domingo, 31 de janeiro de 2010
sábado, 30 de janeiro de 2010
O Corcel Schnitzer
A referida imagem fora enviada pelo amigo Roberto Giordani e é ele que contará, a partir de agora, como foi a evolução do Corcel #30.
"Quando falo em Corcel e associo o nome da Casa austríaca Schnitzer é porque nos miramos nas soluções aerodinâmicas das BMW que eram implantadas pela dita equipe, nos imbatíveis carros vencedores da Casa Bavaresca de München na Alemanha. Mecanicamente, o Horst Dierks, para a inauguração de Tarumã em 1970, preparou um cabeçote para o Décio e o restante foi feito na cidade de Estrela. O comando era um Bino, completado por dois carburadores duplos.
A foto abaixo é de 1972, a largada daquela fantástica disputa que houve entre o Décio com o #30, eu com o #88 e o Roberto Peter com VW, todos equipados com pneus importados. A categoria era até 1300cc e o regulamento era o Anexo J da FIA. O Corcel de 1972 praticamente era o mesmo da estreia da inauguração em 1970, acrescido com pequenos defletores nos paralamas dianteiros e já com a suspensão bem trabalhada.
A foto seguinte é de 1973, já sob nossa guarda na oficina do Horst( aquele de boné branco por mentira que possa parecer, sou eu!) onde já aparece a grande asa dianteira inspirada na BMW. Cometemos um pequeno equívoco fazendo redondas as entradas de ar para ventilar os freios. No primeiro treino com a nova frente sentimos uma sensível melhoria no downforce da dianteira e da quantidade de ventos que fluem por baixo da viatura, porém, em meia dúzia de voltas o freio esquentou e acabou, causado pelo nosso erro de fazer as tomadas de forma redonda. Corrigido o problema, voltamos aos treinos e aí sim, tínhamos conseguido com a nova frente, que praticamente evitava as saídas de frente tão características da tração dianteira. O propulsor recebeu comando de válvulas Albert(nome do preparador austríaco do norte daquele país) e uma carburação dupla S.U. de procedência inglesa. Estas modificações tornaram o Corcel imbatível na categoria, a ponto de que nas 12 Horas de 1973, onde avançamos uma barbaridade sob a forte neblina que persistiu até o levantar do sol, a ponto de nos colocarmos na mesma volta, a alguns segundos atrás dos Reginatto que terminaram por vencer na Geral. Teria sido eletrizante a "tocada" final para buscar a vitória na geral, não fosse mais uma vez o azar (acho que sou pé frio em 12 horas, vide 12 Horas de 1968) nos fez sair fora da prova (quebra da trezeta da tração)quando faltavam menos de 2 horas para o final. O carro era quase perfeito!
Em 1974 nos empurraram impiedosamente para a categoria 1600 cc e aí vieram as grandes modificações na foto que o Corcel aparece na chegada da curva do Laço em Tarumã. Foi um absurdo aquela medida, pois o que havia nos Corcéis eram propulsores de tão somente 1340 cc que podiam mal e mal chegar a 1390 cc. Aí surge a genialidade de um grande preparador que é o Horst Dierks: consegue fazer um motor com 1520 cc, ainda longe dos VW e Chevettes 1600, porém com uma robustez impressionante produzida pelas evoluções dos comandos Albert feitas aqui mesmo, com enormes válvulas de admissão e descarga, uma carburação composta de 04 S.U. com coletor multi funcional e o escalonamento total da caixa de câmbio que favorecia as retomadas e a velocidade final. Não esquecer que os câmbios só tinham quatro marchas. Ainda faltava a aerodinâmica e foi aí que a parte frontal da dianteira foi rebaixada a partir do parabrisas dianteiro. Esta foi a evolução em menos de cinco anos de uma viatura vencedora.
Um grande abraço meu caro amigo e companheiro Sanco.
Roberto Giordani."
Excelente o relato de quem acompanhou a história de perto. Observem a riqueza e o detalhe das informações técnicas. Sensacional.
Ah, antes de encerrar, a turma bem observou que a grade dianteira era diferente e o próprio Giordani me informou que era do novo Corcel. Dúvida esclarecida.
Valeu, Giordani!
