Bom, a imagem em questão era realmente de Lages, SC, e mostrava a curva ao final da Av. Duque de Caxias. O Simca #75 era dos irmãos Ruy e Roberto Souza, o ano 1967.
Assim me contou o Giordani:
"Caro Leandro!
Já comentamos que pela proibição de haver corridas de rua ou estradas no Rio Grande do Sul, após o infausto acidente havido em 1962 com Ítalo Bertão, nossa saída foi buscar as pistas de Lages, Joaçaba, Florianópolis; também El Pinar em Maldonado e o Autódromo de Rivera na fronteira com Santana do Livramento, ambos no país vizinho, Uruguay, como a maneira de poder continuar a competir.
Esta história aconteceu no circuito de Lages. O circuito era um desafio à pilotagem pois era formado de diversos pisos e na maioria das vezes molhado, pois é sabido o regime de chuvas na bela e acolhedora cidade da Serra Catarinense.
Rapidamente rememorando, a largada era dada em um trecho um pouco acima dos boxes na Av. Presidente Vargas logo após a tão "falada" curva do muro da vergonha; passava logo a seguir pela ponte que era um verdadeiro funil, seguindo até a chamada "Curva do Coral" que era o bairro; seguia pela reta do Coral, que era de paralelepípedos irregulares, estreita, abaulada e normalmente com "barrinho" perigoso trazido das laterais pelo tráfego do dia a dia, que exigia correções de rumo; ao final da reta, já nas proximidades do Batalhão, uma chicane em piso de terra seguida de um contorno a esquerda demarcado por tonéis, para entrar na Av. Duque de Caxias, e daí para frente era "pé no porão" até chegar na tão conhecida "curva do muro ". A pista podia ser bizarra, mas muito desafiadora.
Abaixo uma sequência montada com as orientações do nosso amigo Giordani.
Pois é: é ao final da reta na Av. Duque de Caxias, onde podemos ver pelas fotos que era uma avenida sem qualquer imóvel (que diferença para hoje) é que se desenvolve nossa história:
O ano era 1966, e a prova também como das fotos de 1967, era 500 Quilômetros de Lages e a situação da pista era um pouco escorregadia. A viatura era o DKW nº 60, que eu tinha o piloto Mario Katz como companheiro, ainda na época da preparação pelo Dino de Leone. Como a pista era de rua, as referências para freada principalmente, eram difíceis, pois não haviam placas marcando a aproximação da curva, como nos autódromos.
Escolhi a lateral do posto de gasolina com bandeira da Esso (acredito que está lá até hoje) para a freada na curva do Coral; na chicane na frente do Batalhão era no "Deus nos acuda" e na chegada da curva do muro é que era o maior problema: simplesmente nada havia. Havia sim um poste à direita que normalmente estava encoberto pelos espectadores, e que até "servia" em dias de pista seca, mas não naquele dia com pista molhada.
Foi aí que cometi uma gafe, que no desenvolver da corrida foi um espetáculo que me valeu elogios, mas que por ironia havia sido um erro de pilotagem. O que eu fiz? Escolhi uma pessoa que estava com uma capa de chuva, ou semelhante, de cor vermelha muito acentuada, que era de fácil visualização. Erro! Nunca se escolhe baliza móvel, pois esta pessoa moveu-se em direção da curva, modificando e por conseguinte encurtando meu espaço de frenagem; tudo isto sem que me desse pela conta de imediato que tal estava acontecendo.
E aí começou o espetáculo: desde o início da prova, vínhamos em uma disputa feroz pela primeira colocação na categoria com outros DKW's e Gordini com equipamento 1093, que nos levava a disputar qualquer centésimo de segundo. Nas voltas decisivas eu estava sendo perseguido por concorrente duro e corajoso, que não dava folga nem com o parabrisa tapado de sujeira pelo spray que meu carro levantava. Comecei a perceber que a freada na curva do muro estava ficando difícil, mas compensadora, pois dali para frente eu abria uns metros do perseguidor, além do que conseguia ver os espectadores agitando os braços, aplaudindo a nossa disputa, coisa estimulante para mim pois estava em terra de terceiros correndo contra pilotos da terra. E a minha "baliza móvel" foi mais ainda direção da curva, sem que percebesse disto, ao ponto da minha freada já vir atravessado na pista, grudado nos"alicates" e ao ver das pessoas " freando lá dentro da curva mesmo no molhado".
