A montadora investiu muito naquela categoria. Os pilotos podiam ir a uma revenda Fiat e comprar um carro pela metade do preço. A Fiat ajudava os pilotos e as equipes a conseguir patrocínio nas revendas de cada região. "Janjão" era um piloto já muito conhecido e foi procurado e indicado para integrar a equipe de uma das maiores revendas de Porto Alegre, a Jardim Itália.
A aposentadoria seria então adiada. "Janjão" comprou um dos primeiros Fiats que chegaram à Jardim Itália. A equipe, chefiada por "Neco" Schertel, teria dois carros preparados pelo "Gessy". O outro seria pilotado pelo pelotense Renato Conill que traria o patrocínio das famosas Casas Procópio da cidade de Pelotas.
O campeonato de 78 foi disputadíssimo e só foi definido, a favor de "Janjão", após seu término, no Tribunal de Justiça Desportiva, em Dezembro daquele ano. Tudo por causa de um tapete. Como assim? Leiam abaixo.
A quarta corrida do campeonato aconteceu no dia 3 de Setembro de 1978 em Tarumã. Além daquela, mais duas ainda tinham de ser disputadas para que se conhecesse o campeão. Walter Soldan e "Janjão" eram os pilotos mais destacados daquela competição. A corrida foi emocionante, disputada palmo a palmo entre os dois que haviam disparado dos demais pilotos que compunham o segundo pelotão, no caso: Renato Conill, Paulo Hoerlle, Luiz Carlos Ribas, Ernani Dieterich entre outros. Na última volta os dois entraram juntos no retão e a bandeirada foi por fotochart! Soldan venceu por 48 centésimos de segundo!
Embora frustrado, "Janjão" não tinha que o reclamar, a disputa foi dura, mas Soldan tinha o mérito. Alegria de um lado, tristeza de outro, "Janjão" foi cumprimentar o ganhador. Deu os parabéns ao adversário e voltou para os boxes da equipe para "curtir" a derrota.
Passou-se algum tempo e um "zum zum" correu o paddock. O "Magrão" teria protestado o carro #47, alegando que estaria fora do regulamento. "Janjão" ficou indignado: "como, o cara me ganha a corrida e ainda me protesta ?!? " Não tive dúvidas, fui lá e o protestei em represália. De raiva, protestei o carro todo. Resultado? Meu carro estava totalmente dentro do regulamento e o dele fora !!!! Constataram, inclusive, que o meu motor poderia ter sido mais trabalhado mas não foi por prudência do meu preparador, me contou o ex-piloto.
O que aconteceu com o carro do "Magrão"? O regulamento da Divisão 1 limitava muito a preparação dos carros, impedindo até a remoção do forro anti-ruído, item que fora removido do carro da equipe Glitz, o que, teoricamente, teria dado a Soldan vantagem na corrida, principalmente num resultado tão apertado como fora aquele.
Soldan entrou com um recurso contra sua desclassificação e o "caso" durou três meses, foi parar no Tribunal Desportivo em meio a debates, teorias, cálculos matemáticos, filosofias, vaidades, entrevistas, bate boca, muita divulgação, badalação, repercussão. Lendo com atenção os recortes dos jornais da época, que me foram enviados por "Janjão", foi possível encontrar o nome de Lazier Martins (hoje apresentador da RBS TV), como o relator do processo e o saudoso Paulo Rogério Amoretti, advogado de Walter Soldan. O Tribunal se reuniu no Touring Club de Porto Alegre às 21h do dia 12 de Dezembro, mas somente a 1h30min que se conheceu o resultado do julgamento. O recurso fora negado por quatro votos a dois e Antônio João Freire foi então oficialmente declarado o primeiro piloto a conquistar o título da categoria dos Fiats. no Rio Grande do Sul.
Abaixo algumas imagens do ano de estréia da categoria dos Fiats no Rio Grande do Sul.
Na sequência: "Janjão", Antônio Fornari e Paulo Hoerlle dividindo a curva 1 de Tarumã, depois "Janjão" e Conill. Mais abaixo Soldan sendo seguido de perto pelos dois carros da Procópio. Encerrando com uma do julgamento do caso que decidiu o título de 78.
Fonte das imagens: arquivo "Janjão" Freire.
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