quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Tudo o que é bom dura pouco

Assim já diz o ditado, e o último final de semana não foi diferente. A visita ao Museu do Automobilismo Brasileiro, em Passo Fundo, realizada no último sábado, foi um momento de grande alegria para o amigo aqui. Eu praticamente já conhecia toda a coleção dos carros pelas constantes visitas ao site do Museu, mas estar lá e ver tudo ao vivo e a cores, na companhia de muitos experts no assunto é muito bacana.

Tive o prazer de passar algumas boas horas no Museu na companhia de alguns dos representantes dos "Jurássicos", Roberto Giordani, Francisco Feoli, Décio Michel, Luiz Gustavo Tarragô de Oliveira, e Victor Steyer. Há meses que o Giordani tentava organizar essa visita, tentando levar o maior número de pessoas do grupo. Conflito de agendas impediram uma maior participação da turma, mas tenho certeza que essa não foi a última visita aquele lugar tão especial. De Porto Alegre para Passo Fundo, fui de carona com o "Chico". Tivemos ainda a companhia do Décio e ouvi muitas histórias dos dois durante a viagem. Demais!

Assim que chegamos o dono da casa, Paulo Trevisan, já nos aguardava, juntamente com mais alguns amigos e convidados. Sem perder tempo, o Paulo tratou de começar os trabalhos nos mostrando a coleção de Carreteras, uma mais bem cuidada que a outra. O motor da #9 de Orlando Menegaz e Italo Bertão roncou alto para a alegria dos presentes. O barulho do V8 Corvette é realmente de arrepiar, ainda mais em um ambiente fechado.



Cada carro, uma história. Paulo fazia questão de contar como cada um havia parado em suas mãos e enfatizava o estado de cada um antes de ser restaurado. A Maserati 4CLT de 1948 era um exemplo disso. De acordo com Paulo, este é o item mais precioso do Museu e sua restauração durou muitos anos e foi montada com peças trazidas de vários países, exigindo muito trabalho, paciência e dedicação.


Enquanto Paulo contava tudo em detalhes, quem não perdia nenhum detalhe era o "Chico" Feoli que botava suas lentes para trabalhar, registrando tudo para certamente exibir na próxima reunião do grupo.


Recem saído da oficina estava o Polar Divisão 4 chassi #1 de 1973, que fora pilotado, entre outros, por Jan Balder.


O Maverick Berta Divisão 3, que por várias vezes já foi assunto aqui no Blog, descansava tranquilo até a próxima acelerada. Este é um carro com presença constante em eventos automobilísticos por todo o país.


Encontrei o #96, cria do Flávio Gomes, um cara que sem saber incentivou muitos novos blogueiros a se aventurar pela web.


Uma das mais novas aquisições do Museu (está em regime de Comodato), o Opala réplica de Ingo Hoffmann na Stock Car em 1980 dava um colorido todo especial à coleção.


Lado a lado, dois carros que projetaram dois grandes pilotos brasileiros: os Fórmula Ford de Christian Fittipaldi e Rubens Barrichello. O primeiro competiu em 1988 e o segundo no ano seguinte.


Outra novidade do Museu é o Fusca Bimotor Jamaro, equipado com dois motores de 1500 cc acoplados, que recentemente foi assunto em diversos blogs do país.


Impressionou, entre outras coisas, a coleção de karts, destacando os pioneiros da modalidade aqui no Brasil, fabricados pela Mini.


Duas novas peças foram agregadas ao Museu naquela tarde, trazidas pelas mãos de dois integrantes do grupo. Victor Steyer, confeccionou um belo quadro com um volante F1, original, produzido nos anos 60 pelos irmãos Fittipaldi, e que equipava um Gordini de um grande amigo seu. O amigo, que se chamava Volnei Lumertz, treinava com esse carro no autódromo de Tarumã quando este ainda era uma pista de terra, com a intenção de se tornar piloto de competição. Infelizmente acabou falecendo em 1969, um ano antes do Tarumã receber suas primeiras provas. Na ocasião da entrega, também esteve presente o irmão de Volnei, Sérgio. Foi um momento bastante emocionante.


