terça-feira, 29 de junho de 2010

Incontáveis histórias

Recebi com tristeza, no final da tarde de hoje, um e-mail do Pedro Onófrio, trazendo a notícia do falecimento de seu pai, o amigo Jurássico, Fernando Onófrio, ocorrido no dia de ontem, quando por coincidência, publiquei aqui no blog uma imagem dele, em Tarumã, durante uma prova de Fórmula Ford em 1975.

Não tive a chance de conhecê-lo pessoalmente, mas mantínhamos contato por e-mail há algum tempo, desde o dia em que ele conheceu o blog e mandou alguns registros, além de boas histórias. A última que chegou ao meu conhecimento foi enviada há poucas semanas e ele me cobrou se seria publicada, já que pretendia enviar mais algumas. Tudo começou com uma conversa entre ele e o Roberto Giordani, que assim, foi repassada aos demais.

"Roberto.

Que saudades!......Nunca corri em nenhum dos dois circuitos
(se não estou enganado, eles falavam sobre os circuitos clandestinos localizados em Porto Alegre). Mas, uma vez, num pega à noite, que eram frequentes em 1963, 64,..... a turma que vinha na frente entrou à esquerda. Era a Curva da Juca Batista. Uns querendo passar pelos outros pelo acostamento de terra e levantou aquele poeirão. Eu errei o ponto de freada e segui reto. Fechando o nosso pelotão, vinha a gloriosa Brigada Miltar, cujas " viaturas" (VW 1.200c.c.) já tinham rádio. Pois bem, o carro dos hoje 190 não fez a curva e saiu ao meu encalço. Pelo retrovisor eu vi que eles, por não terem dobrado à esquerda, estavam atrás de mim a uma boa distância. Dava para escapar e segui reto em direção a Belém para me esconder, esperando passar a poeira e a polícia. Para minha surpresa, me esperava, na "chegada", bem na entradinha de Belém, uma multidão..., não de espectadores, mas de policiais. Levaram-me para uma DP que existia em Belém, deve existir até hoje e lá fui ovacionado pela minha performance. Fui hospedado pelo gentis policiais, ofereceram-me pouso e café da manhã. Eu não tinha habilitação, (17 anos). Pergutaram o endereço do meu pai e eu dei, Praça Daltro Filho, S/N, Vacaria-RS. Meu pai se chama Joel Onofrio, a quem, injustamente, chamaram de irresponsável. Me deram uma multa e me largaram à pé, às 9:00 HS da manhã, de um sábado na primavera de Porto Alegre. Me mandaram de busão para Porto Alegre e meu tio, já falecido, Abelard Jacques Noronha, foi buscar a "viatura" que ficou nos boxes da polícia para "vistoria". Que saudades....

Quando contares de Vila Nova-Cavalhada-Vila Nova, tenho outra história.

Um grande abraço,
Fernando."

Logo depois questionei o Fernando se haveria algum problema em publicar, já que revelava as aventuras daquela época, envolvendo a polícia, coisa e tal e ele respondeu, bem humorado como sempre, da seguinte forma:

"Meu caro, Sanco.
Podes publicar, mas não esqueça que aqui em Goiás temos uma PM, com a qual não arrumei nenhum problema ainda....
Fernando"


Não pude saber mais das suas histórias, mas seus amigos aqui no Sul certamente lembrarão dele para sempre e ainda terão muitas a contar.

Um resumo da trajetória dele nas pistas pode ser visto clicando aqui.


Vai em paz, Fernando e obrigado por tudo.

6 comentários:

Pedro Onófrio disse...

Cada pedacinho dele para nós é muito hoje. Obrigado pela linda homenagem àquele que deixará tantas saudades para todos.

A história de amor dele e de minha mãe começou no autódramo de Goiânia, em 1983.

Como bom piloto, ele correu tão rápido na curva que o levou da vida aos braços de Deus, que o perdemos de vista. Infelizmente, esta foi a única corrida que eu e minhas irmãs assistimos: as 4 horas que separaram a alegre e plena vida dele da dor de sua partida.

Certamente a pole position foi conquistada e ele está um passo a frente de todos nós que lemos hoje este texto.

Uma pena não lermos a próxima história prometida!

Com muito pesar, dor, mas com uma alegria que carrega a eternização do nome que com tanto orgulho ostento e carregarei,

Pedro Henrique de Oliveira Onofrio

Paulo Schütz disse...

Lembro do Fernando, brincalhão, devertido. Anos que não o via, uns 20. Andei com ele e outros amigos, de Gordini, lembro do fusca, depois a F. Ford, sempre aprontando e nos fazendo rir. Deixa saudades. Minha solidariedade à família, certo de que algum lugar ficou mais devertido com a chegada dele.

