quarta-feira, 7 de outubro de 2009

As primeiras corridas...a gente nunca esquece

Por sugestão do Fernando Esbroglio inauguramos hoje a seção intitulada "As primeiras corridas...a gente nunca esquece". A ideia apareceu quando dia desses, durante algumas trocas de e-mails, entregaram que o próprio havia corrido uma prova com um cachecol cor-de-rosa no pescoço. Imaginem a cena. Imediatamente o Esbroglio se defendeu e foi daí que surgiu o ótimo texto abaixo.

Tudo contigo, Esbroglio:

"Poucos lembram, mas estreei em Curitiba, naquele autódromo oval da época. Fui lá porque meus pais não sabiam e com medo de ser impedido, fui para longe. Fiz 2° lugar num VW 1300 com motor 1500 cc contra os 1600 cc do kit Fittipaldi (pilotos sempre arrumam desculpas quando não ganham a corrida...).

Era Março ou Abril...de 1968.

Antes disto, em Fevereiro de 1968, na ultima Antoninho Burlamaqui, tentei me inscrever mas o Antônio Pegoraro, então Presidente do Automóvel Clube, não me deixou correr porque meus pais - seus amigos - estavam em Punta. Era tudo que eu precisava para estrear!

"Guri não pode correr sem licença dos pais!"... bradou ele da sala ao lado da Valda, a famosa secretária do ACRGS que faria a inscrição, a mulher mais poderosa do automobilismo gaúcho de então. Putz, pensei, vou ter adiar minha estreia. Diria; Are Baba, hoje em dia!!!

Correr a Antoninho Burlamaqui era um sonho e significava uma chegada gloriosa na praia, de manhã, com milhares de pessoas a aplaudir. Sonhei com isto por uma década mas não foi minha vez. A estrada era conhecidíssima pois trilhávamos aquele percurso todas as semanas, e os tempos cronometrados com trânsito aberto eram viáveis de chegar antes do carro que fechava a pista...

Por sorte o Pegoraro não encontrou meu pai naqueles dias antes de Curitiba e lá me fui, com um Santo Antônio apoiado em pedaços de madeira pois o construí para colocar na hora, pois, ninguém poderia ver o carro pronto antes.

Medí tudo dentro do carro mas na torção dos tubos os tamanhos não fecharam. Tinha umas pernas mais curtas do que outras...mas com um pouco de arame e alguns parafusos auto atarrachantes lá me fui.

O carro, como já disse, era um VW 1300 com motor da Kombi 1500. E o mecânico era o lendário Wilson Drago. Aliás, meu e de mais meia dúzia que foram lá correr em várias categorias.

Para correr em Curitiba, deixei uma carta contando a travessura para meus pais, e minha irmã a entregou APÓS a hora da corrida. Ao chegar, me apoiaram e o resto é história conhecida.

Eu estava fazendo as contas para passar de Novato para Estreante e daí para Piloto de Competição, o ambicionado PC, de olho que eu estava nas 12 Horas que foi a última na Cavalhada-Vila Nova. Fiz as contas e correr em Curitiba me garantiria a pontuação para Piloto de Competição até a data da 12 Horas, e deu certo.

Corrí a 12 Horas com o Raymundo Castro, então sócio do Zé Guedes, meu mecânico naquela ocasião. Raymundo me deu enormes ensinamentos de corrida e dos segredos daquele circuito, cheio de manhas. Cada bosque, árvore, córrego, ponte, Igreja, casa azul (ou verde...ou...ou...) era a referencia para pisar ou frear...ou seguir de pé no fundo. Larguei as 12 Horas e fui bem - acho que íamos em 3° ou 4º. na classe até 1600 - até fundir uma biela...Não conhecíamos o separador de cárter para manter a pressão do óleo em curvas que fosse regulamentar...isto o Vilmar Azevedo me ensinou no ano seguinte.