Foi aí que me dei pela conta que minha referência, estava além daquele tal poste que era o último ponto de frenagem no seco, e que estávamos ultrapassando mesmo no molhado. Dando pela conta do erro, procurei administrar a freada, com a certeza que havia crescido o meu nível de pilotagem.
Para finalizar, conseguimos vencer na categoria e chegar muito bem na geral.
Um grande abraço a todos amigos.
Roberto Giordani."
Sensacional esse depoimento! Quando o Giordani me contou essa, lá em Passo Fundo, eu dei muitas risadas e fiquei imaginando a cena. Agora, com todas essas imagens e todos esses detalhes, temos uma ideia do que era competir num circuito de rua.
Ah, agradeço ao "Chico" Feoli por compartilhar conosco seu belo arquivo fotográfico.Valeu, Giordani! Valeu, "Chico"!
Fonte das imagens: arquivo Francisco Feoli e Google Maps.
9 comentários:
Olá Leandro!
Muito obrigado pela publicação de nossas histórias e por manter viva a memória de um automobilismo de competição que embora possa ser acreditado como " romântico " dava uma mão de obra danada competir naquelas condições; entretanto, posso te afirmar que fora o amor pela família, nada suplanta as emoções de uma corrida de carros....creia, é demais.
Um ótimo final de semana aos amigos do blog.
Roberto Giordani.
O garotinho na Av acompanhando os carros e tudo mais , Sensacional , parabens Roberto e Sanco .
oi roberto giordani.
não tens nada a agradecer pela publicação das "histórias".
és uma lenda viva do automobilismo e, nesta condição, nós é que temos que agradecer por compartilhar tamanhas experiências com estes apaixonados do blog.
a cada nova história, apreendo a respeitar cada vez mais a tua geração de pilotos, que tanto nos orgulha.
parabéns, sempre grande piloto.
continue a nos maravilhar com histórias recheadas de emoção.
Estou ocupando este espaço, talvez indevidamente, mas alguém conheceu um fusca que vi correr no circuito da barra de Tramandaí(Braço morto), este fusca tinha dois enormes coletores de ar (dutos)nas laterais do carro para refrigerar o motor, andava uma barbaridade, esta prova foi no verão de 67 ou 68 . Sr. Sanco: quem sabe uma reportagem desse carro???
Olá, Jorge.
Puxa, que difícil tarefa essa. Como sabes muitos fuscas competiram no Braço Morto e mais tarde, mesmo no asfalto, era evidente a busca pela refrigeração ideal dos motores a ar dos carrinhos. Vamos ver se alguém aqui lembra desse carro em específico. Caso encontre alguma informação, certamente será publicada.
Olá Paulo Rotta!
És muito generoso e considerar-me uma lenda viva do automobilismo gaúcho. Digo que é uma obrigação dos mais velhos como eu deixar um legado de feitos e memória às novas gerações para que continuem o trabalho do esporte.
Um ótimo domingo a todos.
Roberto Giordani.
Abraço a todos.
Como é bom ler relatos de PILOTOS que participaram de provas que havia somente escutado pelas palavras de meu saudoso Pai. Infelizmente, só comecei a acompanhar as provas a partir da inauguração de Tarumã. Continuem nos relatando esses acontecimentos maravilhosos.
Obrigado
Grande Giordani, o posto ainda existe e histórias como as suas o meu pai e o meu tio( que correu c/ Plínio Luersen na mesma equipe e com outros carros na época) também contam, demais o teu depoimento e as tuas lembranças deste tempo aqui na nossa cidade.Um grande abraço de um apaixonado por corridas e suas histórias incríveis!!!!!!!
Otimas fotos....que lembrança minha, avô tinha um Dohlfine ( ache que se escreve assim) cambio de 3 marchas, copotei ele em uma curva no morumbi em São Paulo rsrsrs. ( morumbi é um bairro)
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