Emoção também não faltou quando o Giordani anunciou que também tinha um presente ao Paulo. Depois de carregar uma bolsa por horas, surpreendeu a todos, dizendo que alí dentro estava uma peça muito especial e entregou seu último capacete para ser exposto no Museu. Foi muito bacana.

Aqui um registro da turma, Giordani, Steyer, Paulo, "Chico", eu e o Décio, faltando apenas o Gustavo "Sapinho", que estava atrás da lente.


Ao término da visita, o papo ainda se estendeu por muitas horas. Tenho certeza que se fosse possível ficaríamos alí por dias, vendo tudo e ouviando histórias que não acabam mais.

Agradeço ao Paulo Trevisan por nos receber, mesmo em um final de semana de muitos compromissos, e ao Giordani, "Chico", Steyer, Décio e "Sapinho" pela excelente companhia.

Valeu cada segundo.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Polar-Passat

Ao ver uma das imagens do arquivo do "Chico" Feoli, encontrei um monoposto pintado de vermelho que não consegui identificar. Precisei da ajuda do próprio, que aproveitou para dar alguns detalhes.

Com a retirada do patrocínio da Volkswagen no início de 1981, as categorias Fórmula VW 1300, 1600 e Torneio Nacional Passat ficaram "a ver navios". Isso fez com que equipes, pilotos e preparadores se organizassem no sentido de dar continuidade aos campeonatos. A Fórmula VW 1300 acabaria trocando de motores e se tornando Fórmula Fiat. O Torneio Passat permaneceu com disputas regionais. Com a Fórmula VW 1600 não foi diferente. Apenas quatro dias após o anúncio oficial da montadora, as equipes da categoria se reuniram e bastou alguns minutos para uma antiga ideia ser colocada em discussão. Nascia assim a Fórmula 2, com a abertura para várias marcas de chassis e motores.

Para o dia 19 de Abril de 1981 em Brasília, na prova de abertura, eram esperadas muitas novidades e algumas realmente apareceram, como chassis Bino com motor Chrysler, Polar com motor Fiat, outro com motor Corcel entre outros. A ideia de Francisco Feoli e de seu preparador Jorge Martinewski era a de utilizar o mesmo chassi Polar mas com algumas alterações aerodinâmicas. Assim, contando com a ajuda do amigo Aloisio Mamed Adib, que era arquiteto, foi desenhada uma nova carenagem, começando com o esboço abaixo.


Vejam que inicialmente o motor VW a ar seria mantido, mas logo depois a ideia do motor Passat surgiu.

Vejam o produto final, já com o motor Passat instalado.


Muitos testes foram feitos em Tarumã e a imagem acima é provavelmente de um deles. O carro não ficou pronto para a prova de abertura e acabou fazendo sua estreia na segunda prova, no Rio de Janeiro.

Abaixo aparece o mesmo carro, já com outra pintura, aquela que seria utilizada por muitos anos no carro de "Chico".


Apesar do projeto inovador, na pista as coisas não andaram muito bem e pelo que consta, "Chico" pensou até em abandonar o automobilismo.

Foi aí que Pedro Muffato construiu o primeiro chassi Muffatão, cópia do Berta argentino, e adaptou um motor Passat. "Chico" ficou fascinado com o novo carro e foi o segundo a adquirir tal chassi. O resultado da troca não poderia ter sido melhor. Já na primeira prova, vitória no Rio de Janeiro, após enrosco na última volta dos líderes Alfredo Guaraná Menezes e Vital Machado. Graças a essa vitória, "Chico" ganhava novo gás e permanecia na categoria para a alegria de seus fãs.

Fonte das imagens: arquivo "Chico" Feoli.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Desafio extra

Resolvi não esperar até o próximo domingo. Alguém sabe que carro é esse? O senhor na segunda imagem é uma boa pista.



Agora é com vocês. Trabalho dobrado para esta semana.

Mãos à obra!

sábado, 26 de setembro de 2009

"Chico" Feoli

Há algumas semanas recebi um convite do amigo Roberto Giordani para comparecer ao encontro dos Jurássicos, reunião na qual muitos ex-pilotos, principalmente a turma que andou de DKW nos anos 60, utiliza para relembrar corridas, histórias, passagens marcantes do automobilismo gaúcho, e também para manter o vínculo de amizade entre o grupo.

O encontro é realizado quinzenalmente e foi com muito prazer que compareci na oficina do Horst Dierks há uns 20 dias para sentir o clima entre a turma. Mal sabia eu que boa parte dos que lá estavam já tinham ciência do trabalho que é feito aqui no blog. Fiquei muito emocionado com tudo o que ouvi deles e no meio dessa emoção toda, veio o convite para ser o mais novo integrante do grupo. Aquele então, parecia ser o meu batismo entre os Jurássicos.

Infelizmente o encontro teve de ser interrompido por causa do roubo do Puma DKW do Teodoro, ocorrido bem em frente à oficina. Cheguei a pensar que eu era o "pé-frio" na história, mas felizmente o Puma foi encontrado dias depois e a turma pode se reunir novamente na última semana para comemorar o retorno do mesmo. Mais uma vez o convite veio, o que significava que o amigo aqui fora admitido na "irmandade".

O palco da festa foi justamente na garagem do Teodoro, o "Templo dos DKW's", onde estão vários modelos DKW, como Vemaguete, Fissore, Candango, entre outros, além é claro do DKW#56 com o qual ele corre na Classic. O churrasco assado pelo "chef" Antônio Fornari, os vídeos levados pelo "Chico" Feoli mostrando algumas de suas provas na Fórmula 2, o áudio das 12 Horas de Porto Alegre de 1968, conseguido pelo Eurico Estima, a companhia de novos amigos, tudo estava ótimo. A cada nova conversa, novas histórias, a vontade de escutar tudo ao mesmo tempo chegava a me confundir. Confuso mesmo fiquei quando ouvi o Henrique Iwers e o Horst conversando em alemão. Aí já era demais para mim.




O "Chico" Feoli, figura muito simpática, tinha me dito que levaria umas fotos de suas provas para eu ver e fiquei muito entusiasmado com a ideia, afinal fazia tempo que eu tentava um contato com ele para contar sua história aqui. "Chico" é um daqueles que vi competir quando pequeno, e ainda hoje guardo na lembrança algumas de suas participações na Fórmula 2. Ao me ver chegar ele foi logo me mostrando um CD com uma boa parte da história do automobilismo gaúcho, da qual ele e todos que lá estavam, fizeram parte. Não pensei duas vezes: aquilo ali tinha que estar no blog. E foi assim que, depois de muito escolher, publiquei aquela imagem do Fiat 147 #12 com o qual "Chico"disputou o Campeonato Gaúcho de Divisão 1 de 1978, na equipe Glitz. Eu não sabia dessa participação dele com Fiat, mas a turma aqui reconheceu na hora e não houve mais dúvida.

O material que o "Chico" me passou é tão farto, que certamente não conseguiremos publicar tudo e ao longo dos próximos dias, tentarei dividir em partes para tentar aproveitar ao máximo. Hoje começo com um breve resumo de sua trajetória nas estradas e pistas. O próprio "Chico" e também o seu manager, Giordani, ajudou no resgate de algumas informações. Desde já deixo aqui o meu agradecimento a eles pela atenção.

Pelo que consta, Francisco Feoli fez sua estreia no automobilismo no dia 02 de Agosto de 1964 na prova reservada aos Estreantes disputada em Passo Fundo. Ele se inscreveu na Categoria B com o DKW #52. Nesta categoria corriam apenas DKW, Gordini e 1093. O resultado foi bastante animador, um segundo lugar, utilizando o mesmo carro de Dino Di Leoni. Dino seria seu companheiro em provas seguintes e juntos conquistariam bons resultados, como nas 6 Horas de Pelotas em 1966 e nos 500 Km de Lages no mesmo ano.



A primeira vitória de "Chico" aconteceu no início de 1968, na prova 200 Milhas de Cachoeira do Sul. Naquele ano, o #99 já estampava seu DKW. Ele venceu na categoria reservada aos DKW's e Gordinis e terminou em terceiro na geral. Ao final da temporada, o piloto sagrou-se vice-campeão na sua categoria.