Roberto Giordani disse...

Caros amigos; embora muito abalado com a triste notícia, faço registro de uma história em que o Fernando foi um de seus personagens mais queridos:
Quem conheceu Fernandinho Vacaria sabe que não exagero nas palavras; pelo contrário, faltam outras com mais bravura e profundidade.
Para não ficarmos somente na tristeza, conto um episódio pitoresco dos idos tempos de Lages, em que diversos pilotos fizeram parte, inclusive Fernando.
Fazíamos parte da Equipe Araganos, cujo fundador foi Dino de Leone; nossa mais acessível pista era a de Lages onde chegávamos a fazer três ou quatro provas por ano, com dois, três e até quatro viaturas DKW's.
Com excesão do Dino e eu, todos os demais eram solteiros e como tal sempre ansiosos por uma festa; os dois Sinibaldi, Paulinho Pacheco Prates, Mario Katz, "Magro" Renato Araújo, Jorginho Amorim, e o próprio Fernando Onofrio eram "os festeiros". Como mais velho e experiente do grupo, naturalmente passei a ser o orientador dos demais. E agora o fato inusitado e até mesmo alegre de ser comentado:
como eu sabia que meus companheiros de pilotagem eram festeiros e podia acontecer que alguns deles não aparecessem na largada da corrida ou chegarem tão mal com o " o rabo cheio de trago" eu fazia reserva de apartamentos nos últimos andares do Lages Palace Hotel e na noite que antecedia a corrida, eu os acompanhava até seus aptos. e os chaveava por fora, para que não "fugissem" para a farra; e o legal é que todos aceitavam, pois sabiam que corrida de automóvel é coisa séria e que nossa equipe levava a sério o que estava fazendo. Evidente que alguns não precisavam serem chaveados por fora, como o Chico Feoli e o "Cigano" Sinibaldi, que sempre foram muito responsáveis.
Na madrugadinha da corrida, eu os acordava e depois de um bom banho quente, um farto café da manhã , lá estavam nossos "solteiros" meio P... da cara comigo, mas cheios de vigor para enfrentarem a difícil pista de Lages.
Esta é uma pequena história para homenagear a lembrança do nosso querido Fernandinho Vacaria.
Roberto Giordani.

Carlos Belleza disse...

Amigos
É com muita tristeza que recebo esta notícia. Envio o meu abraço de pesar à família do querido Fernando Onófrio, com quem convivi fraternalmente por muitos anos. Tinha esperança de reencontrar o Fernando, pois não o via desde 1985, numa Expointer, quando conheci a tua mãe, Pedro. Por intermedio deste maravilhoso blog, pude pela última vez trocar abraços com o Fernando.
Comprei o meu primeiro carro de corrida em 1972, com o qual fizemos a nossa estreia, o Magro Soldan e eu, nas 12 horas de Tarumã de 1972, o carro era o "Diabinho", que já apareceu no desafio daqui, era do Fernando Onófrio e preparado por outro saudoso, o Dino Di Leone.
Compartilho com o Paulinho Shütz e o Giordani a admiração palo bom humor do Fernando e a capacidade de trazer alegria para qualquer ambiente, caracterisca herdada do "tio Joel" a quem tive o prazer de conhecer naquela época.
Pedro, tu e tuas irmãs podem e devem ter orgulho do nome que carregam, pois nós, apesar da perda, temos orgulho e alegria de termos tido Fernando Onófrio como amigo.
Grande abraço
Carlos Belleza

Carlos Alberto Petry disse...

Pedro Henrique, nos, os que conviveram com o Fernando sabe,os perfeitamente o quanto voces familharares perderam, pois, foi também nosso parceiro de sorrizo permanente e com todos carinhoso. Muitos anos que eu não tinha notícias do Fernando, mas de qualquer forma tenho como todos que me rsignar com a saudade. Um abraço a todos voces...

Paola disse...

Nem preciso dizer o quanto me emociono lendo essa homenagem. Pois quem conviveu sabe que se torna difícil ter uma definição de FERNANDO ONÓFRIO, mas arrisco uma: ALEGRIA.Tantas histórias, risadas sempre compartilhadas, pois, por onde ele passava, espalhava alegria. Esse blog era constantemente lido por ele, ele se orgulhava muito em ter feito parte dessa história. Sempre digo que, ele saiu do Sul, porém o Sul nunca saiu dele. Agradeço demais por essa homenagem e por de uma forma tão linda eternizar e compartilhar histórias de que ele tanto amava. Demorei a comentar, mas certamente, no que se diz respeito a incontáveis histórias, aposto que se ele ainda estivesse entre nós, seriam inúmeras delas. Agradeço novamente a homenagem.

Paola Onófrio