Fonte das imagens: arquivo Roberto Giordani.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Mais F2
As imagens abaixo foram extraídas de uma revista Auto Esporte. Vejam a ampla cobertura que era dada às baratas. E os carros, todos com grandes patrocinadores. Leonel, Ely, "Bocão" e Aroldo, eram alguns dos gaúchos que aceleraram forte naquele ano.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Baita susto
Aquela foi a estreia de Jan em Tarumã. Ele havia feito de tudo para participar da prova inaugural, meses antes, com o BMW "Esquife Voador", mas não foi possível. O carro estava sem motor e a equipe Cebem estava chegando ao fim de suas atividades.
Já na prova de 71, o piloto lembra que logo após a largada estava no vácuo do outro carro da Equipe Brahma, Renato Peixoto a bordo do Repe 227. Jan guiava o Casari 230. Na chegada da Curva do Laço saltou uma biela do motor do Repe, bem a sua frente. Ele viu a biela saindo do capô. "Tomei um baita susto", escreveu.
A prova, que ainda contou com a participação de alguns pilotos argentinos, foi vencida pela Lola Ford T210 tendo José Renato Catapani na pilotagem.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
A estreia na Fórmula 2
A Hot Car não dava sinais de grande prosperidade. Por outro lado, a Fórmula 2 crescia em número de adeptos, principalmente na região Sul do país. Com a construção e o sucesso do chassi Muffatão, o número de encomendas era animador e pouco a pouco os antigos Polar eram aposentados.
"Bocão" tinha o apoio da Mobil Super, da Cautol e da Predilar, empresas que já o apoiavam na condução do Passat #38, e o apoio foi mantido para sua temporada de estreia na Fórmula 2 Brasil.
O responsável pela preparação do motor Passat 1600 era Clóvis de Moraes. Apesar de reconhecido como um dos melhores preparadores daquela época, Clóvis ainda não tinha trabalhado com motores Passat em monopostos, onde o sistema de refrigeração e a própria posição do motor implicavam em modificações importantes. No chassi e na suspensão, os responsáveis pela preparação da barata eram o Romeu Franzoni e o "Mandrake".
O piloto gaúcho teve pouco tempo para treinar antes da sua estreia, feita em Tarumã, na terceira etapa do Campeonato Brasileiro. Aquela prova seria um marco na carreira de "Bocão", que conquistaria o título nacional, dois anos depois, competindo ainda por 12 temporadas naquela que se tornou a categoria máxima em nosso continente.
Abaixo três belos registros do piloto - feitos pelo amigo Vilsom "Lambe-Lambe" Barbosa, é bom que se diga - sendo a primeira imagem em Tarumã 82, a segunda também de Tarumã, mas em 83 e a última em Guaporé, mesmo ano, quando venceu uma etapa do Brasileiro. Na imagem vemos ainda - da esquerda para a direita - Aroldo Bauermann, Leonel Friedrich, Antônio Pegoraro (comemorando a vitória com o filho), Francisco Feoli, Adu Celso e Pedro Grendene.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Engasgado na própria alegria
Almoço na companhia dos amigos. O papo vai longe. Na mesa estava a turma com a camisa do Speed Channel. O tiozinho do restaurante pergunta se eles são do Curva do S. O Guilherme que veio de Minas (e acelerou também) confirma. O tiozinho fica muito faceiro e diz que assinou a TV a cabo só por causa do canal. Legal aquele encontro. Aquela turma significava muito para o tiozinho e sua família. O que estava acontecendo no autódromo significava muito para todos nós.
Voltamos para o autódromo e os carros já estavam na pista novamente. Na chegada vejo o Joca se divertindo no Espron. Algumas baixas pela manhã diminuíram o número de relíquias. O Ômega teve problemas com o radiador ou as mangueiras, se não estou enganado. O Polar, ainda em fase de acerto, deu poucas voltas com o Jan pela manhã e logo encostou. Se eu pudesse andar nos demais seria ótimo, mas o meu divertimento aquela altura era assistir aos amigos entrando e saindo dos carros como se estivessem cruzando o limite com uma outra dimensão. Era um negócio maluco e o Paulo incansável, dando orientação para todos, com o Marcos e sua turma de fé sempre no apoio.
A adrenalina já tinha baixado, o tempo tinha passado, já estávamos no meio da tarde. A ansiedade há muito tinha ficado para trás. Ali só havia paz, alegria, bons fluidos. Seria ótimo poder fazer isso mais vezes, penso.
