sábado, 21 de fevereiro de 2009

O piloto-escriba-retratista

Há pouco tempo descobri que um cara, que é, entre outras coisas, fonte de inspiração para este blog, também deu lá suas aceleradas. Estou falando de Vilsom Jair Barbosa, o inesquecível "Lambe-Lambe", fotógrafo que registrou toda a história do automobilismo gaúcho nos anos 80 e início dos 90. Vilsom é a resposta para o último Desafio, conforme o Paulo Schutz já informou. Por sinal, o próprio Paulo também participou daquela prova de kart, e venceu, mas não levou. A prova era reservada para jornalistas. Não sei o que ele estava fazendo metido no meio dos outros... Explique-se, Mestre Schutz.

Buenas, o "Lambe-Lambe", além de fazer ótimas fotos, escreveu durante um tempo, no saudoso Jornal Esporte Motor, uma coluna muito bem humorada e que tinha como tema, é claro, o automobilismo. A coluna denominada Mão-de-Pau fez sucesso e abordava de uma maneira descontraida os principais acontecimentos desde as competições regionais até a Fórmula 1. O nome da coluna era uma, digamos, "homenagem" aqueles pilotos desprovidos de talento e que não aceleravam uma batata frita, como ele mesmo dizia. A, até hoje lembrada, Oração de São Jimo era um sarro e sintetizava a opinião dele sobre os tais pilotos.

Foi durante a pesquisa sobre o Campeonato Regional de Turismo de 1989, que descobri o nome dele em meio à pilotada que participou naquele ano. Fiquei muito surpreso e imediatamente enviei uma mensagem a ele que logo me respondeu com alguns dizeres que reproduzo a partir de agora.

É com muita satisfação que passo a palavra (ou seria teclado?) ao "Lambe-Lambe".

"Tchê, Leandro:

Pois, por incrível que pareça, o fotógrafo também tinha lá suas veleidades, como piloto. Na verdade, estreei em 1976, num fusquinha 1300, na mesma data em que estreou o Evaldo Quadrado, o Moacir Ughini, o Itamar Bianchesi, o Bagulho. Sei que éramos oito carros ao todo e, para variar, choveu. Eu, que sempre gostei dágua, com um motorzinho 1300 consegui passar da saboneteira 1600 preparada pelos irmãos Reginatto, pilotada por alguém apelidado de Cibié. Passou a chuva, ele voltou a me passar e cheguei em último ... Mas o maior elogio que recebi até hoje, como piloto, foi do Lino, ou Dennis, quando fui pedir uma ajudinha deles, para me fazerem um motorzinho mais forte. Claro que negaram, pois sua retificadora tinha filas de pilotos duros pedindo a mesma ajuda. Tentei argumentar que, caso me ajudassem, obteriam maior retorno publicitário, pois, se com um motor mil e trica, tinha andado na frente do motorão deles, que se poderiam esperar se eu tivesse o mesmo equipamento da ultrapassada saboneteira? Ao que respondeu: - E tu achas que eu engulo essa de que teu motor era 1300 original? Como eu sabia que era, tomei aquilo como o, talvez, único elogio de minha carreira pilotística.

Também andei correndo no Campeonato Brasileiro de 1976, onde corri ao lado de Toninho da Matta, Paternostro, Sipos, etc. E até houve uma corrida em que, com chuva torrencial, consegui classificar um Passatinho normal, queimando óleo, na frente de vários TS, o sonho de todo o piloto da época.

Corri no Campeonato Gaúcho de Fiat de 1978, até a terceira etapa, quando terminaram os pilas e larguei as pencas. Na segunda etapa de Guaporé, consegui deixar para trás, inclusive, sabes quem, nas classificatórias? O Nêne Fornari. Fiquei em sétimo no grid e ele em 14º. Mesmo assim foi o único que me quebrou o galho, vendendo pneus, pois o duro aqui fora com pneus já baleados e um estourou nos treinos. Era no tempo dos pneus lixados e um cara do Paraná, com pilhas de pneus nos boxes, sabendo dos tempos que eu, sem patrocínio e sem equipe, andara fazendo, negou-se a me vender um único, alegando que poderia precisar durante a corrida ... Oito pneus numa corrida só ... Como o Nêne só tinha pneus sem lixar, tive que largar perdendo quase dois segundos por volta. E note o cavalheirismo do cara: me deu o pneu e disse que eu somente fosse pagar lá na loja do seu Breno, na sertório com Farrapos, durante a semana. Tempos bons aqueles ... Claro que paguei. Na corrida caí para penúltimo por causa dos pneus sem aderência. Quando o desgaste permitiu tempos melhores, ultrapassei dois carros e, frustrado, por ver que carros de corrida somente andam a poder de muito pila, cheguei nos boxes vendendo a bagulhada toda e larguei tudo, somente voltando a correr em 1987, se não me engano, em parceria com amigos que aceitavam ceder um lugar no volante, em troca de fotos. Outra vez a amizade, permitindo a realização das pretensões pilotísticas ...