No ano seguinte nova vitória na Classe até 1300 cc, desta vez em dupla com Roberto Giordani, na prova 4 Horas de Florianópolis, concluindo em segundo no geral. Naquela que acredito tenha sido a última prova em estradas, o Circuito Encosta da Serra de 1969, "Chico" conquistou mais um segundo lugar em sua classe.


1970 foi um ano de muitas novidades, começando com as corridas na praia, os preparativos para a inauguração do Tarumã e o Torneio Nacional Corcel I, disputado em Interlagos, no qual "Chico" esteve presente.




Em 1971, com as provas no Tarumã, vieram novas experiências, como a Fórmula Ford, da qual foi um dos primeiros participantes. Além das "baratinhas","Chico" continuava na pilotagem de um DKW, as vezes sozinho, ou em dupla com Giordani.


O DKW fora trocado por um Corcel ainda no final de 1971, o mesmo com o qual participou em Interlagos no final de 1970. Com ele, carinhosamente chamado de "Pé de Alface", competiu até o final de 73, ano no qual obteve o vice-campeonato do Gaúcho de Fórmula Ford.


Em 1974, além de ser novamente vice-campeão do Gaúcho de Fórmula Ford, recebeu o Troféu Memorial Pedro Carneiro Pereira, como piloto mais destacado daquela temporada. Também estreou na Fórmula Super Vê.


No ano seguinte, mais um vice-campeonato foi conquistado, desta vez no Brasileiro de Fórmula Ford.


Em 1976 "Chico" se dividiu entre a Fórmula Ford e a Fórmula Super Vê.
Voltando aos carros de turismo, o piloto integrou a equipe Glitz no Gaúcho de Divisão 1, na classe reservada aos Fiats 147.


Em 1979 a Super Vê já se chamava Fórmula VW 1600, mas dois anos mais tarde seria novamente rebatizada, agora para Fórmula 2.


E foi na Fórmula 2 que "Chico" talvez tenha adquirido seu maior número de fãs. Permaneceu na categoria de 1981 a 1987, competindo com os melhores pilotos do Brasil e da Argentina, em disputas inesquecíveis, chegando a obter o vice-campeonato brasileiro de 82.

Um feito, até hoje lembrado, foi citado durante a homenagem às lendas vivas que compareceram à inauguração do Velopark há dois anos. Assim disse Marcelo Aiquel naquele momento:

"Em 17 de Outubro de 1982 o piloto Francisco Feoli quebrou o recorde TARUMÃ na prova que reuniu pela primeira vez na América Latina pilotos Brasileiros– Argentinos e Uruguaios em uma prova com carros da Fórmula 2 que mais tarde se tornaria a categoria mais importante do Continente. Feoli pilotava o Muffatão/Passat nº 12 e estabeleceu o recorde da pista deTarumã com o tempo de 1min01seg920 min numa fantástica média horária de175,179 km/h. Felipe e Jhonny (administradores do Velopark), nós presenteamos a vocês o macacão que Feoli vestia naquele dia para que esta vestimenta histórica faça parte do acervo do VELOPARK."


"Chico" ainda voltaria aos carros de turismo, em duas oportunidades: em 1985, na temporada inaugural do Regional de Turismo, ao lado de "Carlinhos" de Andrade e depois no dia 14 de Julho de 1988, quando fez sua última prova ao lado de João Sant'Anna no Chevette #60, concluindo a mesma na 13º posição.




"Chico" Feoli é um dos grandes pilotos que o Rio Grande do Sul já produziu. Foi vitorioso em praticamente todas as categorias nas quais competiu. Difícil encontrar algum automobilista que não o admire.

Para mim foi um grande prazer falar dele aqui nesse espaço, mas como disse, isso é só o começo. Ainda temos muita coisa boa para dividir com todos, portanto fiquem ligados.

Valeu, "Chico"!

Fonte das imagens: arquivo "Chico" Feoli, revista Quatro Rodas e revista Auto Esporte - arquivo Henrique Mércio.