De acordo com as informações obtidas lá no blog amigo "Histórias que Vivemos", este Fusca foi o primeiro a ser utilizado em competições aqui no Rio Grande do Sul, em 1956. Ele era equipado com um motor Porsche 1.500 Super, 1588 cc e 70 hp.
O VW Fusca com motor Porsche venceu diversas corridas sendo a primeira no Circuito Parque Farroupilha naquele mesmo ano. Ainda em 1956 a dupla Aldo Costa/Haroldo Dreux participou da I Mil Milhas Brasileiras em Interlagos e concluiu num excelente sétimo lugar. Vale lembrar que o segundo colocado na geral foi também um VW Fusca com motor Porsche, pilotado por Eugênio Martins e Christian Heins, demonstrando a força daquele equipamento. Mais tarde, em 1960, a dupla Costa/Dreux concluiria os 500 km de Porto Alegre na segunda posição, atrás somente da dupla Catharino Andreatta/Breno Fornari. Nos 500 km de Porto Alegre de 1962 a dupla e seu VW-Porsche #36 chegou em quarto lugar (imagem abaixo).
A receita VW-Porsche começava a proliferar. O quinto colocado foi um carro idêntico, pilotado pela dupla Paulo Feijó/Renato Petrillo. O último resultado de expressão de Costa/Dreux que tenho registro - vou confirmar com o Jorge - foi um terceiro lugar na prova II Circuito da Indústria Automobilística Cavalhada/Vila Nova disputada em dezembro de 62.
Haroldo Dreux foi uma importante personalidade do automobilismo gaúcho daquela época e deixou sua marca não apenas nos ótimos resultados nas provas disputadas, mas também pelo espírito empreendedor. Sobre este último, divido com vocês um relato do amigo Raymundo Castro a respeito da construção do Protótipo X1, que já teve suas imagens publicadas por aqui há alguns meses, cortesia do amigo Roberto Giordani.
"Alô, Leandro.
Estou repassando um resumo de informações sobre o histórico da construção da réplica do Porsche que era identificada como " X1 ". Procurei ilustrar com maior fidelidade os fatos e dados da época, mas não encontrei nenhum documento ou desenho, uma vez que provavelmente todo material ficou retido na fábrica Albarus, após a ruptura do Haroldo com outros Diretores da empresa. De modo que transmitirei apenas dados da memória.
No início da década de 1960 o Haroldo ficou entusiasmado com as linhas do Porsche modelo 904 que recém havia sido lançado na Europa. Solicitou a mim, na época Engenheiro do Controle de Qualidade da Albarus, que entrasse na equipe para construção de um protótipo que deveria ter mecânica nacional e somente dois lugares. Usando projetistas do setor de ferramentas e baseando-se em fotos de revistas foi feito um layout completo.
A carroceria seria feita em chapas de aço sendo a estrutura principal uma viga retangular que no habitáculo constituiria as caixas inferiores das portas, afunilando para formar espaço para as rodas dianteiras e terminando parafusados no quadro de tubos paralelos usado nos Volks Sedan. A suspensão dianteira e a caixa da direção seriamentão, totalmente Volks. As vigas laterais fechariam o contorno da carroceria servindo de fixação da caixa de cambio VW, montada invertida, uma vez que o motor seria central. A suspensão traseira seria com um braço longitudinal fixado aos semieixos VW e com um suporte especial para regulagem da altura de uma mola espiral. Conforme definição do Haroldo, o motor seria um dois litros Boxer, arrefecido a ar e usando as dimensões de cilindro do JK (Alfa Romeo). A carcaça principal seria feita de chapa de aço soldada, os cilindros fabricados em alumínio com camisas embutidas em ferro fundido. Dois cabeçotes de alumínio com quatro comandos de válvulas. Uma ventoinha projetada para a potência a ser dissipada. O virabrequim a ser fabricado a partir de um bloco maciço de aço. Bielas A. Romeo.
