quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A Ferrari do Sul

Por causa da cor vermelha dos carros até 1980, a equipe Jardim Itália era conhecida como a "Ferrari do Sul", apelido carinhoso com que os aficcionados gaúchos destacavam seus pilotos. Acontece que o preto predominava no layout do principal patrocinador, as Forjas Taurus, o que causava uma certa polêmica. Aproveitando essa questão, a equipe decidiu, no início de 1981 realizar uma pesquisa através do Jornal do Comércio para que os leitores opinassem sobre suas preferência e concorressem a uma viagem com tudo pago para São Paulo para acompanhar a equipe. Isso devia ter o dedo do Laerte Kunzler...


Bom, em 1981 a equipe de "Janjão", agora com os belos e inesquecíveis carros pretos, tinha além dos pilotos ("Janjão" e Conill), a seguinte nominata: Laerte Antônio Kunzler como diretor geral, José Pedro Kunzler como diretor esportivo, José Ayrton Morganti Mitczuck como chefe da equipe, Clóvis de Moraes como responsável técnico e Natalício dos Santos e José Pozzebon como auxiliares.

Além do campeonato Gaúcho e Brasileiro, a Jardim Itália decidiu também participar do Paulista. O regulamento para aquele ano sofrera algumas alterações com o objetivo de melhorar a performance dos carros. Pesquisando nos arquivos encontrei alguns detalhes sobre o mesmo. Vejam:

CARBURAÇÃO: carburador tipo Solex H32-DIS, sendo livre a calibração interna, mantendo originais os diâmetros superiores de entrada e saída de ar do carburante. O difusor do carburador era de 23mm, original do Fiat 147 1050 cc. Era proibido retirar o afogador e seus componentes. O uso de filtro de ar era opcional, não sendo permitido utilizar a corneta do filtro ciclone sem a mangueira.

TRANSMISSÃO: original do Fiat 147 1300 cc com a seguinte relação de marchas: 1ª 4,090:1 - 45/11 dentes; 2ª 2,235:1 - 38/17 dentes; 3ª 1,454:1 - 32/22 dentes; 4ª 0,959:1 - 49/47 dentes. Diferencial curto 3,714:1 - 53/14 dentes ou 3,764:1 - 34/17 dentes. Não era permitido o uso de diferencial blocante ou de deslizamento imediato.

AMORTECEDORES: era permitida a retirada das capas dos amortecedores traseiros não podia haver nenhuma deformação da carcaça do amortecedor, assim como de seus suportes.

SUSPENSÃO: original do Fiat 147 1300 cc. Era permitido o rebaixamento das molas sem remoção de material. Podia ser colocada na parte superior do amortecedor dianteiro, no ponto original de fixação, um sistema para regular a posição da roda (camber). Era permitido entortar, esmerilhar, ou refurar a manga do eixo e também limar os amortecedores ou pontos de fixação na carroceria.

SISTEMA DE DIREÇÃO: original do Fiat 147 1300 cc. Era permitido apenas calçar o suporte da coluna de direção.

RODAS: de fabricação nacional, material e desenhos livres, com medida máxima de 53/4" x 13".

PNEUS: foi fornecido um adendo após os testes da Pirelli. Que eu saiba foi neste ano que os CN-36 foram substituídos pelos P7. Me corrijam se estiver errado.

CARROCERIA: era permitido substituir os faróis e as lanternas dianteiras e traseiras por chapas metálicas, retirar a luz de placa e seus suportes. Era obrigatório o uso de luz de advertência dos freios e lanternas traseiras.

PESO: 470 kg incluindo o arco de proteção de 6 pontos, todos os líquidos, menos carburante e extintor. Não era permitido lastro, podendo-se retirar estepe, porta-pacotes, ferramentas, protetor do motor, banco dianteiro direito, acento e encosto do banco traseiro.

SISTEMA DE VENTILAÇÃO E AQUECIMENTO: era permitido retirar o sistema de ventilação interno e tapar a grade do capô dianteiro.

Se em 1980 os acidentes foram muitos, 1981 ficou marcado com o ano das pancadarias generalizadas. Pelo menos é o que dizem os jornais e revistas da época. Em algumas ocasiões era possível ler na manchete da Segunda-feira após a prova. "Fulano vence Choque-car em Interlagos" ou Tarumã ou qualquer outro lugar. Os pilotos desafiavam as leis da Física, tentando fazer com que dois, três ou até quatro carros ocupassem o mesmo lugar no espaço. A nova frente "Europa" dos Fiat 147 denunciava os toques entre os carros. Era difícil ver um carro ao final da prova que não estivesse com a frente amassada. As brigas com a Milano duraram o ano inteiro, sem favoritismos, tanto é que Renato Conill foi o Campeão Paulista e Áttila Sipos venceu a gauchada no Tarumã na etapa do Brasileiro.

"Janjão" teve uma atuação destacada, mas as batidas acabaram prejudicando o piloto que levou o vice no Gaúcho, atrás de Conill, ficou em terceiro no Brasileiro (1º Áttila e 2º Conill) e acabou em quarto no Paulista empatado com José Coelho Romano (1º Conill, 2º Pater, 3º Negrão).

Ao final do ano, "Janjão" decidiu aceitar um convite, que fora feito alguns meses antes, para trabalhar na Taurus, seu patrocinador. O dono da empresa era louco por automóveis e gostava de assistir as corridas. Ele tinha um Alfa Romeu. O mecânico de "Janjão" era da Alfa Romeu... "São aquelas histórias que vão acontecendo na vida da gente", me disse ele.

A aposentadoria parecia definitiva, mas isso não durou muito. Vocês vão saber por que na próxima semana.

Abaixo mais uma bela seleção de imagens de 1981, mostrando o duelo entre Jardim Itália x Milano (e agregados).

Além dos pretos #47 de "Janjão" e #48 de Conill aparecem os carros da Milano, #34 de Áttila (que em uma prova foi pilotado pelo Luis André Ferreira), que depois voltou para o #64, o #24 do Marcelo Toldi, o #25 do Pater, o #27 do Romano, o #5 do Negrão e o #46 do Rogério dos Santos.

Fonte das imagens: Anuário Fiat, arquivo "Janjão" Freire.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ele sabe onde tá o fiat? Tinha que mandar pro museu. Foi uma lenda.