Daí o amigo Belair chega para mim e pergunta: "Sanco, cê já andou no Aldee?" Eu não tinha andado e rapidamente me acomodei dentro da barata, com a ajuda do próprio Belair nas instruções. Ligo a geral, bomba #1, ignição. O motor pega fácil, vamos ver o câmbio, VW, então esse vai ser legal.
Naquele momento eu sentava no carro que - sem exagero - foi o responsável pelo retorno dos construtores de protótipos que há tempos estavam inativos no país. Me lembro que quando abri a revista Auto Esporte #300 que trazia a cobertura das Mil Milhas de 1990 e ví a foto daquele carro, não tinha ideia do que estava por vir. O Almir Donato, construtor do carro, participou daquela Mil Milhas e acabou vencendo na categoria até 1600 cc, chegando em quinto na classificação geral. Logo depois veio a ideia de fazer uma evolução do modelo, já com estrutura tubular. O carrinho continuava obtendo sucesso em competições de Endurance e em cerca de quatro anos já tinha conquistado o país. Me lembro também das 12 Horas de Tarumã de 1994, quando dois Aldee foram trazidos de São Paulo. A comprovação do sucesso era evidente. Um deles foi o pole position, o outro venceu a corrida. Os Aldee haviam caído no gosto de pilotos, equipes e público. As provas de longa duração voltavam a incluir uma categoria para Protótipos/ Força Livre, outros construtores começavam a tirar da gaveta projetos há muito guardados. No Rio Grande do Sul, destaque para o protótipo construído por Paulo Barreto (atualmente pertencendo ao acervo do Museu), vencedor de várias provas, o MC Tubarão começava a tomar forma. Mais tarde o MCR entrava nas pistas para concorrer com a nova geração dos Aldee, os Spyders. Hoje são inúmeros protótipos competindo e mais outros tantos sendo construídos. O automobilismo brasileiro mudou, tudo isso graças a esse carro que eu começava a acelerar.
Até então eu havia guiado o JQ Reynard, o Fitti-Vê e o Kaimann F-Fiat. Esse era o primeiro carro fechado. O capacete encosta no teto, me acomodo um pouco mais para baixo. O ronco do motor reverbera dentro do habitáculo, o conta giros tem a luz que avisa quando estamos no limite, fixado em 5000 rpm. Pneus slick da Michelin. São bem largos. O carro é bem estável, mesmo com a traseira leve. Motor e tração estão na dianteira. Primeira volta lenta, mas não demora para perceber que a brincadeira será das boas. O câmbio VW sempre foi o meu preferido, testo a terceira, quarta e quinta para ver se entra como espero. Perfeito. A adrenalina volta rápido, a empolgação idem. Esse carro é uma delícia.
Curva da Vitória, a luz do giro acende, estamos em 5000 rpm, a quarta entra rápido, como esperado, no meio da reta, a luz acena de novo, vamos em quarta, sem exigir muito para ver como é o freio. É duro. Lembro do kart e das primeiras recomendações que o Sr. Moretti me dava: "não freia dobrando!!!" Mas estou rápido e tenho de continuar com o pé no pedal ainda duro na entrada da curva. Hmmm, o carro parece melhor que o JQ Reynard nas curvas. Claro que é só impressão, pois o monoposto foi construído exclusivamente para competição. Esse aqui é um Gol modificado. Mas que trabalho bem feito do Almir! Já na segunda volta, a curva 2 passa rápido e a retomada é um tiro, olha só, ainda não tinha passado na zebra de fora, uau!!! Já fiz amizade com o câmbio, com o freio, com as zebras, está tudo em casa. Saída da curva do túnel e mais uma lembrança de Guaporé: na primeira vez que vim aqui, em Novembro de 1990, assisti a três provas de uma mesma programação, a Fórmula Ford regional, a Fórmula 3 Sulamericana (o Barrichello retornava da Europa e correu aquela) e o Gaúcho de Marcas, que fez uma prova noturna. Me lembro direitinho que havia alguns carros com quatro e outros com cinco marchas. Os com quarta (longa) cambiavam no meio da retinha antes do Radiador. Os com quinta, colocavam a quarta logo na saída da zebra e a quinta já na tangência do Radiador. Da posição que eu estava eu conseguia ver exatamente os movimentos dos pilotos dentro dos carros. Era um barato. Agora era eu que estava alí. Não havia ninguém do lado de fora - ainda bem - e eu tentei fazer o mesmo, bem rápido. Saída da zebra, luz do giro, quarta, esse motor é uma bala, luz de novo e lá vai a quinta, e... não, TERCEIRA!!!!!! Putz, que cagada. Olho no espelho, ninguém atrás como testemunha. Passo lento pela reta do box, aguardando a placa dizendo alguma coisa tipo BRAÇO DURO, MÃO-DE-PAU (lembrei do meu amigo Lambe-Lambe), mas tudo estava em ordem. Vamos com mais cuidado dessa vez. Ainda não foi agora que enfiei a quinta na reta e o motor 2.0 já começa a perder a paciência comigo. Frenagem forte, a curva 2 é feita rápido e a zebra de fora é visitada novamente. Esse negócio está ficando sério. Ai ai ai...