O protótipo X1 seria fabricado como um produto da Albarus e a idéia do Haroldo era após testes do protótipo produzir pequenos lotes em linha de montagem. A produção do protótipo do motor teve início com profissionais alocados da ferramentaria. A parte de chaparia foi um capítulo a parte. O Haroldo contratou um chapeador de POA, chamado Carlan, que era um gênio no trabalho em chapas de aço. Ele recortava um pedaço de chapa, levava para casa e no outro dia aparecia com um paralama pronto. Ele não mostrava o processo de fabricação para ninguém, mas sabia-se que ele usava aquelas máquinas de conformar que tem dois roletes redondos que giram num sentido e no outro e o operador vai movimentando a posição da chapa manualmente. O Carlan realmente fez um trabalho artesanal magnífico. A fabricação dos componentes do motor foi executada como planejado com uma exceção que foram os cabeçotes. Na fase de protótipo a ideia era efetuar um bloco fundido em alumínio, conformando dutos e câmaras de combustão com machos e fabricando as aletas de arrefecimento com um processo de usinagem. Tentamos algumas fundições do RS mas não tivemos exito. Ao usinar sempre apareciam vazios no fundido e não encontramos nenhuma fundição que conseguisse apresentar uma peça que não fosse um queijo suiço.
A parte de montagem mecânica seria feita na Escuderia Galgos Brancos do Catarino Andreatta que na época era financiado pela Albarus como forma de divulgação dos produtos SPICER. Na oficina da Escuderia tínhamos o mecânico Tergolina, já famoso na preparação de carreteiras.
Julgo que no ano de 64 ou início de 65, houve a saída do Haroldo da Albarus, quando o projeto X1 foi cancelado pela empresa. O Haroldo na sua saída, negociou a compra do que já tinha sido concluído do protótipo que levou para a nova empresa de fabricação de autopeças TORNADO, que ele havia constituido e era o principal acionista. Fui contratado por esta nova empresa e continuamos a construção, porém usando como motor um VW da época que originalmente era com 1200cc, porém equipado com um virabrequim TORNADO passava para 1400cc. Com carburação dupla o protótipo era um carro com desempenho muito bom para a época. Na Tornado o X1 foi concluido executando-se a pintura, o dispositivo de comando das marchas, assentos, estofamento, tanque de combustível, etc...
A parte de montagem mecânica seria feita na Escuderia Galgos Brancos do Catarino Andreatta que na época era financiado pela Albarus como forma de divulgação dos produtos SPICER. Na oficina da Escuderia tínhamos o mecânico Tergolina, já famoso na preparação de carreteiras.
Julgo que no ano de 64 ou início de 65, houve a saída do Haroldo da Albarus, quando o projeto X1 foi cancelado pela empresa. O Haroldo na sua saída, negociou a compra do que já tinha sido concluído do protótipo que levou para a nova empresa de fabricação de autopeças TORNADO, que ele havia constituido e era o principal acionista. Fui contratado por esta nova empresa e continuamos a construção, porém usando como motor um VW da época que originalmente era com 1200cc, porém equipado com um virabrequim TORNADO passava para 1400cc. Com carburação dupla o protótipo era um carro com desempenho muito bom para a época. Na Tornado o X1 foi concluido executando-se a pintura, o dispositivo de comando das marchas, assentos, estofamento, tanque de combustível, etc...
Pelo ano de 65 o X1 foi exposto no Salão do Automovel que na época ainda era no Parque Ibirapuera. No retorno de SP voltei dirigindo o XI. Foi uma experiência gratificante. Creio que em 66 o X1 foi vendido a um morador de POA e era usado como veículo normal. Após foi vendido para um dono de uma oficina de reparação chamado Mantovani, em Caçapava do Sul, RS, que procedeu pequenas modificações de estilo e substituiu o motor por um VW AP. Está com ele até hoje.
Abraços, Raymundo."
