, nem fomos para o autódromo, pois tinha coisas para fazer no carro.
Nessa época corria o "Guto Furst", com o Fusca 40 da Parks e quem preparava o carro era o Paulo Ferreira da Mecânica MC na Aparício Borges e o Guto morava na Av. Érico Veríssimo, a uma quadra da oficina onde eu o Renato trabalhávamos no 77.
O Paulinho Ferreira, anos depois, veio a preparar o Speed 11 e foi com quem obtive os melhores resultados e bons resultados também tive com meu outro preparador do Speed 11, que foi o João Mascarelo de Viamão. Esses foram meus dois únicos preparadores.
O Paulinho entrou na oficina umas 9 horas da noite, conversou com a gente, comentou que tinha feito a pole, deu umas dicas para nós e foi embora, dizendo que esperava nos ver no dia seguinte em Tarumã. No dia seguinte lá estava eu, chegando com o carro rebocado pelos amigos e perguntando quem era o último colocado e que eu iria largar atrás dele, pois não tinha feito tempo no sábado.
Assim foram três provas, com um carro completamente torto das porradas que levou na rua.
A minha esposa começo a me cobrar, que morávamos em um apartamento que não estava pago, e que se me acontecesse alguma coisa, ela não iria ficar bem.
Fui na garagem onde guardava o 77 e fiquei olhando para ele, e pensando...putz cara, minha esposa tem razão, vou ter que vender você, mas não cometerei o erro
de comprar um carro de rua todo ruim, vou comprar um carro já pronto, andando, de preferência de ponta.
Resolvi vender o Fusca, coloquei um cartaz no mural da FGA, pedi Cr$ 5.000,00, e pensei que não conseguiria vender por esse preço, um carro sem história no
automobilismo, mas coloquei lá. Em poucos dias apareceu um pessoal de Santa Cruz do Sul que queria para Arrancada, gostaram, e levaram o 77.
Senti como se estivesse vendendo meu próprio filho. Fechei o portão da garagem e não olhei para trás, não quis ver levarem meu filho, feito com tanto
carinho, mas ao mesmo tempo sabia que com ele não conseguiria resultados.
Em 1992 comprei minha casa, onde moro ainda hoje, e disse a minha esposa: pronto, aí está a casa que você queria, está paga, agora vou tratar de voltar a correr... Ela apenas comentou: meu Deus, vai começar tudo de novo... Eu disse: não, agora vai ser diferente, não cometerei os erros que cometi com o 77.
Passei longos dois anos e alguns meses sonhando novamente todos os dias com meu retorno às pistas, mas com uma mentalidade e conhecimento muito diferente.
Olhando os classificados, na parte de Fuscas, em Outubro de 1992, vejo o seguinte anúncio: VENDO FUSCA DE COMPETIÇÃO, SPEED 11, tratar com JOÃO SILVA. Meu Deus, era tudo o que queria encontrar no jornal".
Abaixo alguns registros daquelas três primeiras provas em 89.
Sobre as imagens acima ele ainda lembra de alguns detalhes, como a aquela em que ele está alinhado no grid, pronto para a primeira corrida. A luva foi comprada em uma loja de material esportivo, era de goleiro (!). O macacão foi feito por uma parente e tinha quase o mesmo peso do piloto. O único patrocínio era o da oficina do amigo Renato, a Multi Serviços. Brum ainda lembra do seu pensamento no momento daquela foto: sonho realizado aos 30 anos de idade...
Na foto em que mostra o painel do 77 ele lembra que o painel em que estavam o conta giros e o da pressão de óleo foi feito do fundo de uma lata de thinner, cortado na diagonal.
Na primeira foto em que ele aparece limpado o carro, aparece ao fundo o Fusca amarelo do "Guto Furst" e o seu preparador, o Paulinho Ferreira, que mais tarde veio a ser o preparador do Speed 11 do Brum. Sobre isso, ele nos traz mais detalhes.
