segunda-feira, 23 de maio de 2011

Pilotinho inexperiente

Hoje continuo com a trajetória do Ayrton Brum na Speed 1600, contada pelo próprio, que nos leva agora para 1994.

"Iniciei o ano mais confiante e já com minha auto estima em alta. Por problemas financeiros, fui procurar o Paulo Ferreira, conhecido como Paulinho, que foi Campeão com o Fusca 40 do Guto Furst, da equipe Parks em 1989 e se não me engano em 90 também, e tinha a oficina MC Serviços, na Av. Aparício Borges no. 35.

Ao procurar o Paulinho ele me disse: Brum, lembro de você com o Fusca 77, todo errado em 1989, eu já com a pole feita e você lá naquela oficina no sábado à noite, lutando para poder ir correr no domingo. Também lembro de você, naqueles anos que parou de correr, aqui na oficina, sentado no carro do Guto, sonhando que estava pilotando um carro de ponta. Pois vou preparar o teu carro, e de graça, pois tive muita pena de te ver naquele carro. Você somente paga a minha despesa no autódromo e em caso de eu ter que fazer motor ou caixa de câmbio, vou te cobrar a tabela da oficina, como se fosse um carro de rua.

Para vocês entenderem, o Paulinho foi meu PAI, meu AMIGO, meu PROFESSOR, e muito aprendi com ele, como ser humano, foi a pessoa que, depois do Renato que me ajudou no Fusca 77, a outra pessoa que me estendeu a mão no automobilismo.

Em Janeiro de 1994, mudei as corres do Speed 11, do branco, para as corres amarela, azul e verde que o Guto utilizou no Speed 40, quando o Paulinho preparava para ele. Era uma homenagem que fiz ao meu amigo e pai, que ficou emocionado quando viu o carro e a nova pintura.

Com o carro de pintura nova, fui fazer um treino em Fevereiro, um domingo, e na volta do autódromo, na faixa de Viamão, antes da RS-040, o Speed 11 caiu da carreta, arrebentou as correntes e ele deslizou pela parte de traz e como estava em ponto morto desceu da carreta e sai rolando pela faixa. Ao olhar pelo espelho interno do meu carro não vi mais ele. Ao olhar pelo retrovisor externo vejo o Speed 11, vindo rodando, já ao lado da carreta. Não queria acreditar que iria perder meu carro, novinho, pintura linda, e ele indo direto contra os carros que viam em sentido contrário.

Fiz a única coisa que me restava, dar sinal de luz para os carros que vinham em sentido contrário, acelerar e com a carreta segurar o Speed 11, e assim fiz. Quando o 11 encostou na carreta eu freiava de leve, a carreta prensada pelo carro e pelo Speed 11, começou a atravessar, eu soltava o freio, ela alinhava e eu novamente freiava de leve, assim fui segurando ele, já no acostamento ao contrário da estrada.

Desci, fui engatar o Speed 11, para recolocá-lo novamente na carreta, quando vi as pessoas dos carros que pararam no acostamento, começaram a bater palmas para mim. Foi a única vez que fui aplaudido em pé na minha vida, mas meu carro estava ali, apenas com o capô dianteiro furado pela alça da carreta que prendia as rampas.

Logo após a morte do Senna, fomos fazer a minha primeira prova do campeonato em Guaporé. Por mim eu não iria, pois as despesas com a viagem eram pesadas, mas o Paulinho me disse: Brum, eu pago as nossas despesas, depois quando receberes teu salário, você me paga. Vamos lá, estamos bem no campeonato e não podemos só fazer as provas de Tarumã.

Assim fomos numa madrugada fria de Junho e eu me borrando de medo da minha carreta, pois tinha medo que o Speed 11 caisse novamente.

Chegamos ao autódromo de madrugada, eram 2 horas da manhã, a cerração era demais, um frio, e o pilotinho aqui nunca tinha ido no inverno à Guaporé. Levou pouca roupa e nada de roupa de cama. Dormimos no box. Enfiamos a carreta com o Speed 11 no box, arrumamos as camas com papelão no chão frio. Como levei pouca roupa e nada para me cobrir na noite fria, vesti o macacão e dormi com ele. Mas o frio era terrível. Eu lembro que dormia e meu corpo tremia de frio. No meio da madrugada o Paulinho pegou um cobertor dele e me cobriu dizendo: piloto, se você não dormir bem, amanhã você não vai consegui pilotar, e zombou de mim...PILOTINHO INEXPERIENTE."

Abaixo alguns registros daquele ano, onde aparece a família, a equipe e o mecânico Paulinho,na segunda e terceira imagens, de bigode.






Fonte das imagens: arquivo Ayrton Brum.

4 comentários:

Fabiani C Gargioni #26 disse...

Pô Sanco a cada parte da história do Brun vcs me deixam com os olhos "marejados",como diria meu amigo Francis.Show de roda estes relatos e somente quem vive e é apaixonado pelo nosso esporte e sabe da dificuldade que é por um carro na pista com puocos recursos é que sabe o que o Brum tá falando,obrigado mais uma vez e continuem com as histórias que me fazem me identificar cada vez mais com os que realmente são apaixonados pelo automobilismo,um abraço!!!

Francis Henrique Trennepohl disse...

Grande Fabiani, parceirão de pista, esse FAMOSO SPEED 11 atualmente é o meu carro, o não menos "famoso" PINICO ATÔMICO!!!
A história realmente está demais!
Eu tive o privilégio de ouvir boa parte dela da boca do próprio Ayrton, quando fui buscar meu sonho em POA...
Abraços empoeirados

PS: Ayrton, o "nosso" Fusca está na UTI ainda, mas dentro de umas 3 ou semanas irá renascer, todo refeito e com um capim novo pra cavalaria comer.

Brum disse...

Fabiani

Gracias

Vc falou muito bem, é paixão mesmo.
Confesso que muitas vezes ao escrever e relembrar esse tempo,foi dificil escrever, e segurar as lágrimas.
Mais dificil do que escrever, e se emocionar com a lembrança, é ter que reduzir o assunto para nao ficar tão longo, como no inicio.
Meu filho, que me acompanhou ja no final, desconhecia de alguns fatos do inicio que escrevi aqui, pois quando fiz o curso ele tinha 2 meses de idade.

Mas, a parte alegre das vitorias, e mais mais leve, vem na sequencia, tem momentos para rir tambem.

Obrigado pelos comentarios

Imprensa na rede disse...

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