Excelente relato do Raymundo que aparece abaixo, junto ao X1 em sua configuração atual.
Abraços, Raymundo."
Excelente relato do Raymundo que aparece abaixo, junto ao X1 em sua configuração atual.
Agradeço ao Jorge e ao Raymundo pelas imagens e informações.
Fonte das imagens: arquivo Jorge Dreux, Roberto Giordani e "Histórias que Vivemos".
6 comentários:
Leandro, ficou ótima reportagem. Te agradeço muito e da mesma forma ao Raymundo. Espero logo poder te mandar mais fotos e histórias de meu pai. Abraços, J. Dreux
É com imensa satisfação que leio esta magnífica descrição de uma parte da vida de um grande engenheiro, de um grande esportista e de um grande piloto, que foi Haroldo Dreux.
Jorge: como filho deste ícone do automobilismo de competição, podes te orgulhar em ter tido esta "fera" como pai e amigo.
Nos longos papos que já tivemos a respeito, em que Haroldo sem me conhecer, trouxe seu apoio a mim e meu VW no grid de largada no Circuíto de Taquara no longínquo 1960( 50 anos portanto)reitero o que disse, que ainda publicaremos mais fatos do Haroldo com a marca que acredito ser a melhor, ou seja:
Haroldo Dreux - um piloto engenheiro muito à frente de seu tempo.
Parabéns também a ti, Leandro, por mais este brinde que nos entregas.
Roberto Giordani.
Jorge e Leandro, ver aquele VW largando ao lado das carreteras nos 500 KM de Porto Alegre emociona, eles largaram lá na frente, segunda ou terceira fila, e brigaram de igual para igual com carreteras que tinham o triplo da potencia deles. Em várias partes do filme vê-se eles andando, se eu já me emocionei imagino como vai ficar o Jorge. Sei que devo esta postagem já a algum tempo bem como o filme, vou tentar coloca-los a semana que vem. Vou enviar daqui a pouco ao Leandro mais algumas fotos do VW-Porsche da grande dupla Dreux/Costa.
Abs
Rui
Aproveito para tecer alguns comentários a respeito do outro piloto, Aldo Lourival Peixoto Costa, ou simplesmente Aldo Costa. Competiu com carreteras antes das participações com Haroldo Dreux no VW-Porsche. Após passou a desenvolver os Simca Chambord, que eram os V8 flathead com 2,4 litros, que alguns afirmavam que Aldo tinha apoio extra-oficial de fábrica. Os Simca eram em sua maioria preparados na concessionária de Porto Alegre chamada Cranwood, na rua Lima e Silva onde hoje se localiza o shopping Olaria, onde além dos carros do Aldo, também vi os carros de Antonio Pegoraro, Gabriel Cuchiarelli, Ciro Cayres, Jayme Silva. Na parte de motor, eram elaborados pelo Manoel Dias (que também era conhecido como Português, Manoelzinho ou somente Dias). Após a Chrysler ter adquirido a Simca do Brasil, em 1969, Aldo levou o Dias como mecânico na preparação dos Fusca D3 para Tarumã, onde competiu por alguns anos, e depois abriu uma oficina com o Dias na Av.Praia de Belas, voltada para carros de competição. A oficina durou pouco tempo, e depois Aldo se afastou definitivamente das competições em meados dos anos 70. Empresario dos transportes, alguns dizem ele fora um dos socios da Coletivos Trevo. Aldo faleceu em 2004, de ataque cardíaco, aos 70 anos.
Quanto ao Manoel Dias, que conheci em seu reduto dos motores, nunca mais o vi, ele certamente deve ter grandes histórias de nosso automobilismo para contar.
luiz borgmann
A quem possa interessar,tenho uma carteira de identidade do exército em nome de Haroldo Dreux Ministério da guerra achei oi a acaso.
Bom dia, sou neto do Haroldo.
Como posso obter essa carteira contigo?
Gustavo Dreux
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