"Ele foi meu preparador, meu pai, meu amigo. Quando ele foi preparar o meu Speed 11 ele me disse: Brum, vou te ajudar e preparar teu carro, pois tinha muita pena de você, pois via teu sofrimento com aquele Fusca 77, completamente errado. Várias vezes te vi aqui na oficina sentado no carro do Guto sonhando.
Depois que parei de correr, todos os anos eu ia em sua casa no dia 31 de Dezembro dar um abraço e um beijo na única pessoa que me ajudou no automobilismo. Sempre que voltava a sonhar em pilotar, pensava no meu "Velho", que era como eu o chamava, para preparar meu carro novamente. E eu sentia que seus olhos brilhavam quando eu falava em voltar a pilotar.
Nesse ano de 2010, no dia 31 de Dezembro encontrei sua oficina fechada. Pensei que ele estava na praia. Retornei dia 5 de Janeiro para cumprir meu ritual de todos os anos e dar meu abraço e meu beijo no meu pai no automobilismo. Uma vizinha me falou que ele faleceu em Setembro de 2010".
Fonte das imagens: arquivo Ayrton Brum.
domingo, 8 de maio de 2011
Desafio da Semana
sábado, 7 de maio de 2011
O sonho de um garotinho de 7 anos de idade
O último Desafio trouxe uma imagem de uma prova que foi um marco na história do automobilismo gaúcho. Ela mostrava o grid de largada da primeira prova da então chamada Standard 1600, que depois seria chamada de Speed 1600, a categoria dos Fusquinhas, que teve início em meados de 1988 em Tarumã. Em destaque aparecia o #27 do piloto de Giruá, Licínio de Oliveira Neto que foi o pole e o vencedor daquela primeira prova.
Quem enviou o registro foi o piloto Ayrton Brum, que competiu na categoria entre 1989 e 1998. Ele mesmo fez as fotos, acompanhando toda a movimentação de perto, pois seu objetivo era competir na categoria. Ele lembra que acompanhou inclusive a vistoria técnica feita no carro do vencedor (Licínio), pois já queria entrar com seu carro sem problemas nas vistorias. Aproveito para publicar uma feita por mim, ao final da bateria daquela primeira prova. É a última desta sequência.
O Brum me enviou a história dele, contando como surgiu o sonho de pilotar e detalhes de seu primeiro contato com o automobilismo, na escola de pilotagem em 1987. É muito bacana e vale a pena a leitura. Acelera, Ayrton Brum!!!
"Nasci na cidade de Uruguaiana, logo após o natal de 1957, uma cidade do interior do RS, onde não há e nunca houve um autódromo ou qualquer tipo de corrida.
O máximo em relação a carros e competição que apareceu na cidade, na década de 60, eram os Fuscas da equipe "J. CARDOSO" que na época faziam demonstrações de Cavalo de Pau e andar com os carros em 2 rodas.
Nessa década de 60 eu ficava maravilhado olhando os jornais da época falando nas corridas de Mil Milhas e as tradicionais provas no Circuito da Cavalhada e Pedra Redonda, que eu nem imaginava que nos dias de hoje viria a morar justamente na zona sul da capital.
Já na década de 70, logo no início, ficava maravilhado com os carros de corrida, os quais hoje mato a saudade vendo as mesmas fotos em teu blog. Eram Simcas, Fuscas, Opalas e outros.
O dia em que o Pedro Carneiro Pereira faleceu eu ainda morava em Uruguaiana e na casa de minha avó escutava o jogo da dupla Grenal naquele Domingo.
Ouvi a notícia da morte daquele grande piloto e com uma mistura de tristeza, fiz um juramento a mim mesmo: um dia irei correr nesse tal Autódromo de Tarumã. Falei essa frase a mim mesmo e até hoje não sei se foi um juramento, um pedido, ou um conforto ao Pedro, e não tinha a mínima ideia de onde ficava Tarumã. Obs: a minha corrida de despedida, as 12 Horas de 1998, levou o nome de Pedro Carneiro Pereira. Esse troféu é muito especial para mim.
