Como escreví ontem, 1992 marcou a estréia do meu tio nas 12 Horas. Eu não tinha muita noção do que era ficar as 12 horas ajudando a equipe, mas não pensei duas vezes antes de fazer a minha mochila e pegar a estrada.
Naquele ano o "Paulista" tinha feito a estréia no Gaúcho de Marcas e o Chevette dele ainda carecia de mais desenvolvimento e a decisão mais acertada foi fazer parceria em algum outro carro. Surgiu a oportunidade de fechar um trio com o Wagner dos Santos e o Januário Cavalheiro no Chevette #55, pilotos com bastante experiência em provas de longa duração, pois vinham da categoria Regional de Turismo que tinha suas corridas disputadas em no mínimo 300 Km.
Distribuídas as tarefas de cada integrante da equipe, fiquei responsável pela cronometragem. A infra-estrutura na mureta dos boxes era digna de Fórmula 1. Dos anos 60, é claro. Eu tinha dois cronometros na mão, uma prancheta, uma caneta e um guarda-sol. Nem banco havia. Mas para mim já estava bom demais, afinal estava tendo a chance de acompanhar de dentro dos boxes a prova mais aguardada do ano do calendário local.
A função exigia atenção e com os dados que colhia transformava em informações para a equipe. As paradas de box iam transcorrendo normalmente, a equipe não enfrentou muitos problemas durante aquela prova. O tempo foi passando, o dia nascendo e aí começaram os "meus" problemas.
Eu estava exausto. Tinha me alimentado durante a noite - cortesia da esposa do Januário - mas o sono foi chegando e como o sol lá em Guaporé nasce na direção da última curva, justo aquela na qual é necessário manter os olhos atentos, foi difícil resistir e acabei cochilando mesmo em pé. Não por muito tempo, mas por muitas vezes. Numa das "sonecas" fui repentinamente acordado pelo guarda-sol que havia se soltado do chão em função de um vento forte e saiu em disparada pela frente dos boxes. Eu estava completamente tonto e não conseguia nem esboçar uma reação. A cena foi patética, mas depois de alguns segundos a ficha caiu e conseguí prestar socorro ao guarda-sol rebelde.
É claro que durante esse período o sistema de cronometragem ficou fora do ar, mas nada que comprometesse a performance da equipe. Após um rápido café forte e uma visita ao banheiro para jogar uma água no rosto o sistema estava reestabelecido e permaneceu assim até o final da prova.
Ao final daquela 12 Horas meu tio estava cumprindo o seu turno de pilotagem e quando fomos recebê-lo no parque fechado o Wagner saiu no meio de todo mundo gritando Saiam da frente! Saiam da frente porque ele tá sem freio!!! O freio do Chevette tinha acabado durante a última hora e o Paulista conseguiu fechar a prova reduzindo o ritmo da tocada e utilizando o câmbio para freiar. Ele foi chegando no parque fechado bem lento e teve de ser segurado no braço por toda a equipe para não causar problemas para ninguém.
Foi o meu batismo nas 12 Horas e serviu de experiência para as provas dos anos que se seguiram.
Abaixo segue uma imagem do Chevette #55, porém em 1993 novamente em Tarumã.
Fonte da imagem: Jornal Zero Hora
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário