sábado, 30 de janeiro de 2010

O Corcel Schnitzer

A resposta para o último Desafio foi fácil. A turma matou rápido, mas o objetivo era de mostrar a imagem daquele carro que representou o limite do desenvolvimento do modelo para a categoria Divisão 3 daquela época. Décio Michel e seu famoso Corcel da Mimi fizeram história em Tarumã, ao vencer a primeira prova disputada no circuito que neste ano completa 40 anos de atividades ininterruptas.

A referida imagem fora enviada pelo amigo Roberto Giordani e é ele que contará, a partir de agora, como foi a evolução do Corcel #30.

"Quando falo em Corcel e associo o nome da Casa austríaca Schnitzer é porque nos miramos nas soluções aerodinâmicas das BMW que eram implantadas pela dita equipe, nos imbatíveis carros vencedores da Casa Bavaresca de München na Alemanha. Mecanicamente, o Horst Dierks, para a inauguração de Tarumã em 1970, preparou um cabeçote para o Décio e o restante foi feito na cidade de Estrela. O comando era um Bino, completado por dois carburadores duplos.

A foto abaixo é de 1972, a largada daquela fantástica disputa que houve entre o Décio com o #30, eu com o #88 e o Roberto Peter com VW, todos equipados com pneus importados. A categoria era até 1300cc e o regulamento era o Anexo J da FIA. O Corcel de 1972 praticamente era o mesmo da estreia da inauguração em 1970, acrescido com pequenos defletores nos paralamas dianteiros e já com a suspensão bem trabalhada.



A foto seguinte é de 1973, já sob nossa guarda na oficina do Horst( aquele de boné branco por mentira que possa parecer, sou eu!) onde já aparece a grande asa dianteira inspirada na BMW. Cometemos um pequeno equívoco fazendo redondas as entradas de ar para ventilar os freios. No primeiro treino com a nova frente sentimos uma sensível melhoria no downforce da dianteira e da quantidade de ventos que fluem por baixo da viatura, porém, em meia dúzia de voltas o freio esquentou e acabou, causado pelo nosso erro de fazer as tomadas de forma redonda. Corrigido o problema, voltamos aos treinos e aí sim, tínhamos conseguido com a nova frente, que praticamente evitava as saídas de frente tão características da tração dianteira. O propulsor recebeu comando de válvulas Albert(nome do preparador austríaco do norte daquele país) e uma carburação dupla S.U. de procedência inglesa. Estas modificações tornaram o Corcel imbatível na categoria, a ponto de que nas 12 Horas de 1973, onde avançamos uma barbaridade sob a forte neblina que persistiu até o levantar do sol, a ponto de nos colocarmos na mesma volta, a alguns segundos atrás dos Reginatto que terminaram por vencer na Geral. Teria sido eletrizante a "tocada" final para buscar a vitória na geral, não fosse mais uma vez o azar (acho que sou pé frio em 12 horas, vide 12 Horas de 1968) nos fez sair fora da prova (quebra da trezeta da tração)quando faltavam menos de 2 horas para o final. O carro era quase perfeito!


Em 1974 nos empurraram impiedosamente para a categoria 1600 cc e aí vieram as grandes modificações na foto que o Corcel aparece na chegada da curva do Laço em Tarumã. Foi um absurdo aquela medida, pois o que havia nos Corcéis eram propulsores de tão somente 1340 cc que podiam mal e mal chegar a 1390 cc. Aí surge a genialidade de um grande preparador que é o Horst Dierks: consegue fazer um motor com 1520 cc, ainda longe dos VW e Chevettes 1600, porém com uma robustez impressionante produzida pelas evoluções dos comandos Albert feitas aqui mesmo, com enormes válvulas de admissão e descarga, uma carburação composta de 04 S.U. com coletor multi funcional e o escalonamento total da caixa de câmbio que favorecia as retomadas e a velocidade final. Não esquecer que os câmbios só tinham quatro marchas. Ainda faltava a aerodinâmica e foi aí que a parte frontal da dianteira foi rebaixada a partir do parabrisas dianteiro. Esta foi a evolução em menos de cinco anos de uma viatura vencedora.


Um grande abraço meu caro amigo e companheiro Sanco.
Roberto Giordani."

Excelente o relato de quem acompanhou a história de perto. Observem a riqueza e o detalhe das informações técnicas. Sensacional.

Ah, antes de encerrar, a turma bem observou que a grade dianteira era diferente e o próprio Giordani me informou que era do novo Corcel. Dúvida esclarecida.

Valeu, Giordani!

Fonte das imagens: arquivo Roberto Giordani.

13 comentários:

Roberto Giordani disse...

Caro Sanco!
O Décio acaba de me telefonar de Florianópolis, emocionado e feliz, após ter lido este artigo de hoje a respeito do Corcel. Muito te agradecemos a tua atenção para conosco.
Agora outro assunto: este ano Tarumã completa 40 anos de inauguração em Novembro.Talvez ainda seja muito cedo, mas não estou vendo por parte de seu proprietário, o ACRGS, qualquer programação a respeito da data. Tarumã foi o maior palco das revelações e gloriosas apresentações de pilotos gaúchos da era pós carreteiras com memoráreis provas ali disputadas por pilotos gauchos, brasileiros e do mundo. Porém, Tarumã sempre carregou uma antipatia da arrrogante mídia do centro do país e de pilotos que não eram daqui, porque grande número deles não tinham "peito" para enfrentar um circuíto diferenciado em que só o talento não bastava; precisa ter muito mais do que isto, e que certamente lhes faltavam.
Daquela época um dito revigorou-se entre os pilotos daqui: " Tarumã separa os homens das crianças".
Mas não existem só boas lembranças e sadio orgulho;existem verdades e fatos que prejudicam até hoje esta imagem deste fantástico circuíoto.
Um grande abraço.
Roberto Giordani.