Os anos se passaram e todos os dias eu sonhava, literalmente, TODOS os dias eu imaginava como seria pilotar um carro de corrida.
A vida passou, vim morar em Porto Alegre, e o sonho cada vez mais me incomodando.
Sempre lendo matérias de automobilismo nos jornais, lembro que na década de 70 ou 80 o Cláudio Mueller estava com uma escolinha de pilotagem e lá fui eu me informar. Se não me engano, o escritório dele era na Correia Lima esquina com a José de Alencar. Mas o curso era muito caro para mim.
Continuei sempre acompanhando notícias de carros de corrida, e sempre esperando uma luz, um sinal, alguma coisa no jornal que me levasse a correr.
Em Junho de 1987 achei no jornal o que eu procurava há mais de 20 anos: a Escola de Pilotagem Interlagos viria à Guaporé dar um curso (caríssimo para minhas condições) de uma semana, no final de Agosto de 1987, mas era agora ou nunca. Juntei o dinheiro que pude e fui me inscrever. Lembro que foi em um escritório de uma pessoa na Rua Cipó. Tenho ainda o recibo de minha inscrição.
O Toninho de Souza, que era o organizador da F3 Sulamericana na época, era o Dono da Escola. Nesse curso vi a oportunidade que esperava desde os meus 7 anos de idade.
O curso de pilotagem seria ministrado na última semana de Agosto de 1987, em Guaporé, com as seguintes características:
- Quatro carros Gol, motor 1.6, com dois bancos de competição (aluno + instrutor);
- Aulas teóricas e práticas;
- Prova final do dia 30/08/87;
- Somente conseguiria aprovação quem obtivesse um tempo mínimo cronometrado;
- O certificado daria direito a encaminhar a carteira de piloto junto à FGA e CBA.
A aula teórica, dada em um dia, consistia dos seguintes módulos (no restaurante do Radiador):
- Regulamento FIA;
- Montagem do carro;
- Bandeiras;
- Marketing para buscar patrocínio;
- Dicas de pilotagem - Traçado, Punta-Taco, leitura de relógios, etc.
A nota mínima para aprovação era 7.
A aula prática acompanhado do instrutor seria dada em um dia. O instrutor ficava sentado ao lado com uma planilha (parecia auto escola) anotando tudo. Verificava se você fazia o Punta Taco, se ficava com o pé na embreagem ou a mão no câmbio.
As aulas práticas sozinho eram em dois dias. Os instrutores ficavam nas curvas avaliando.
Havia por fim uma prova prática cronometrada, com tempo mínimo a ser determinado.
Para baratear o custo com o Hotel Topo Gigio, a organização do curso reservou os apartamentos com dois alunos por quarto.
Eu fui, pela ansiedade de fazer o curso, o primeiro a chegar à Guaporé e a me instalar no hotel, pois cheguei com um dia de antecedência.
O segundo aluno a chegar foi o Luiz Afonso Schiafino, nos apresentamos, conversamos junto à janela do quarto e ele me falou que tinha ganho o curso por responder a uma rádio, algumas perguntas sobre a Fórmula 1. Brincando com ele, lembro que comentei: Pô cara, que sorte você teve, eu tive que pagar uma grana pelo curso.
Eu já estava preparado para esse curso há 20 anos. Levei meu capacete, minhas luvas, e ele me disse que não tinha trazido nada, pois não sabia que tinha que levar esse material. Eu disse que ele podia usar o meu capacete, que como eram quatro carros, enquanto um fazia a aula (usando o capacete) o outro ficava de fora batendo fotos.
Fizemos uma amizade muito boa, pois o sonho, era o mesmo. À noite estudávamos as bandeiras e toda a parte teórica do curso, pois teria a prova da parte teórica. Combinamos montar um carro para corrermos os dois juntos, ele venderia o Kart que ele tinha, para entrar com a parte dele.
O Luiz Afonso é um que aparece nas fotos de cabeça baixa, com uma jaqueta marrom.