Corri com a equipe do Joca (João Camargo Jr) e do Anildo Sukatinha e também com o Délcio Dornelles. Com este, poderíamos ter chegado em sexto, nas Seis Horas de Guaporé de 1989, não fosse a imensa sede com que foi ao pote um primo do Tadeu Matuzalém, que detonou a barata no terço final da corrida, quando estávamos louco de bem, mais por mérito do Délcio, é claro. O cara (esse Matuzalém) chegou fazendo em corrida de endurance, tempos melhores do que os da classificação. Só podia dar merda ... Saliento que nessas provas, como os carros me eram cedidos a preço de foto, eu pilotava na ponta dos dedos, com a maior preocupação de não estourar o equipamento ou dar um estampaço.

Era por ver gente que, de fato era pior do que eu, que apelidei minha coluna de "Mão-de-Pau". Para conseguir ser pior do que eu, só sendo muito mão-de-pau ... Também corri no saudoso Autódromo Eduardo Cabrera, em Rivera, onde fui até terceiro colocado no campeonato deles. E tinha mais do que três carros, ih, ih, ih .... As folias que a gente fazia lá, duvido que se consiga fazer agora. A corrida era apenas uma parte da diversão ...

Quanto aos braços de madeira, sabes que em alguma edição do Mão-de-Pau, desci a lenha nalguns pilotos que ficaram falando "mal" de mim, que não acelerava, que era uma lesma paralítica, etc? Ali eu esclareci que corria de favor, tremendo de medo para não bater as baratas, sem grana para pagar o conserto, no caso dum tronchaço, que , de fato, não era piloto e, sim, fotógrafo, que fazia boas fotos, tanto que eles compravam, que era escritor-humorista, tanto que me liam. Agora, queriam o que? Que eu fosse, também, melhor piloto do que eles? Só faltava quererem que eu fosse bonito e gostoso, roubando também o mulherio para mim ...

Lembro que fui entregar umas fotos ao Jorge Fleck justamente no dia em que recebeu o Esportemotor. Aí ele falou: "Não esquenta , Lambe-Lambe. Tu tá com a razão. O que esses caras queriam, que tu parasses de fotografar, pusesse o macacão e ganhasse a corrida?" E era exatamente o que acontecia. Lembro da vez em que cheguei no box e o Anildo estava uma arara comigo: "Pô , Lambe-Lambe, faltam apenas cinco minutos pro nosso carro entrar no box e tu sumido?"- Ué, se eu não fotografo o pessoal, além de ser mau piloto, também viro mau "retratista". Sou Mão-de-Pau, mas profissional responsável. Terminei de colocar o macacão, na verdade um abrigo com o nome e grupo sanguíneo, esperei o Joca entrar nos boxes e saí acelerando o Chevettinho verde. Fiz as minhas duas horas, passei a mão nas câmaras e segui, dê-lhe foto ... Dentre os 38 carros, chegamos em 16º ... Com um retratista na equipe ... E uns que outros, aqueles que aprontavam e nos quais eu descia a lenha, tentavam se vingar me chamando de mau piloto. Claro que era, mas consciente e me divertindo para mais de metro ... Ih, isso rende histórias ..."

Perguntei ao "Lambe-Lambe" sobre o fotógrafo Pé-Friu (ou Frio), que fez muitas fotos nos anos 70:

"O Pé-Frio ou (Friu) foi sucedido por minha humilde pessoa, pois havia se mudado para SP. Lamentavelmente veio a falecer com apenas 51 anos, até falei no Mão-de-Pau, que devia ser pela incomodaçáo de tanto levar cano de certos pilotos ..."

Sabendo que ele tinha coberto todas as provas dos anos 80, fiquei em dúvida sobre quem havia registrado seus momentos na carreira pilotística. Ele me respondeu...

"E sabes quem fazia algumas fotos para mim? O Chico Feoli. Eu, um Mão-de- Pau, era fotografado, isto mesmo, por um bota da Fórmula 3 Sul-Americana. Gente fina é outra coisa. O Ayrton Mitzuck e o Walter Boor também colaboraram com a documentação de minha meteórica carreira. Na prova do kart, o fotógrafo foi provavelmente o Arlindo Schunck Filho."
Bom, falando em fotos, vamos a elas:









Na sequencia, com os dizeres do próprio: "a estréia em 24 de julho de 1976, século passado, portanto; depois o bom desempenho na chuva, com o Passat, foi em 19 de junho de 1977. Dei um estampaço na dois, que fiquei com a suspensão toda fora de esquadro e não me deixaram largar na segunda bateria; a prova que liderei em Rivera, com o Passat 77 foi também em 77; a classificação ao lado do Renato Conill foi em 28 de maio de 1978. Acho que eu larguei em sétimo. A outra é da mesma prova; a vitória no Kart foi em 13 de dezembro de 1981. O kart era uma bala; na foto do Regional de Turismo, fui fotografado pelo Feoli em 1987 (dez anos depois de haver interrompido a "carreira"); a última é das 6 Horas de Guaporé de 89. Um baita abraço."

