segunda-feira, 20 de julho de 2009

O início do 88

Roberto Giordani correu muitas provas nos anos 60, fazendo por várias vezes o eixo Rio Grande do Sul - Santa Catarina e conseguindo destaque em várias oportunidades, como na Prova Cidade de Taquara, em 1960, nas 6 Horas de Passo Fundo de 1966, 500 km de Lajes em 1967, 200 Milhas de Cachoeira do Sul em 1968, Prova da Estrada da Produção em 1969, entre outras.

Algumas delas ele mesmo nos conta alguns detalhes.

"A imagem abaixo mostra o que depois veio a ser o DKW nº 88. A viatura na realidade foi à pista pela primeira vez em Lages-SC para disputar os 500 Quilômetros de Lages no ano de 1967, pilotado por mim e pelo Jorginho Amorim. Tinha sido preparado pelo saudoso Dino Di Leone. Reparem na foto as condições da pista em que se pilotava em Lages. A pista era de rua, triangular com uma chicane ao final de uma reta, tinha cerca de quatro a cinco quilômetros e o piso era asfalto, paralelepípedo irregular e normalmente embarreado e ao final desta reta a chicane em saibro, marcada com tonéis. Putzzzzz...

O carro tinha o nº 61, pois era a sequência de cinco viaturas DKW que a equipe Aragano, chefiada pelo Dino, chegou a ter, que portavam os números 57-58-59-60 e 61. Ao final de 1967, transferi o DKW para a preparação do meu velho e querido amigo Horst Dierks, foi pintado de vermelho e passou a ostentar o nº 88.

Na sequência, um dos momentos maiores desta viatura DKW 88, quando recebia em Lajeado, de José Carlos Steyner, então Presidente da FGA a bandeira de vencedor da Categoria A, na Prova da Estrada da Produção (reinauguração) em 1969, que percorria os trechos da Rodovia BR-386 de Lajeado a São José do Herval e retorno ao inverso. O fato surpreendente foi a velocidade média obtida por este DKW 88, de 141,7 quilômetros/hora para uma viatura de apenas 1.000 cc, mas que já tinha um propulsor na época que beirava os 100 HP, com uma carburação Solex 40 Tripla independente e sem cubas. Pela média obtida, pela leitura feita no conta-giros e cálculo do "rapporto" final, a velocidade máxima passou dos 180 Km/h nas retas bem asfaltadas da localidade de Marques de Souza.

Nosso DKW 88 e o do Chico Feoli, 99, correram com uma tarja preta sobre o capuz dianteiro do motor e a vitória foi dedicada ao amigo e incentivador, Karl Iwers, desaparecido em acidente automobilístico, ocorrido dois meses antes.

Com a inauguração do Autódromo de Tarumã, o DKW 88 teve de ser extensamente adaptado e foi utilizado em todas provas nos anos de 1970 (inauguração) 1971 e 1972, como 12 Horas, 500 quilômetros etc, com muitas histórias a serem contadas.

Infelizmente, nós com propulsor de apenas 1000cc éramos obrigados a competir com Corcel e VW com 1300cc o que não significou desânimo, ao contrário, o Horst e eu fomos desenvolvendo o 88 até chegarmos nos ponteiros, vindo em apenas dois anos do tempo do grid da inauguração de Tarumã de 1'39"2/5 para 1'28"3/5 em uma prova de 1972 que tem sua largada registrada abaixo, a largada mais sensacional da categoria A desde a inauguração do Tarumã.

O Décio Michel, com quem fiz parceria no Corcel nº 30 depois que em fins de 72 eu parei com o DKW, sentiu-se acossado pelos tempos que vínhamos conseguindo com o DKW e já ameaçando sua liderança dos campeonatos, usou do Regulamento e equipou o Corcel 30 com Pneus Slicks importados, o que me forçou a fazer o mesmo com o meu DKW com pneus Indy Especiais, e também o piloto Roberto Petter com VW com sliks importados.

Pode-se ver na foto que o Décio com o 30 larga na pole (o grid era formado pela posição na disputa do Campeonato), eu com o 88 ao seu lado, e ao meu lado o Paulo Roberto Hoerlle com DKW 89, com o Petter largando mais atrás (o VW com radiador de óleo no capuz frontal). Como sempre acontecia nas largadas, as velas do DKW com grau térmico muito alto (frias), que era obrigado a usar para não furar um pistão, se fossem mais quentes, ficavam meio ensopadas de óleo da mistura do dois tempos, levando pelo menos uma volta inteira para que "secando", entrassem em pleno funcionamento e pudesse desfrutar de toda potência do motor. Com isto, o Décio foge na dianteira e o Petter se aproxima e ambos fomos na perseguição do Décio. Pela metade final da prova, mesmo com a distância conseguida na largada, o Décio imprimia um ritmo muito forte até que na curva 9 é traído pela sua pouca experiência em Slicks e o Corcel escapa nas quatro e vai direto "às latas", deixando-o sem condições de continuar. Um pouco atrás, vínhamos eu e Petter em uma luta feroz, e logo pela liderança da prova. Tanto era feroz que em somente uma volta houve várias ultrapassagens, o que me sinalizava que eu teria que entrar na curva 9, na última volta, na frente do Petter e manter a mesma até a chegada, pois ele tinha mais efetividade na saída de curvas e o eu mais velocidade final, onde eu o ultrapassava na tomada da curva 1, ou na chegada do Laço ou na curva 8, e foi nisto que eu estava focado até que pouco antes do final da prova o VW Fusqueta do Petter não aguentou o ritmo pesado e parou, deixando o caminho livre para a minha vitória.


Estas são apenas algumas passagens das tantas que temos ainda gravada na mente e que sem dúvidas são eletrizantes de ouvir.
Um grande abraço,
Roberto Giordani"

Fonte das imagens: arquivo Roberto Giordani.

3 comentários:

Anônimo disse...

É o Giordani abrindo o cofre... Cheio de informações valiosas, mesmo para a gente que assistiu a maioria dessas provas. Que o #88 tinha andado com slicks no Tarumã é absoluta novidade. E DKW ganhar em plenos anos 70 uma prova até 1300 contra Corcel e Fusca foi sem dúvida um grande feito;aliás um entre vários.Continue divulgando mais... PAULO TREVISAN

Anônimo disse...

Aí Sanco
A cinta - como uma cinta de calça - no capô era comum na época, inclusive para as Decas de rua "tunadas". As rodas dianteiras mais largas que a traseiras também eram comuns nessas baratas.
Abs
Júlio

Anônimo disse...

É verdade, amigo Paulo Trevisan!A julgar pelo que dizia o "seu Iwers",divulgador e incentivador da marca, a sigla DKW significava DAS KLEINE WUNDER, que traduzido seria ESTA PEQUENA MARAVILHA.
Sem dúvidas era diferenciado, pois com propulsor de apenas 1 litro, estrutura pesada,etc...etc...que o punha em desvantagem principalmente frente ao Corcel, que por sua vez além de ser mais evoluido que os DKW, era também mais que os Fuskas 1,3 ou 1,6 cc.
Só que para fazer frente a tremenda diferença de cilindrada, tínhamos verdadeiros gênios em mecânica: os Iwers, Karl e Heinz, e o sobrinho do Karl, Horst Dierks, hábeis preparadores que nos punham nas mãos para pilotar, DKW's rápidos e tecnologicamente atualizados(para aquela época).
O fato dos pneus importados do DKW, vou esclarecer em mensagem que te enviarei com cópia para o Sanco.OK?
Um grande abraço.
Roberto Giordani.