Não tenho mais fotos dele, pois depois do acidente que ele sofreu, dei de presente todas as fotos do curso que tinha dele.
Fizemos o curso e a prova final foi no domingo, dia 30 de Agosto de 1987. No retorno do autódromo ofereci carona de volta a Porto Alegre para o Luiz Afonso.
Alguns alunos não conseguiram aprovação e na alegria e euforia de ter sido aprovado no curso, fui ligar para minha esposa que tinha ficado em Farroupilha e avisei ao Luiz Afonso que teria que passar em Farroupilha para pegar ela e ele me disse que tudo bem, iria comigo.
Enquanto ligava para minha esposa ele consegui carona no Chevette com motor de Opala, que estava com alguns dos instrutores. Na correria para pegar a carona, ele se despediu de mim e me disse que iria no Chevette, pois eles desceriam direto até Porto Alegre, e que me ligaria para combinarmos a montagem do nosso carro.
Um outro aluno, o Waldemar Max, também pediu para ir de carona no carro, mas o dono do carro não queria levar quatro pessoas e o Waldemar ficou de fora.
De volta a Porto Alegre, na segunda-feira logo pela manhã, abro o jornal Zero Hora, e vejo na capa a notícia "Tragédia com Alunos do Curso de Pilotagem na Volta de Guaporé". No jornal aparecia foto de um corpo coberto na beira da estrada, era do instrutor que se chamava Ricardo Lima, ele aparece nas fotos de abrigo azul ao lado do carro da escola e me falaram que ele era um dos donos da Sulcolor. Eu fui o último aluno que ele passou seu conhecimento, pois fiquei na última turma dele, e fui o último aluno que andou com ele no carro, depois nós andamos sem instrutor. Ele tinha deixado a empresa para ensinar o que mais gostava.
No acidente, o Luiz Afonso foi levado para o Hospital em coma irreversível. O instrutor que dirigia o Chevette sobreviveu. Encontrei ele em Tarumã, anos depois. O amigo Luiz Afonso ainda resistiu sete dias e faleceu dia 7 de Setembro de 87.
Passado uns seis meses, me procuram em casa, a irmã e a noiva do Luiz Afonso. Não sei como sabiam que eu tinha feito o curso com ele, e nem como descobriram meu endereço. Selecionei todas as fotos que tinha do meu amigo e dei de presente aos familiares dele.
Alguns alunos do curso: Ayrton Brum, Licínio de Oliveira Neto (conhecido como Giruá), o preparador do Licínio, o Waldemar Max (correu comigo as 12 Horas de 1998 e escapou do acidente por não ter lugar no carro), José Bergamini. Os outros alunos não encontrei mais, e nem tive conhecimento se chegaram a pilotar".
O Ayrton Brum vai continuar a nos contar sua história no automobilismo. Aguardem.
Fonte das imagens: arquivo Ayrton Brum e arquivo pessoal.
Quem enviou o registro foi o piloto Ayrton Brum, que competiu na categoria entre 1989 e 1998. Ele mesmo fez as fotos, acompanhando toda a movimentação de perto, pois seu objetivo era competir na categoria. Ele lembra que acompanhou inclusive a vistoria técnica feita no carro do vencedor (Licínio), pois já queria entrar com seu carro sem problemas nas vistorias. Aproveito para publicar uma feita por mim, ao final da bateria daquela primeira prova. É a última desta sequência.
O Brum me enviou a história dele, contando como surgiu o sonho de pilotar e detalhes de seu primeiro contato com o automobilismo, na escola de pilotagem em 1987. É muito bacana e vale a pena a leitura. Acelera, Ayrton Brum!!!
"Nasci na cidade de Uruguaiana, logo após o natal de 1957, uma cidade do interior do RS, onde não há e nunca houve um autódromo ou qualquer tipo de corrida.
O máximo em relação a carros e competição que apareceu na cidade, na década de 60, eram os Fuscas da equipe "J. CARDOSO" que na época faziam demonstrações de Cavalo de Pau e andar com os carros em 2 rodas.