Francis Henrique Trennepohl disse...

Corcel lindão. Me apaixonei!

luiz borgmann disse...

Olá Giordani, apreciei muito a sua matéria e os comentários a respeito do Corcel MiMi. Lembro de quando o Décio Michel anunciou a sua saida das pistas, acho que foi em uma etapa de Guaporé, final dos anos 70. Também é bom lembrar que o Horst ensinou artimanhas de preparação dos motores Corcel (mais tarde CHT) que alguns pilotos-preparadores utilizaram em seus carros (de FF ou turismo)com bastante suceso. Se você puder lembrar, gostaria de saber como foi elevada a cilindrada do motor do Corcel MiMi de 1340 para 1520, foi desenvolvido novo virabrequim ou só no diâmetro dos cilindros, ou já estavam usando o virabrequim do 1440XP? A respeito dos SU ingleses foi novidade, pouco se sabia a respeito da preparação destes carburadores, usados raramente pelos preparadores. É bom lembrar que naquele ano seguinte (1974) seria lançado no Brasil o Dodge 1800 com carburação semelhante ao SU modelo Hitachi japonês, em que os preparadores puderam pesquisar mais a respeito. Outra pergunta que tenho a lhe fazer é em respeito ao seu DKW que aparece na foto com pneus slick: ele já tinha motor 1100 e carburação tripla 44 (um duplo + um cortado ao meio) e quem é que preparava as janelas daquele 2T. A propósito, considerando a cilindrada daquele motor, ele virava quanto em Tarumã no slick, e se já tinha freios a disco?
Um abraço,
luiz borgmann

Roberto Giordani. disse...

Caro Luiz Borgmann!
Só agora a noite, li as tuas solicitações de informação.Amanhã, durante o dia vou preparar detalhadamente as informações e colocar nesta coluna de comentários ou envio ao Sanco para ele dar uma amplitude maior às respostas, pois acredito, serão bem interessantes as informações.OK?
Até amanhã.
Roberto Giordani.

MCORSO disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
MCORSO disse...

Cara, que maravilha rever esse Corcel. Quando era criança, eu tinha um Corcel de plástico, na qual nós cortávamos a um pedaço da tampa do porta malas e colocávamos pedras dentro para que ficasse mais pesado e mais estável as “corridas” que disputávamos, puchando nossas baratas por barbante, e... o número que eu usava era o 30, adivinhem porque?
Abraço a todos.

Anônimo disse...

Lembro que logo após o lançamento do Corcel, a Bino comercializava o "Corcel Bino" e anunciava uma cilindrada de 1440cc (declarava 85HPs!!!). Isso antes da Ford começar a comercializar o Corcel 1400, em 1972 (lembram do GT XP?). Estranhei então, a dificuldade em aumentar os 1300 do Corcel do Décio Michel, do qual lembro bem. Mas muito boa a matéria.

Leandro Sanco disse...

Olhem aí quanta história esse carro tem para contar. O Décio bem que podia fazer o filme "Se meu Corcel falasse". Vai que a Disney gosta...

Paulo Schütz disse...

Sem dúvida, tem muita história vindo deste corcel, assim como a categoria original, a 1300, da qual tenho grandes lembranças pelas disputas.

Roberto Giordani disse...

Alô Décio!
Desenvolvemos junto o carro e dividimos o Corcel 30 em muitas corridas e sobre ele tenho procurado divulgar a imagem porque acho que foi um carro tão sensacional quanto o meu DKW 88.
Mas, está na hora de tu mesmo contar ao pessoal do blog outras facetas da tua carreira e do Corcel da Mi Mi que tanto marcou a época.
Um grande abraço deste teu grande amigo.
Roberto Giordani.

Roberto Giordani disse...

Caro Borgmann!
Já enviei ao Sanco as respostas às tuas perguntas. Elas serão publicadas nesta tarde de 4ªfeira. OK?
Se tiver outras perguntas, terei o máximo prazer em respondelas.

luiz borgmann disse...

Olá Giordani,
Sabe como é, a gente fica curioso dos macetes na preparação, que voces conheceram e conhecem até hoje. Grande abraço ao amigo, apenas uma ultima pergunta: onde foi parar o Corcel MiMi depois da aposentadoria do Décio Michel, foi pro desmanche ou está guardado?
Luiz Borgmann

Roberto Giordani disse...

Oi Borgmann!
Perdoa, somente agora a pouco li a tua pergunta a respeito do destino do Corcel: o carro foi convertido em carro de rua, porém foram retirados o motorzão e o câmbio escalonado. Quem comprou foi um amigo nosso, Herberto Frischmann, que era um dos donos de uma empresa que dava assistência a bombas diesel e depois a compressores de caminhões também: a firma era Egon Frischmann, que era o pai do Herberto.
Depois, o Herberto veio a falecer muito jovem ainda e a família vendeu o carro para uma pessoa de Mostardas, que é perto do litoral e como o 88.............sumiu.
Nunca mais se soube dele.
Uma lástima, não tinhamos a idéia do quanto seriam valiosos para nosso ego de os tivéssemos guardado.
Um grande abraço.
Roberto Giordani.