Eu não estava ali para testar limites. Ninguém estava. O objetivo era diversão, praticar a história do automobilismo ao lado de pessoas que, sem esperar nada em troca, se dedicam a isso, mas o motor, mesmo em quinta - que entrou direitinho - gritava alto na entrada do Radiador e eu pensando: será que dá para fazer flat? Por algumas voltas eu me fiz essa pergunta. A velocidade era alta, esse carro deve chegar fácil nos 190, 200 km/h no final do retão. Era irresistível, mas uma rápida aliviada no acelerador na entrada da curva me deixou mais seguro. Mesmo assim o contorno é rápido e a freada é forte para entrar no S. As freadas ficaram mais fortes a cada volta. No final da reta, mesmo em quinta marcha, a luz do giro já vinha acesa. Os braços indicavam que aquela experiência não era mais brincadeira. O carro está muito bem acertado, ele poderia facilmente participar das provas da Endurance. Que coisa de louco! Essa é a última volta. Que pena... Acho que encerro aqui a minha participação dentro da pista. As nuvens escuras já estão sobre Guaporé. Já dá para ver uns pingos caindo.
Chego no box realizado e ao descer do carro, o Paulo pede que eu dê um depoimento ao Speed Channel que nos acompanhou o dia todo. O Mosquetta, um gente boa que começou filmando casamentos e agora é O CARA das filmagens do esporte a motor aqui no RS, me diz para falar meu nome e o nome do blog. Foi difícil até dizer meu próprio nome. Eu estava meio que engasgado na própria alegria. Ele perguntou o que significava aquele encontro e aí eu começei a falar.
Quando a gente está emocionado, fala bobagem, exagera, mas não tinha como não ser assim. Lembrei de quando eu era um piá e das corridas daquela época e de como as lembranças mais remotas da minha vida se confundem com os carros, os pilotos, as corridas. Quando é que eu iria imaginar que poderia voltar no tempo e ver uma baratinha daquelas andando comigo ao voltante? Nem em sonho, meu amigo. Nem em sonho.
A chuva vem cumprimentar a todos. Não havia ninguém sem um grande sorriso no rosto. O grupo se reune para uma foto. Continuava chovendo, mas ninguém se importava. O Paulo ganha um merecido e longo aplauso por tudo o que ele faz em prol dessa paixão em comum de todos nós. Voltamos para Passo Fundo, mas antes fui fazer uma visita que em todas as vezes que estive em Guaporé adiei. A gente sempre saia do autódromo cansado, querendo voltar logo e a visita ao Cristo Redentor era sempre adiada. Mas dessa vez, não teve desculpa. O Anselmo me acompanhou. Lá do alto é possível ver a cidade toda. Um agradecimento por tudo que vivemos nesse final de semana é o mínimo que posso fazer. A gente volta conversando, não acreditando no que tinhamos feito. Se desse, a gente não saia mais do autódromo.
domingo, 24 de janeiro de 2010
Desafio da Semana
sábado, 23 de janeiro de 2010
Jan Balder
Sobre a imagem do Fusca publicada, peguei emprestada do amigo Joaquim. Era Tarumã, 1972. Conversando com o Jan ele acredita que tenha sido do Campeonato Gaúcho de Divisão 3, pois naquela época ele vinha muito ao estado e decidiu disputar também aquele torneio. Naquela imagem aparecia também o carro dos irmãos Lino e Denis Reginatto. Nas provas curtas, o Lino era quem tocava a barata e acabou conquistando dois títulos (72 e 73) da D3 Classe B (1301 até 1600 cc).
Jan tem muitas histórias para contar e para a felicidade dos amantes do automobilismo publicou o livro "Nos bastidores do automobilismo brasileiro: por que tantas vezes campeão?" em 2004. Me lembro como se fosse hoje. Eu soube disso, acho que pelo programa do Reginaldo Leme, descobri o e-mail do Jan e ele disse que a irmã dele, que mora aqui em Porto Alegre, tinha um exemplar. Fui lá, feliz da vida, comprei o livro e acho que em uns três dias - estava em férias - li todo ele. Nunca um livro sobre automobilismo tinha segurado tanto a minha atenção quanto esse, pois a história do Jan se mescla com a história do próprio automobilismo nacional, no seu período de amadurecimento.
O nome Jan Balder ainda esteve muitas vezes associado às vitórias nas corridas no Rio Grande do Sul, como nos 500 km de Porto Alegre em 1968, quando venceu com a BMW abaixo ao lado de Chico Landi, nas 12 Horas de Porto Alegre do mesmo ano, quando saiu vitorioso na Classe A, ao lado do cunhado Henrique Iwers no famoso DKW #9 e 12 Horas de Tarumã em 1971, em mais uma vitória na Classe A em dupla com Fausto Dabbur. Além disso, sua última prova como piloto foi também em Tarumã, quando correu nas 12 Horas de 1986 num Escort, ao lado de Walter Soldan e José Francisco Soares Bammann.
A participação de Jan no evento foi muito especial pois marcou o reencontro deste com o carro que foi seu em 1975 na categoria Divisão 4. O protótipo, um Polar, recentemente restaurado pelo Mestre Paulo Trevisan, foi para a pista pela primeira vez justo naquele dia e nas mãos de seu maior piloto. Foi um momento muito emocionante.
Mas Jan não se limitou a sentar novamente no Polar. Andou em vários carros e colaborou com várias filmagens na pista. Numa delas, o próprio piloto pediu para levar o microfone na mão para ir narrando uma volta completa em Guaporé. O Mosquetta adorou a ideia.
Não poderia deixar de ganhar um autógrafo no livro e Jan o fez com muito prazer. Agora nele está escrito:
"Amigo Leandro,
Nossa amizade e mesma Paixão pelo Automobilismo.
Super Abraço,
Jan Balder"
Valeu, Jan! Foi um baita prazer te conhecer.
Fonte das imagens: arquivo Francisco Feoli, revista Quatro Rodas e arquivo pessoal.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Embrulha esse para levar, por favor.
Pergunto pro Paulo onde está o cinto e ele diz que não tem (!). Uma rápida arranhada na primeira, solto a embreagem rápido para não forçá-la, giro alto e lá vamos nós de novo. Câmbio suave, suspensão e motor idem. Uma belezinha. É claro que a carga emocional é menor, afinal o batismo já tinha acontecido antes e também eu conhecia pouco sobre os Fórmula Vê, ao contrário de uma dezena de experts que passaram o dia falando e andando naquele carrinho. Mesmo assim, aproveito o momento raro, que acaba passando rápido. O Paulo disse para não deixar o motor morrer na entrada do box, chego acelerando para manter o giro alto. Vejo o Tio Zullino com seu capacete vintage e óculos especiais - para enxergar os instrumentos, como disse o Vicente - já pronto para entrar e acelerar. Rápida troca de "pilotos" (na verdade o Zullino pilota mesmo, na Classic em SP), e o Fitti-Vê estava novamente em ação. E o Paulo sempre dizendo "VAI, VAI, VAI!!!"
Um breve descanso. Se o dia terminasse ali eu já estava mais do que satisfeito. A movimentação era intensa. Aquilo parecia festa de confraternização da turma que fez um bolão e acertou na mega sena - se é que isso existe, claro. Mas acho que mesmo na turma da mega, deve haver muita inveja, discórdia, pois sempre tem um que apostou uma grana a mais que o outro, a ganância aflora, dane-se a amizade. O que vimos em Guaporé foi um grande companheirismo. Todos faziam questão de ajudar os demais naquilo que pudessem. Parou um carro, o novo piloto é mais "gordinho"? Já tinham uns três sobre a barata para ajustar o cinto, regular espelhos, alcançar equipamentos de segurança, enquanto os outros iam fazendo fotos e eternizando aqueles simples mortais entrando e saindo maravilhados daqueles carros que mantém viva a história do automobilismo do Brasil de antigamente. Encontrei outros amigos, o Mosquetta, o Erlon e o Arlindo e Luciano Marx. Fui dividir a minha alegria com eles. Os Marx levaram o Escort a convite do Paulo e deram algumas voltas por lá. O Mosquetta estava filmando para o programa do Speed Channel que irá ao ar em breve. O Erlon acabou fazendo fotos bem legais.