Antes de se despedir, o "Lambe-Lambe" deixou um recado, informando que também havia entrado na blogosfera: "o meu é voltado ao aerodesporto, especialmente ultraleve, onde participo ativamente, tendo uma pandorguinha e, morando aqui em São Vicente, onde tenho uma chacrinha com pista e tudo. Para variar, por falta de pilas (ainda sou fotógrafo) o hangar é uma cobertura de lona." Para acessar o blog clique aqui. Lá vocês poderão ler as histórias do Deoclécio (sempre acompanhado da égua Xuxa e do cusco Ventania) que agora está tentando virar piloto de avião.

Aproveito para registrar aqui que todas ou quase todas as fotos dos anos 80 que aqui foram publicadas são de autoria do "Lambe-Lambe". Quase sempre coloco como fonte o dono das fotos, mas vou me policiar para, quando aparecer o nome "Vilsom" no canto de baixo dos retratos, divulgar o nome dele também. Outro recado que quero também deixar aqui é que o "Lambe-Lambe" tem todas as fotos que fez guardadas em sua casa. Se algum piloto queira entrar em contato com ele é só ligar ou mandar e-mail para os contatos dele que estão divulgados na coluna da direita aqui do Blog.
Valeu, "Lambe-Lambe"! Fiquei muito contente com teus dizeres e tuas imagens.

Fonte das imagens: arquivo Vilsom Barbosa e arquivo Délcio Dornelles.

10 comentários:

Paulo Schütz disse...

Explicação simples: Neste tempo eu atuava como dirigente e como não houve prova para minha "categoria", fui autorizado a participar junto ao pessoal da imprensa, sem direito a classificação. Foi uma prova festiva, final de ano, creio que após uma "100 milhas".
Conheço o Vilson desde os tempos do Passat, sempre foi um lutador e apaixonado pelo esporte, grande fotógrafo, pessoa excelente, nem tão "mão de pau" como costuma se declarar e um grande senso de humor.
Abraços

Anônimo disse...

Mais uma foto de Rivera muito bom.

Anônimo disse...

Mais uma foto de Rivera muito bom.

Anônimo disse...

Me identifiquei com o Lambe-Lambe, pois tbem sou apaixonado por corridas, mas num tenho grana nem mto talento para isso. O meio que achei de ficar próximo ao mundo da gasolina foi tirando foto e filmando. E hj em dia tenho um fusca simplesinho que me divirto no campeonato paranaense, sempre no mesmo esquema, tirando foto e correndo, tudo ao mesmo tempo.

Anônimo disse...

Alô Angelo Gomes, como vai o paranaense de Speed. Os fuscas já são AP ou continuam a ar? Nos anos 90 fiz amizade com o Rogerio Marquetto, o popular Rojão. Na oficina dele, o rei das poles nos speed, conheci algumas técnicas de preparação, grids fantásticos, um mar de fuscas.
luiz borgmann

Anônimo disse...

Olá Luiz, os speeds continuam correndo com grids de 25 baratinhas, mas apenas em Londrina. Aqui pros lados de Curitiba o campeonato acabou faz tempo. Mas o Rogério Marquetto continua na ativa, correndo de Gol na categoria de Turismo em Curitiba. Lendário Fusca da Rojão Escapamentos.

O Fusca que tenho é um Fusca Velocidade, que correm em circuitos de velocidade na terra: http://www.pontaracing.com.br/fotos/134_10etapa08/images/10etapa08_066.jpg

Anônimo disse...

esqueci de falar, lá em Londrina são todos a vento ainda, assim como os fusca cross da velocidade na terra.

Abraço!!

Anônimo disse...

Olá Angelo Gomes, valeu amigo, boas provas para você, vamos acompanhar no site. Um abraço
luiz borgmann

vilsom disse...

Ângelo:

Pois é, a gente sofre quando é pobre e se mete em esporte de rico...
Agora estou metido em outro, a aviação. Sujeitinho que gosta de sofrer tá aqui ...
O pior é que avião não dá para ir na base do vamos levando, como eu fazia com o Passat, fumando um óleo uma barbaridade, e , mesmo assim, conseguindo deixar motorões para trás, na chuva, que no se o não dava, mesmo.
Mas o esquema é o mesmo, isto é, piloto o avião e tiro fotos profissionalmente, para pagar os passeios.
Pobre, mas feliz.
Um abração e sucesso!
Lambe-Lambe

Anônimo disse...

É bem isso Vilsom, é complicado ter o orçamento apertado, mas é grtificante como aconteceu comigo, com motorzinho torquinho, andei na frente de mto motor mais forte e consegui ficar em quinto no paranaense, correndo seis das dez etapas. Pra mim já valeu mto!!!

Pobrete mas alegrete!!!!