Logo após Curitiba, veio a prova de Cachoeira do Sul e a tal história do cachecol pink (o Giordani me relembrou, dia destes). Ocorreu que quebrou o meu parabrisas na volta para alinhar. Parei e pedí à minha namorada na torcida, o cachecol dela, amarrei como lenço de mocinho de filme, com um papelão por dentro para me proteger. Era rosa pink e macho naquela época não podia usar estas cores, digamos, mais femininas.

Foi uma corrida inesquecível.

Largamos e logo os cacos de vidro foram para trás dos pedais, e numa freada um caco manteve o pedal meio freado o que consegui destrancar depois de perder posições (de novo as desculpas de piloto...). Meu motor era 1500 cc, os do Enio Sandler e Gilliat Coirollo de Almeida eram 1600 cc, eles em 1° e 2º e eu em 3º... Eles se enroscaram e cheguei, emparelhei com o Gilliat e na curva seguinte rodamos os TRÊS ao final do calçamento úmido, no início da terra...hahahahaha... Retomamos eu e o Gilliat primeiro, ele um pouco à frente e na reta de terra tomei a maior metralha de pedras da vida. Quebrou até o vidro traseiro e o espelho retrovisor interno pelas pedradas no lado do metal dos espelhos. Uma loucura. Foi assim, com toques e encostões até a bandeirada, ele em 1° e eu em 2°. Foi um show, porque o cara era muito rápido e dominava bem a saída de traseira dos Fuscas. O cara era professor de biologia no Colégio São Judas e patrocinado pela escola, andava muito bem. Não obstante, fechava a porta e jogava o carro para cima de mim sem piedade. Morreu num acidente de rua anos depois.

E assim foi meu início de carreira...lembro de cada pedra voando daquele dia."

Caramba, o Esbroglio se superou nessa. Primeiro com a ideia do post e depois com esse texto ótimo. Sensacional!!!

Valeu, Esbroglio!

E agora, quem será o próximo?

P.S.: O Esbroglio disse que não tinha nenhum registro daquela prova. Revirando o baú encontrei algo revelador, vejam.


Que sacanagem...

5 comentários:

Roberto Giordani disse...

Caro amigo Jurássico Esbroglio! Que história complicada para poder correr, hem?Mas é assim mesmo. O que interessa é que depois no passar dos anos, inscreveste teu nome entre os melhores pilotos que o Rio Grande do Sul revelou para o Brasil.
Esta prova de Cachoeira foi cheia de emoções e contratempos;eu também estava na pista com o DKW 88, mas eu havia levado um sobre parabrisa de plexiglass e não tive o vidro quebrado.Espero que não fique somente nesta narrativa, pois deves ter muitas a enviar ao Sanco, aliás, o "babysauro" dos Jurássicos. Um grande abraço a ti e aos blogueiros.
Roberto Giordani.

Roberto disse...

Gilliat a quem o Esbroglio se referiu, segundo meu pai ( Breninho Freire)acelerava muito . Correu com ele nestas 12 horas que Esbróglio queria participar . O fuca quebrou nas primeiras horasda prova. O carro dos irmãos Fittipaldi terminou a prova com uma peça emprestada do fuca do Gilliat, já que este não correria mais .
Gilliat morreu debaixo de um caminhão se não me engano na estrada que leva para Santiago/São Borja . Foi uma grande perda para o automobilismo .

abraços
Roberto Freire

Anônimo disse...

Fantastico esta ideia, e a estreia do Esbroglio. gostaria muito de ter participado desta epoca em que o automobilismo era na raça
O Roberto Freire, filho do saudoso Breninho um puta bota da epoca, era meu colega no Rosario e eu achava o maximo o pai dele ser piloto ainda mais que andava de Sinca
ele deve ter muitas historias para contar .
mãos a obra Roberto
abraçoa todos
Nique

Niltão Amaral disse...

Esbroglio, quando é que tu virá andar com a gente na Classic?! Vou botar umas pilhas no Gui pra ele te convencer! hehehe!

Abraço,
Niltão.

Guilherme disse...

Gilliat foi professor de Matemática da minha mãe no Ginásio.
(Parece que era melhor como piloto do que como professor...)