Entrou o Fórmula Fiat, carro que me deixou muito feliz ao vê-lo no caminhão em Passo Fundo. Dias antes do evento, o Paulo mandou uma lista com as baratas que estariam à disposição e esta não figurava entre elas. A felicidade se explica: o primeiro ano da Fórmula Fiat no Brasil foi em 1981, quando a VW tirou o patrocínio das categorias de monopostos e dos Passats. A Fiat, que fazia um baita sucesso nas pistas - com a pancadaria entre os 147s - decidiu apoiar os monopostos e assim, os chassis que estavam parados receberam a motorização italiana. Eu lembro dessas provas e o Kaimann, chassi que estava lá em Guaporé, era o meu preferido, por suas linhas agressivas. O chassi de propriedade do Paulo é um 1974 em perfeito estado de conservação. Entro no carro e a posição é super confortável. Muito espaço lateral e para os pés, que inclui ainda um descanso para o esquerdo. Quando me dou conta o Ceregatti está fazendo várias fotos desse momento. Ele percebe a minha alegria. O Ceregatti estava em alfa, era sem dúvida o mais brincalhão entre todos. Estar junto dessa turma foi incrível.
O motor não pega. O Marcos faz de tudo. Cara esforçado, competente, atencioso com todos. Bom vê-lo a mil de novo. Descobri que ele acompanha o Paulo há 18 anos, desde o tempo em que o Paulo corria no Gaúcho de Fórmula Ford. Eram oito carros precisando de atenção quase que o tempo todo e era raro algum ficar estacionado por muito tempo. Tentamos mais uma vez, o motor roncou alto para não apagar mais. A posição de guiar é ótima. A melhor até então. Poderia ficar horas ali curtindo. Uma esticada forte na saída do box (piloto de box, como disse o Mosquetta) e já noto a dianteira meio solta. Não é tão estável quando o JQ Reynard, mas o câmbio é melhor. Mesmo assim, é possível acelerar bastante e se divertir de novo. Mais algumas voltas, o motor meio embrulhado, mas na entrada da reta ele vem cheio, uma delícia. Nas reduções o motor pipoca. Como é legal ouvir isso de dentro do carro. Já me perdi nas voltas. Não tem ninguém na mureta acenando, acho que é a última. Vou devagar, aproveitando cada segundo. Se desse, eu levava esse pra casa.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
19 anos depois
Saída do box, fim da reta, vamos ver se o freio funciona. Beleza, meu pé 43 bate numa parte do chassi, então tenho que parar de acelerar um pouco antes. Olha a curva 1, bem inclinada, caramba. Uma rápida acelerada e já estou na 2, pegando o sol forte bem no rosto. Seguindo em frente, passo por sobre o túnel onde há um desnível dos grandes e uns reparos feitos com concreto eu acho. Treme tudo. Melhor não passar alí na próxima. Outra curva bem inclinada e mais fechada que a 1. Entro na reta que leva à curva do Radiador, onde assisti pela primeira vez uma prova aqui em 1990. Como é bonito esse lugar. Esticando a terceira marcha um pouquinho, sinto dificuldades de colocar a quarta, o Radiador se aproxima. Puxa, pensei que fosse bem mais inclinada, mas aqui tem de ter cuidado, pois não se vê a zebra na saída dela. O carro embala e a primeira perna do S já está na minha frente. Freio, acelero e a empolgação aumentando. Segunda perna, acelerador no fundo e um baita susto. A traseira dá uma escapada! Pneus frios, meu amigo, vai com calma. Última curva, cheia de folhas das árvores pelo chão. Melhor fazer bem por dentro. A saída da curva mostra as últimas posições do grid. Chegamos na reta, ainda lento, reconhecendo tudo, embora o motor segue dizendo "VAI NO DA DIREITA, MEU FILHO!". Uma espiada na mureta, nenhum ar de reprovação do Paulo, um rápido aceno para uma foto e o pé decidiu assumir os trabalhos. Quarta, lomba abaixo e o motor gritando "QUINTA, POR FAVOR". Calma de novo, vamos ver como funciona o freio no embalo. Freio duro, terceira de novo e ops, segura, segura. A barata colada no chão, mas uma acelerada a mais e a traseira começa a dar o ar da graça.
