Para começar bem a semana aí vai mais uma bela passagem do Carlos Alberto Petry. A prova citada por ele foi disputada no dia 20 de Junho de 1976 e valeu pela terceira etapa do Campeonato Gaúcho de Divisão 1.
Aproveito para dedicar esse post aos amigos Ivan, Nelson e Guilherme Hoerlle mais o Franco Bulich, com os quais tive o prazer de conversar no último sábado à noite.
Vai, Petry!
"Ao piloto Bruce McLaren é atribuída a seguinte máxima: “Vencer não é o mais importante, mas é sempre melhor que chegar em segundo”.
Pois bem, esta estória é de uma corrida que eu tinha tudo pra ganhar, deveria ganhar, mas cheguei em segundo, em razão de um componente que sequer é aceito por muitos, a sorte, ou se preferirem o azar.
Íamos correr as 6 Horas de Tarumã em 1976, tudo dentro dos conformes, o Paulinho Hoerlle fazendo dupla comigo no Passat 18 da Avanço HP e o Toninho Luft, fazendo dupla com a Aiser Hehn no Passat 20 da Calçados Bibi.
Sexta feira, treinos livres, chovia horrores em Tarumã, levamos para pista o carro 19 da Avanço HP que na realidade era o carro do Paulinho, para não arriscar nada com o meu na chuva. Demos algumas voltas e recolhemos, pois não havia as mínimas condições de se aproveitar o treino.
A tomada de tempo era dividida em duas seções de 30 minutos cada uma. Nós recém tínhamos descoberto que pneus bem usados, praticamente carecas eram extremamente mais rápidos que pneus novos. Para dar uma ideia nós virávamos em torno de 1’31” com os “carecas” e 1’34” com os pneus novos, isto dado a que o pneu novo tinha seu diâmetro ampliado, e os motores de 78 HP dos Passat sentiam demais este “alongamento” da relação final.
Com os Polara, o problema era minimizado, em função de sua maior potência, então eles que viravam 1’31” com pneus bem usados, viravam 1’33” com novos. Como eram quatro os Polaras inscritos, em princípio nossa briga seria a partir de 5º no grid. Mas ai vem a ideia do pulo do gato. Era importante nós andarmos com os pneus novos que iríamos correr, então levamos um par de pneus carecas e ajustamos que o Aiser usaria este par na primeira metade da classificação, e nós usaríamos na segunda. Assim saímos e ficamos virando um segundo pior que os Polara, do Fico/Aparício (ambos muito bons), do Sapinho/Bagulho (baita piloto) e do Paulo de Tarso/Arlindo Marx (andavam mais que o carro). Ao entregar o carro pro Paulinho vi nos boxes o par de pneus carecas, e o Aiser lascou, "impossível de guiar o carro com carecas na frente e novos atrás", me sugerindo nem tentar. Instantes antes de iniciar a segunda seção, montamos os pneus carecas e eu fui pra pista. Contornando a dois com velocidade reduzida já pude perceber o tamanho da encrenca, se eu me descuido a traseira chega na três antes da frente. Fiz a volta toda, até a saída o tala, devagar e ali apertei pensando seja o que Deus quiser e contornei a nove esterçando quase no batente do volante. No subir a reta a traseira vinha completamente solta. O ganho nos giros deu alegria, e encarei a um. Se eu fosse pescador diria que cheguei a ver a placa traseira. Assim também fiz a dois, na três outro susto, e no laço tudo normal, assim como no tala, mas, na nove faltou pista para terminar a curva, fui com duas da direita na terra, fechei a volta com uns 3 ou 4 metros de tela presos na traseira do carro. Tirei o pé e lentamente completei a volta e recolhi para os boxes. O Ivan e o Paulinho só riam. Desci do carro encharcado de suor, e o Franco, cunhado do Paulinho e do Ivan e cronometrista da equipe, mostrou o relógio parado no 1’31” 32/100. Era uma pole com um segundo e meio sobre o Polara dos irmãos Barros de Júlio de Castilhos, e que tinham apoio direto da Chrysler.
Lá no início eu falei que eu deveria ganhar, e que tinha tudo pra ganhar, e isto por um detalhe muito importante, os Passat, andavam tranquilamente duas horas com um tanque de combustível, o que significavam duas paradas numa prova de seis horas, já os Polara não cumpriam duas horas, logo teriam que fazer uma parada a mais, salvo se economizassem combustível e se economizassem nós, a turma dos Passat, éramos tão ou mais rápidos que eles e além disso achávamos que eles teriam que trocar os pneus traseiros.
Na largada deu o óbvio e antes de entrar na curva um eu já estava em quarto, com o Fico liderando, o Bagulho em segundo e o Paulo de Tarso em terceiro. Os Polaras evidentemente economizando, pois não tínhamos qualquer problema em acompanhá-los, e com umas trinta voltas partimos pro ataque. Primeiro passei o Paulo de Tarso, duas ou três voltas depois a vítima foi o Bagulho, e o Fico percebeu e apertou, era o que eu queria, que ele andasse forte pra gastar combustível. Assim fomos até a primeira parada. Ele parou e eu três ou quatro voltas depois. Lá assumiu o Aparício aqui o Paulinho Hoerlle e no carro do Aiser entrou o Toninho Luft.
Mais duas horas transcorreram e a estas alturas o Aiser reassumia seu carro na terceira posição, eu reassumi o meu carro e o Fico o dele, e embora liderando teve que trocar os pneus traseiros, com consequente perda de rendimento, mas ele tinha uma boa vantagem e quando eu me preparava para ultrapassá-lo, na curva oito, aproximando-se da nove o Aiser passou por nós dois e sumiu, com o carro dele tendo um rendimento espantoso. Esclarecendo: na segunda parada o Ivan mandou abrir o capô dos dois carros, e deu uma “marteladinha” na base do distribuidor de ambos. No meu carro não se notou nenhuma diferença mas o carro do Aiser endoidou. É o componente estranho, deu sorte pro Aiser e pro Toninho. De qualquer forma foi uma grande vitória de quem mereceu, e muito especialmente foi mais uma vitória para o Ivan Hoerlle, que na época estava se firmando e afirmando como preparador."
Abaixo o registro do Passat vencedor.
Fonte da imagem: Jornal do Comércio - arquivo Roberto Schmitz.
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5 comentários:
Eu prometi pro Aiser que um dia em conto a história do "Porquinho Voador".
Bagulho, para quem não viveu aqueles tempos, se chama Luiz Carlos Viana. O Paulo de Tarso é o pai do Tarso e do Tiago Marques, e dono da Action Power.
Conta a reza que o Luiz Carlos Diniz Viana não conseguiu terminar o campeonato porque a financeira foi lá no Tarumã buscar o Dodge Polara por falta de pagamento nas prestecas, é verdade ou era fofoca da oposição?
luiz borgmann
Ao pessoal dos Dodginhos daquela época, reclamavam muito da pouca durabilidade dos rolamentos dianteiro/direito, acabavam fundindo devido ao esforço mecânico, provocando o travamento daquela roda de apoio que é a mais exigida em Tarumã. Era verdade ou havia outro impecilho técnico?
luiz borgmann
Sei não essa histária de financeira não é do meu conhecimento e o Dodginho que eles correram que eu saiba era do Sapinho. Já quanto aos rolamentos de roda dos Polara, algum fundamento tem, me recordo de alguns problemas dessa natureza, tasnto na dianteira quanto na trazeira direita.
Mas o fato é que o Bagulha guiava uma montão.
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