Nessa década de 60 eu ficava maravilhado olhando os jornais da época falando nas corridas de Mil Milhas e as tradicionais provas no Circuito da Cavalhada e Pedra Redonda, que eu nem imaginava que nos dias de hoje viria a morar justamente na zona sul da capital.
Já na década de 70, logo no início, ficava maravilhado com os carros de corrida, os quais hoje mato a saudade vendo as mesmas fotos em teu blog. Eram Simcas, Fuscas, Opalas e outros.
O dia em que o Pedro Carneiro Pereira faleceu eu ainda morava em Uruguaiana e na casa de minha avó escutava o jogo da dupla Grenal naquele Domingo.
Ouvi a notícia da morte daquele grande piloto e com uma mistura de tristeza, fiz um juramento a mim mesmo: um dia irei correr nesse tal Autódromo de Tarumã. Falei essa frase a mim mesmo e até hoje não sei se foi um juramento, um pedido, ou um conforto ao Pedro, e não tinha a mínima ideia de onde ficava Tarumã. Obs: a minha corrida de despedida, as 12 Horas de 1998, levou o nome de Pedro Carneiro Pereira. Esse troféu é muito especial para mim.
Os anos se passaram e todos os dias eu sonhava, literalmente, TODOS os dias eu imaginava como seria pilotar um carro de corrida.
A vida passou, vim morar em Porto Alegre, e o sonho cada vez mais me incomodando.
Sempre lendo matérias de automobilismo nos jornais, lembro que na década de 70 ou 80 o Cláudio Mueller estava com uma escolinha de pilotagem e lá fui eu me informar. Se não me engano, o escritório dele era na Correia Lima esquina com a José de Alencar. Mas o curso era muito caro para mim.
Continuei sempre acompanhando notícias de carros de corrida, e sempre esperando uma luz, um sinal, alguma coisa no jornal que me levasse a correr.
Em Junho de 1987 achei no jornal o que eu procurava há mais de 20 anos: a Escola de Pilotagem Interlagos viria à Guaporé dar um curso (caríssimo para minhas condições) de uma semana, no final de Agosto de 1987, mas era agora ou nunca. Juntei o dinheiro que pude e fui me inscrever. Lembro que foi em um escritório de uma pessoa na Rua Cipó. Tenho ainda o recibo de minha inscrição.
O Toninho de Souza, que era o organizador da F3 Sulamericana na época, era o Dono da Escola. Nesse curso vi a oportunidade que esperava desde os meus 7 anos de idade.
O curso de pilotagem seria ministrado na última semana de Agosto de 1987, em Guaporé, com as seguintes características:
- Quatro carros Gol, motor 1.6, com dois bancos de competição (aluno + instrutor);
- Aulas teóricas e práticas;
- Prova final do dia 30/08/87;
- Somente conseguiria aprovação quem obtivesse um tempo mínimo cronometrado;
- O certificado daria direito a encaminhar a carteira de piloto junto à FGA e CBA.
A aula teórica, dada em um dia, consistia dos seguintes módulos (no restaurante do Radiador):
- Regulamento FIA;
- Montagem do carro;
- Bandeiras;
- Marketing para buscar patrocínio;
- Dicas de pilotagem - Traçado, Punta-Taco, leitura de relógios, etc.
A nota mínima para aprovação era 7.
A aula prática acompanhado do instrutor seria dada em um dia. O instrutor ficava sentado ao lado com uma planilha (parecia auto escola) anotando tudo. Verificava se você fazia o Punta Taco, se ficava com o pé na embreagem ou a mão no câmbio.
As aulas práticas sozinho eram em dois dias. Os instrutores ficavam nas curvas avaliando.
Havia por fim uma prova prática cronometrada, com tempo mínimo a ser determinado.
Para baratear o custo com o Hotel Topo Gigio, a organização do curso reservou os apartamentos com dois alunos por quarto.
Eu fui, pela ansiedade de fazer o curso, o primeiro a chegar à Guaporé e a me instalar no hotel, pois cheguei com um dia de antecedência.
