sábado, 18 de julho de 2009

Chiqueiro, Chiqueirinho e Chiqueirão

Pensei que seria difícil adivinhar "o onde" do último Desafio, mas os blogueiros me surpreendem cada vez mais com seus conhecimentos sobre automobilismo. O piloto em questão era realmente o grande Roberto Giordani, que a partir de hoje presenteia o blog e seus leitores com algumas histórias sobre sua trajetória no automobilismo. Complementando a informação, Giordani e seu DKW #88 cruzavam a linha de chagada da prova Estrada da Produção na cidade de Lageado. Mais adiante falaremos mais sobre essa prova.

Tive o prazer de conhecer o Giordani por ocasião do lançamento do livro do Tarumã, no ano passado. Fiquei surpreso pois ele se dirigiu a mim já dizendo meu nome e desde aquela data ele já insistia para eu comparecer a uma reunião dos "Jurássicos", nas quais se encontram grandes pilotos da antiga. Ainda estou devendo a visita, mas já aviso que ela vai acontecer muito em breve.

Surpresa maior foi descobrir que ele gosta muito de escrever e escreve muito bem e praticamente tudo o que será publicado a partir de agora tem a autoria do próprio. Começando pelo começo, Giordani conta um pouco sobre seu início nas carreras. Vi um registro dele em uma prova em Taquara em 1960 e o questionei se aquela tinha sido sua estreia. Ele então respondeu.

"Na verdade, a estreia foi (ou deveria ter sido em 1958 no circuito da Cavalhada/Pedra Redonda. Eu considero de 1958-1979 meus anos de pilotagem. Antes desta data, eu e uma montanha de "guris" ou até mais velhos, fazíamos dos circuitos de ruas recém pavimentadas, e inventados por nós, nossas "pistas de corridas noturnas", evidentemente que em lugares desertos de casas e pessoas. Assim, pela ordem, "nasceram" o Chiqueiro (na Praia de Belas e ruas adjacentes onde depois foi a fábrica da Pepsi Cola; depois o Chiqueirinho (Chácara das Pedras recém arruada, o Chiqueirão (ruas da Vila Anchieta recém arruadas; foram tantos assim, porque nós "descobríamos" as pistas e depois de usá-las alguns fins de semana à noite, a Polícia acabava com nossa alegria, forçando-nos a ir para outra pista.

Um tempo antes de abandonarmos o Chiqueirão, nós descobrimos um circuito ao lado do tradicional da Cavalhada-Pedra Redonda, enorme e perigoso, que era o Cavalhada-Vila Nova, menor que seu irmão mais velho e uma verdadeira pista seletiva que "formou a nós todos", verdadeiros pilotos de competição antes de entrarmos em competição. Pela Cavalhada-Vila Nova, nas noites das sextas feiras e ou dos sábados, desfilaram em "pegas" sensacionais ou contra o relógio, alguns nomes que já eram famosos ou que vieram depois a sê-lo. A grande verdade, é que nosso "diploma" foi concedido pela Cavalhada-Vila Nova. Serviu por muitos anos para a "formação de pilotos" até que em Maio de 1962, o circuito foi oficializado com a I 12 Horas de Porto Alegre, corrida esta que também comporta várias e várias páginas de detalhamento, assim como as edições de 1963 e a última em 1968.

Mas te conto o início da minha boa história de estreia em pistas de competição: em 1958 eu tinha 20 anos e o sangue "fervia" de desejo de pilotar em competições oficiais. Naquela época os carros rápidos de competição eram as Carreteras, então glorificadas pelas vitórias conseguidas nas Mil Milhas Brasileiras. Não havia quem não desejasse pilotar alguma daquelas "baratas" e eu não era exceção, porém, era "muita areia para o meu caminhãozinho" de jovem de 20 anos e sem uma economia que pudesse realizar. Havia uma segunda categoria de carros preparados, que eram de Turismo preparados e divididos creio eu, em duas categorias, onde estavam os DKW's, Simca 8 e outras marcas que não recordo. Por fim, uma terceira categoria que eram de Carros Standard, sem preparação (mas algum sempre fraudava) como se fosse uma "Categoria Saloon" ou carros como saem de fábrica. Ali era um verdadeiro desfile de carros, pois entrava tudo que era carro que existia então como Jaguar, Austin, Chevrolet, Oldsmobile, Studebaker, Citröen e outras marcas.

Desde 1951 o "bam-bam" da categoria Standard na época era o Alfredo Ribeiro Daudt, piloto particular que servia o Sr. Leonel de Moura Brizola na época. Na realidade era um baita piloto de carros, tocava forte tudo que pilotava, até carros com câmbio automático como um Chevrolet Power Glide 1952. Se a memória não falha, em 1951 o Daudt correu com um Ford 51 de câmbio mecânico que deu uma verdadeira "saranda" em dois Jaguar Mark V de quatro portas, um prata e outro preto, do Fernando Bier da Silva (prata) e o preto do Antônio Pegoraro, pai do Sérgio e do Bocão. No ano seguinte ou depois talvez, ele pega o tal Chevrolet Power Glide 52, que era do pai dele, e continua ganhando na categoria.

O hoje laureado Engenheiro Mecânico Oscar Fernando Leke (Oca) que tornou-se piloto de Rally, Werner Rodolfo Meyer que tornou-se piloto de VW (parou cedo de correr) que dividiu o carro nº 37 com Pedro Carneiro Pereira em 1962 nas 12 Horas, e eu, que temos uma forte amizade desde 1951, viva até hoje, éramos, os mais entusiasmados de um grupo de amigos que frequentavam juntos os circuitos piratas e nos tornamos pilotos depois.