A empolgação já tinha dado lugar à tranquilidade. Impressionante. Estava me sentindo em casa. Foram tantas vindas à Guaporé, por tantos anos que o traçado não foi nenhuma surpresa. Ao longo da segunda volta fui identificando várias fotos e histórias publicadas no blog nesses quase três anos. Na curva 1 voou o Maverick do Tróglio. Aqui o "Bocão" e o "Toninho" travaram uma grande disputa nos Passats, na curva que homenageia o Caetano Antinolfi. Nessa outra curva o pessoal vinha pendurado. Aqui tinha uma casa de madeira que ficava bem próxima da pista. No S os Fiats se encaixotavam na freada, aqui o Nique encheu a traseira do Uno do Ícaro com seu Chevette em 86, na última curva lembro de ter vibrado quando ví o Rogério Pretto liderando também com um Chevette a primeira volta das 12 Horas de 92 com os Opalas babando na cola dele. Alí parou o F2 do Pradinho, depois daquela estupidez em 81. Quantas histórias esse lugar tem. E como é bom estar aqui, nesse carro que vi correr em Tarumã, quando foi pole e acabou em segundo lugar há quase 21 anos. Estou ficando velho...
Terceira volta. Na saída da última curva o motor limpa, beleza, quarta, estica, quinta entrando com dificuldade, pé no fundo, cinto bem apertado, lá vem a curva, tudo vibrando, cadê a placa, só tem a dos 50, segura, segura, o pneu já tá quente, o motor pipoca, maravilha, o bicho contorna barbaridade, mantém o traçado, aceita os erros de um amador. A retomada te joga contra o banco. Isso aqui está muito bom. Alguém me belisca, por favor! Ops...Nas curvas sinto uma embrulhada, marcha para baixo para levantar o giro. Depois do Túnel, alguma coisa não está legal, o carro vai parando, parando e parou, logo depois do Radiador. O que foi que eu fiz???...
Bati o arranque de novo, o motor virava, mas não pegava. Melhor aguardar o resgate. Enquanto isso a turma ia passando. Lá vem o Fitti-Vê, o Aldee, o Ômega, o Kaimann, o KG Dacon. Vrummmmmmmmmm.......Acho que os primeiros foram o Joca, Zullino, Saloma, Francis e o Vicente. Todos passando, aproveitando cada metro da pista, curtindo aquele dia histórico. Eu já estava feliz demais. A turma passava lotada e eu ficava cuidando a tangência para entrar no S, o stop acendendo, o barulho das baratas. Depois de uns minutos chegou a Ranger e os guris do Paulo. Tenta de novo e nada. Voltei rebocado, justo quando o carro, a pista e eu já não nos víamos mais como estranhos. Acontece.
Ao chegar no box, os guris investigaram o que aconteceu. Acabaram trocando a ignição e o motor pegou novamente. Incrível como eles conseguem botar o carro de novo na pista tão rápido. O Paulo tem um time e tanto.
Encerrava alí o meu batismo no Blog Speed Day. Ao descer do carro eu nem lembro o que fiz, para que lado fui, com quem falei. A alegria era tanta que a razão fora completamente dominada pela emoção. Emoção boa, leve. Estava curtindo aquele momento quando ouço uma voz novamente dizendo: "SANCO, TU VAIS NO FITTI-VÊ. O LUCCA ESTÁ DEMORANDO. VAI, VAI, VAI!!!!!" Era o Paulo, com sua planilha, regendo seus carros e "pilotos" com a precisão e a firmeza de um grande maestro.
Não tinhamos tempo a perder. E lá fui eu de novo...
Fonte das imagens: Erlon Radl (na foto do #11 na pista é o Eric. Vai essa mesmo, enquanto as minhas, feitas pelo Leonardo não chegam), arquivo pessoal (valeu, Anselmo!) e vídeo do João César (valeu, João!).
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Prova Extra - Copa Brasil
Esses três dias do Blog Speed Day foram cheios de histórias. O entusiasmo dos narradores era nítido. Cada um protagonista, ou apenas testemunha de um "causo". Muito ouvi falar dos Fittipaldi, do Lettry, do Greco, do Bird e por aí vai. O Joca e o Zullino, falavam pelos cotovelos. Pelo que entendi, as conversas na sexta foram até às 4 da manhã.
