segunda-feira, 7 de março de 2011

Confusão de neurônios

Lembram daquela sucata de 147 que foi publicada aqui no blog na semana passada? Pois o Carlos Alberto Petry atendeu o pedido do amigo aqui e nos conta em detalhes a história daquela pancada.

"Em 1983 a CBA organizou o Campeonato Brasileiro de Marcas, com as quatro montadoras existentes no país se fazendo presentes. Aqui no RS houve uma repetição do ano de 1982, com duas categorias distintas, Chevette e Fiat, mas com preparo de motor idêntico ao do brasileiro. Até um determinado momento no ano, as provas eram corridas separadas, uma para os Chevettes outra para os Fiats.

Embora os Fiats fossem ligeiramente mais rápidos, resolveram unir as duas provas, com classificação geral e também por marcas. Não me recordo com precisão, mas numa das primeiras provas com ambas as marcas, foi que aconteceu o acidente.

O grid de largada era ocupado pelos Fiats aproximadamente até a décima posição e os Chevettes dali para traz. Largamos e, sempre com os Fiats à frente, completamos a primeira volta.

Acontece que um Chevette que não lembro qual, logo após a largada, teve rompimento do anel de vedação do filtro de óleo, e contornou a Curva Um, “lambuzando” o asfalto de óleo. Acho que ninguém viu nada, pois quando completamos a primeira volta havia bandeira verde. Me recordo que eu estava em 5º, o Quadrado liderava, seguido pelo Castrinho, Paulinho Hoerlle e o delegado Ribas em 4º. Foi o tal do “deixa que eu rodo” com todo mundo dando pião, uns saindo pra dentro, outros pra fora, outros ainda ficando parado na pista. O certo é que ninguém ficou por menos que dois giros sobre si mesmo. Aparentemente terminado o “salseiro”, milagrosamente ninguém havia batido em ninguém.

Eu estava parado com a traseira quase tocando “nas latas” do lado de fora da um. Alguns centímetros à frente estava o Castrinho com o seu carro apontando para minha porta direita, quase colado no guard rail.

Era gente correndo pra todo lado, quando surgiu o Manivela com o Chevette perdido, duas rodas na terra e duas no óleo. Pensei: vai me esmagar contra o carro do Castrinho e engatei a primeira e arranquei, pensando em escapar daquele Chevette que vinha a uns 150 km/h. Pensei errado. O Manivela ganhou a briga com o óleo e me encheu em plena pista. O resultado está na foto.

Conclusão: fraturei o tornozelo do pé esquerdo, mas a pancada na cabeça fora tão forte que gerou um baita confusão. Deu mistura de neurônio, alguns do lado direito foram parar na esquerda e vice versa. Prontamente atendido, fizeram uma bota de gesso no pé direito. Sem poder dirigir, fui conduzido à Taquara e já em casa, um ortopedista local foi lá, liberar o pé direito e fazer uma bota de gesso no esquerdo, que era o que realmente eu havia fraturado. E olha que lá em Tarumã ainda assisti a prova que re-largou, pulando num pé só que era exatamente o fraturado, e sentindo a dor no outro que não tinha nada. A pancada na cabeça foi realmente muito forte, e provocou rompimento de uma “peça” que eu nem sabia que tinha, uma tal de janela oval, fruto de uma fissura no crânio com 14 cm de extensão. Para completar o quadro há que se acrescentar fratura em três costelas.

Concluindo, cumpre-me a obrigação de dizer que o Manivela não teve absolutamente culpa alguma e que se eu não tivesse movimentado meu carro, talvez ele tivesse evitado o acidente.
Igualmente dizer que os profissionais que me prestaram os primeiros socorros foram muito eficientes e que se protegeram o pé errado foi por informação erradas que eu prestei, em função de uma desorientação mental que era tão imperceptível que nem eu percebia e que só vim a perceber o acordar no dia seguinte e encontrar sangue na fronha do travesseiro.

Nesta época eu voava planadores no Aeroclube Albatroz em Osório e estava prestes a participar de minha primeira competição de vôo a vela que iria ocorrer em Palmeiras das Missões. O médico especialista que me tratou me proibiu definitivamente os planadores e eu, muito a contra gosto, cumpri suas determinações, após ele me mostrar vários livros sobre acidentes com planadores provocados por pilotos com labirintite.

Finalmente esclareço que doeu sim a pancada, muito mesmo e se estou aqui contando o ocorrido devo talvez ao capacete de kevlar que meu amigo Farina trouxe da Alemanha. Aliás Sanco, seria oportuno se ter notícias dos primos Farina, o Ernesto e o Carlos Alberto que foram tetra campeões brasileiros de Rallye."


Como disse o Petry, naquele dia ele deveria ter recebido uma nova certidão de nascimento...

Valeu, Petry!

Fonte da imagem: arquivo Carlos Alberto Petry - foto Vilsom Barbosa.

3 comentários:

ibraim Gonçalves disse...

Meu amigo Petry, realmente nascestes de novo, neste porrada por isto tirastes féris definitiva, voltei a te encomtrar nos 40 nos de Tarumã, mais gordinho e mais bonito, um abraço.
Ibraim Gonçalves

Carlos Alberto Petry disse...

Não foi tão simples assim, caro Ibraim, ainda arrisquei correr algumas provas em 83, fiz também algumas provas em 84, e fui perdendo a motivação, parei no final de 84 e ainda voltei e fiz algumas provas em 88, a convite de alguns amigos, mas confesso estava andando e com saudades do sofá de casa, então parei em definitivo. Para não viver se nada de emoção comprei um ultra-leve, e com esta máquina me diverti muito, inclusive fazendo o Janjão Freire, tomat um banho sem querer, na lagoa de Capão da Canoa, onde ele também se divertia com um Jetski, mas esta eu conto outro dia...

Marcelo Pacheco #49 disse...

muito legal esta historia (apesar do susto e do risco).
vida de piloto não é facil...triste fiquei ao ver o fiotinha detonada, sabendo claro que vc caro carlos, se recuperou bem.
vou mandar o link desta historia para meu amigos pilotos na nossa lista de bate papo do google
visitem nosso blog: http://poeiranaveia.blogspot.com/
abç
marcelo pacheco
piloto da TCC (turismo clássico catarinense)
fiat Uno #49