Por hoje, esta história está muito longa. Olha esta foto aí abaixo, descobre o que é. Foi neste que tentei estrear em 1958. Um grande abraço - Roberto Giordani."


Sensacional esse relato do Giordani. Impressiona a memória muito viva dele sobre esses fatos que datam mais de 50 anos. Aguardem que vem mais por aí.

9 comentários:

Fernando J. Onofrio disse...

O Roberto Giordani, de que tenho a honra de me considerar seu amigo, foi um baita piloto, com conheci-mentos mecâncios acima da média dos demias pilotos. Nunca vi o Ro-berto andando no fim da fila, fa-zia algumas mágicas. Além do aspec-to desportivo, trata-se de uma pes-soa incrível. A ele meu grande, saudos e distante abraço.

Fernando Jacques Onofrio

Anônimo disse...

Pô Giordani! A história e as revelações estava evoluindo num ritmo espetacular,CONTAGIANTE e aí "abruptamente"corta o barato! Queremos mais! Você não sabia Sanco que o Giordani assim como na pilotagem é nota 10? Poderia abrir alguns espaços E artigos eventuais(como outros blogs do autom.já o fazem)para que o Giordani, especialmente, nos relatasse mais situações,bastidores,pré e pós corridas, e exatamente dessa forma? Avance nessa linha que vai ser uma grande contribuição para todos os entusiastas. PAULO A.TREVISAN

paulo rotta disse...

lendo a história do giordani, lembrei-me, de imediato, dos "autódromos de rua" onde fazíamos pegas em sextas e sábados à noite.

Leandro Sanco disse...

Proposta mais do que aceita, Trevisan. Vou falar com o Roberto. Por enquanto já temos mais algumas coisas que virão ao longo dessa semana.

luiz borgmann disse...

O carro da foto do Giordani deve ser um Buick Roadmaster talvez ano 1951, por aí. Quem acelerava nas ruas da zona sul de Porto Alegre com um desses aí, porém na cor preta, era o saudoso Fernando Moser, isso nos anos 60.
luiz borgmann

Anônimo disse...

Ótima história e realmente a idéia
do Trevisan abraçada pelo Saco é muito boa.

Renato Pastro

Anônimo disse...

...abraçada pelo Sanco...

desculpe nossa falha !!

Anônimo disse...

Roberto Giordani tem história como piloto, amigo, empresário e segue alimentando a cultura automobilística pois é o mantenedor da comunicação e gastronomia dos Jurássicos. Mas, nosso primeiro encontro foi no ínicio da década de 60. Eu era um menino que, sentado no muro, se deliciava em ver como aquele DKW zunindo fazia a curva em velocidade em frente da minha casa, todos dias. Naquele tempo, o asfalto era novidade e curvas de atraiam os poucos jovens motorizados. Ele e outros faziam do bairro trechos de autódromo, o que se ouia falar.
Um dia, a curva ficou mais fechada para a velocidade daquele DKW perfumando o ar com Castrol R40 e o choque num outro veículo foi inevitável. Juntou gente, etc e tal e o motorista precisava de um telefone. Claro ! Pulei a oferecer minha casa alí em frente, o que foi aceito pelo "piloto"; era o Giordani, bem jovem, um gurí, mas bem mais velho que eu. Anos depois consegui estrear em competições(1968) e reencontrei o Giordani. Dalí até hoje uma sadia amizade.
Ah... a tal rua onde eu morava e que no meu imaginário era uma curva de Monza, é onde fica agora o Shopping Moinhos... Imaginem o movimento da época. Era um DKW de manhã e outro a tarde. Abraços. Fernando Esbroglio

Roberto Giordani disse...

Agradeço sensibilisado as generosas palavras de carinho externadas e registradas no Blog pelos leais amigos Paulo Trevisan, Fernando Onófrio, Fernando Esbroglio e Leandro Sanco.
Para compensar, caro amigo Trevisan, vou enviar ao Blog a história completa da minha estréia, ou melhor, o que deveria ter sido.
Depois, com tempo, posso contar outras, aliás, muitas outras.
Ao Paulo Rotta:envia ao Blog, com que carro andavas nas épocas dos diversos Chiqueiros ou a Cavalhada-Vila Nova?Pelo que dizes, deves ser daquela época, ou estou enganado?
Ao Luiz Borgmann: o da foto(igual ao meu)era um Buick Special 1951, menor e mais leve que o Roadmaster. Propulsor de 8 cilindros em linha, 4800 cc de cilindrada, potência nominal de 137 HP. que "melhorado" em aumentar a taxa de compressão e giclagem da carburação( únicas modificações permitidas no propulsor na Cat. Standard)levou-nos a avaliar na oportunidade, ter passado dos 150 HP; não haviam dinamômetros disponíveis para se saber a verdade;pouca potência para o peso.
Se dizes, o Moser, que somente vim a conviver com ele já em Tarumã, a partir de 1970, deve ter "brincado" com um de cor preta; entretanto, o meu desafiante da época, era o Fernando Lima, que tinha um Buick exatamente igual ao meu.
As noitadas nos diversos tipos de pistas( Chiqueiros e Cavalhada-Vila Nova)eram fantásticas.
Ao Renato Pastro: por acaso, tu tens algum parentesco com os Martini? Alguém de nome Nilo Pastro Martini?
Um grande abraço a todos.
Roberto Giordani