Falando em Fittipaldi, lembrei que o Ibraim Gonçalves, que está sendo retratado pelo blog nessas últimas semanas, tinha alguns registros junto do Emerson e do Barão, quando da vinda destes para a etapa de Tarumã da Copa Brasil em 71. Vejam abaixo.
Aqui o Emerson dando um autógrafo ao Ibraim
Da esquerda para a direita estão Elton Jaeger, jornalista da extinta Folha da Tarde, Ibraim, Wilson Fittipaldi, Edgar Oni do ACRGS e Emerson.
Da esquerda para a direita estão José Carlos Steiner, então Presidente da FGA, Antônio Pegoraro, então Presidente do ACRGS, Basthian, Edgar Oni, Wilson e Ibraim.
Ainda tenho bastante material do Ibraim para publicar e o farei em breve, mas ele pediu para divulgar seu e-mail para quem quiser entrar em contato com ele. Aí vai. ibraim.angela@hotmail.com
Fonte das imagens: arquivo Ibraim Gonçalves.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Insônia
Após a chegada em Passo Fundo, a turma seguiu para o Museu do Automobilismo Brasileiro. Cheguei meio atrasado. Foram quatro intermináveis horas de carro de Porto Alegre até o paraíso. Lá encontrei a turma - sendo guiada pelo incansável Paulo Trevisan - no meio da visita e fui obrigado a interromper a conversa para finalmente dar um abraço em vários expoentes da blogosfera. Depois de quase três anos "blogando" com Saloma, Joca, Francis, Cerega, Vicente, Jan, etc, pude finalmente ultrapassar o limite virtual e compartilhar momentos de alegria com todos esses apaixonados pelas carreras como todos que por aqui passam. Esse para mim foi o primeiro momento marcante do Blog Speed Day.
Enquanto isso, no pátio, as carangas estavam sendo colocadas nos caminhões para seguir no sábado pela manhã para Guaporé. As oito relíquias enchiam os olhos de quem as via. Mas tudo aquilo não fazia muito sentido. Parecia que iriam apenas seguir para uma exposição. "Será que realmente são para acelerar?" Eu me perguntava e respondia: sim. SIM!!! Depois de mais de um mês do convite do Paulo, se aproximava o grande momento.
Abaixo dois lances engraçados. O Francis tentando se encaixar no banco de um kart e o Ceregatti tomando um mate. Na foto não aparece, mas ele ficava o tempo todo botando a mão na bomba... Isso não se faz, Cerega. Esse cara era só alegria o tempo todo.
O entusiasmo do Paulo ao falar sobre seus carros é notável e incansável. A parada sobre o Fórmula Júnior foi recheada de histórias.
A sexta encerrou com um jantar com todos presentes. Depois, no hotel, foi difícil dormir. Na verdade, as últimas quatro noites foram igualmente de muita expectativa. "Será que o tempo vai estar bom? A pista vai estar molhada? E os carros vão estar nos trinques? E eu vou fazer alguma cagada?"
Chegamos em Guaporé no sábado às 09:00. O céu estava perfeito. Limpo e claro. Melhor impossível. O meca Marcos, braço direito do Paulo, tinha saído antes com sua turma e quando chegamos nos boxes os carros já estavam todos prontos para entrarem na pista.
Imediatamente, quando ainda estava reconhecendo o terreno, ouço o Paulo com aquela sua objetividade tradicional: "SANCO, TU VAIS NESSE" e apontou para o Fórmula Ford #11. Caramba, já? Então, lá vamos nós. "Anselmo, pega a câmera!" Só deu tempo de entrar no cockpit, conhecer os comandos, enquanto o Marcos dava uns goles no carburador e o Zullino, o Regi e o Erik ajudavam com o cinto de segurança. "Bem apertado, por favor". Perguntei ao Paulo sobre qual giro usar, pois tinha entendido - não sei porquê - que não deveríamos passar de 3000 rpm. "Está liberado, aceleres como quiser!" Tudo certo, o motor pegou e o Paulo dizendo "VAI, VAI, VAI!". Tinha de levantar o giro para não apagar. OK, não fiz feio quando todos estavam olhando para aquela barata que um dia foi do Rubens Barrichello.
E fui...
Em breve a continuação.