O segundo aluno a chegar foi o Luiz Afonso Schiafino, nos apresentamos, conversamos junto à janela do quarto e ele me falou que tinha ganho o curso por responder a uma rádio, algumas perguntas sobre a Fórmula 1. Brincando com ele, lembro que comentei: Pô cara, que sorte você teve, eu tive que pagar uma grana pelo curso.
Eu já estava preparado para esse curso há 20 anos. Levei meu capacete, minhas luvas, e ele me disse que não tinha trazido nada, pois não sabia que tinha que levar esse material. Eu disse que ele podia usar o meu capacete, que como eram quatro carros, enquanto um fazia a aula (usando o capacete) o outro ficava de fora batendo fotos.
Fizemos uma amizade muito boa, pois o sonho, era o mesmo. À noite estudávamos as bandeiras e toda a parte teórica do curso, pois teria a prova da parte teórica. Combinamos montar um carro para corrermos os dois juntos, ele venderia o Kart que ele tinha, para entrar com a parte dele.
O Luiz Afonso é um que aparece nas fotos de cabeça baixa, com uma jaqueta marrom.
Não tenho mais fotos dele, pois depois do acidente que ele sofreu, dei de presente todas as fotos do curso que tinha dele.
Fizemos o curso e a prova final foi no domingo, dia 30 de Agosto de 1987. No retorno do autódromo ofereci carona de volta a Porto Alegre para o Luiz Afonso.
Alguns alunos não conseguiram aprovação e na alegria e euforia de ter sido aprovado no curso, fui ligar para minha esposa que tinha ficado em Farroupilha e avisei ao Luiz Afonso que teria que passar em Farroupilha para pegar ela e ele me disse que tudo bem, iria comigo.
Enquanto ligava para minha esposa ele consegui carona no Chevette com motor de Opala, que estava com alguns dos instrutores. Na correria para pegar a carona, ele se despediu de mim e me disse que iria no Chevette, pois eles desceriam direto até Porto Alegre, e que me ligaria para combinarmos a montagem do nosso carro.
Um outro aluno, o Waldemar Max, também pediu para ir de carona no carro, mas o dono do carro não queria levar quatro pessoas e o Waldemar ficou de fora.
De volta a Porto Alegre, na segunda-feira logo pela manhã, abro o jornal Zero Hora, e vejo na capa a notícia "Tragédia com Alunos do Curso de Pilotagem na Volta de Guaporé". No jornal aparecia foto de um corpo coberto na beira da estrada, era do instrutor que se chamava Ricardo Lima, ele aparece nas fotos de abrigo azul ao lado do carro da escola e me falaram que ele era um dos donos da Sulcolor. Eu fui o último aluno que ele passou seu conhecimento, pois fiquei na última turma dele, e fui o último aluno que andou com ele no carro, depois nós andamos sem instrutor. Ele tinha deixado a empresa para ensinar o que mais gostava.
No acidente, o Luiz Afonso foi levado para o Hospital em coma irreversível. O instrutor que dirigia o Chevette sobreviveu. Encontrei ele em Tarumã, anos depois. O amigo Luiz Afonso ainda resistiu sete dias e faleceu dia 7 de Setembro de 87.
Passado uns seis meses, me procuram em casa, a irmã e a noiva do Luiz Afonso. Não sei como sabiam que eu tinha feito o curso com ele, e nem como descobriram meu endereço. Selecionei todas as fotos que tinha do meu amigo e dei de presente aos familiares dele.
Alguns alunos do curso: Ayrton Brum, Licínio de Oliveira Neto (conhecido como Giruá), o preparador do Licínio, o Waldemar Max (correu comigo as 12 Horas de 1998 e escapou do acidente por não ter lugar no carro), José Bergamini. Os outros alunos não encontrei mais, e nem tive conhecimento se chegaram a pilotar".
O Ayrton Brum vai continuar a nos contar sua história no automobilismo. Aguardem.
Fonte das imagens: arquivo Ayrton Brum e arquivo pessoal.
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