Correndo escondido

Quando tive a idéia de criar o Blog, sabia que um dos objetivos da empreitada deveria passar pelas retrospectivas das carreiras dos pilotos gaúchos, preferencialmente aqueles que tiveram (ou têm) algum destaque na história. Essa "inspiração" viera do antigo site do Chau Gomes, um jornalista que fazia o Velosite-RS, que infelizmente não existe mais. Me lembro muito bem de alguns pilotos com os quais ele chegou a falar e retratar. Entre eles estava um que é a resposta para o último Desafio.

Me lembro que salvei algumas daquelas imagens que foram publicadas, mas mais tarde, acabei tendo problemas com um CD e quase tudo foi perdido. Dia desses o piloto em questão participou do programa de rádio Bate Roda e acabei publicando um post sobre ele. Passou um tempo e recebi um e-mail do Renato Dornelles, filho do Délcio Dornelles Neto, me dizendo que iria me enviar um material sobre seu pai.

Não demorou muito e minha caixa de e-mails já estava minada de incríveis registros da carreira dele, desde os anos 70. Sim, acabei descobrindo que ele iniciara em 1973.

Pois bem, acontece que entre o material, havia um texto que o próprio Délcio havia escrito quando solicitado pelo Chau e que agora servirá de base para uma ótima sequência de imagens por mais de 30 anos de pilotagem. Vou dividir o texto e as imagens em três doses. Hoje vai a primeira.

Antes de iniciar, aproveito para complementar a resposta do Desafio: a prova foi disputada no dia 09 de Dezembro de 1979. Délcio competiu na categoria Standard B e chegou em segundo lugar. O resto, o Paulo Schutz, o Caranguejo de Bagé (que também atende pelo nome de Henrique Mércio) e o Vitorio Soder, ajudaram a responder.

Realmente o Blog está muito bem assessorado...

Pois vamos ao que interessa. Com vocês, o próprio Délcio:

"Corrida de automóvel era um sonho quando vim estudar em Porto Alegre em 1970 (Délcio morava em Getúlio Vargas), coincidentemente ano da inauguração de Tarumã. O esforço era grande para assistir as corridas em Viamão, de ônibus pinga-pinga, 1h40min para ir e mais 2h para voltar.

Em 1973, ao completar 18 anos, cursei a escolinha do Cláudio Mueller com o objetivo de participar das 12 Horas de Tarumã. Embora tenha sentado na Fórmula Vê da escola somente no exame, e tendo o limite de 10 voltas para andar, acabei impressionando por ter virado a volta mais rápida do dia e outras quatro voltas abaixo do tempo obtido pelo segundo piloto mais rápido, dos cerca de 15 alunos da turma.

O Cláudio deu toda a receita para a construção do primeiro carro de corrida que eu iria pilotar, um Fusca, em parceria com Pedro Tagliari (dono do carro). O Fusca, montado em menos de uma semana não correu, ficamos como primeiro reserva da categoria, já que o grid era limitado há 35 carros.

Depois disso, como na maioria das histórias de pilotos, a dureza/falta de grana e as restrições impostas pela família me deixaram no desvio por algum tempo, com participações apenas em treinos e algumas corridas em Rivera em 1976 a 79.

Em 1980 construí meu primeiro carro, um Passat com o qual obtive meu primeiro título em 1981 em Rivera.

Em 1980 e 1981 competi com verdadeiras feras do nosso automobilismo, como Leonel e Anor Friedrich, César (Bocão) e Sérgio Pegoraro, Paulo Hoerlle, Aroldo Bauermann, Flávio Pilau, Antônio Sartori entre outros. O respeito obtido junto a estes pilotos foi o agente motivador da minha carreira."

Vamos a algumas imagens até 1981.

Na sequência: o Fusca #35 com o qual Délcio correu em Rivera nos anos 70. Pelo que me contou o Renato, esse Fusca era de rua e para poder realizar seu sonho, ele ia correr escondido do pai em Rivera. Depois duas também de Rivera em 79. Mais abaixo uma de 80, em Tarumã, com seu primeiro Passat. As seguintes são de 81, em Tarumã e Guaporé, onde é possível ver também os carros de Flávio Pilau #5, Tadeu Matuzalém #4, Luiz Ernani Mello #33, "Bocão" #42 e Sérgio Pegoraro #17, Anor Friedrich #43 e Paulo Hoerlle #16.

Segunda-feira, volto com a continuação dessa história.

Fonte das imagens: arquivo Délcio Dornelles - fotos Vilsom Barbosa.