quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

19 anos depois

Não tinha mais volta. Esperei muito por aquele momento e parece que na hora H deu um bloqueio, eu querendo me certificar que tudo estava certo, mas o negócio era ir para frente, trepidando uma barbaridade. Aqui tem um vídeo daquele momento, feito pelo João César. Depois de sair da parte de trás do box, o asfalto melhora, pensei. Melhorou, mas a trepidação continuava. Levanta o giro, alguém deve ter gritado ou fui eu mesmo. Daí voltei no tempo, mais precisamente há 19 anos, em Tarumã, quando acelerei pela primeira vez o meu kart, um Mini 87 motor Riomar V4. O carro era outro, a pista também, mas a sensação era a mesma. Tudo continuava vibrando, mas vamos com calma.

Saída do box, fim da reta, vamos ver se o freio funciona. Beleza, meu pé 43 bate numa parte do chassi, então tenho que parar de acelerar um pouco antes. Olha a curva 1, bem inclinada, caramba. Uma rápida acelerada e já estou na 2, pegando o sol forte bem no rosto. Seguindo em frente, passo por sobre o túnel onde há um desnível dos grandes e uns reparos feitos com concreto eu acho. Treme tudo. Melhor não passar alí na próxima. Outra curva bem inclinada e mais fechada que a 1. Entro na reta que leva à curva do Radiador, onde assisti pela primeira vez uma prova aqui em 1990. Como é bonito esse lugar. Esticando a terceira marcha um pouquinho, sinto dificuldades de colocar a quarta, o Radiador se aproxima. Puxa, pensei que fosse bem mais inclinada, mas aqui tem de ter cuidado, pois não se vê a zebra na saída dela. O carro embala e a primeira perna do S já está na minha frente. Freio, acelero e a empolgação aumentando. Segunda perna, acelerador no fundo e um baita susto. A traseira dá uma escapada! Pneus frios, meu amigo, vai com calma. Última curva, cheia de folhas das árvores pelo chão. Melhor fazer bem por dentro. A saída da curva mostra as últimas posições do grid. Chegamos na reta, ainda lento, reconhecendo tudo, embora o motor segue dizendo "VAI NO DA DIREITA, MEU FILHO!". Uma espiada na mureta, nenhum ar de reprovação do Paulo, um rápido aceno para uma foto e o pé decidiu assumir os trabalhos. Quarta, lomba abaixo e o motor gritando "QUINTA, POR FAVOR". Calma de novo, vamos ver como funciona o freio no embalo. Freio duro, terceira de novo e ops, segura, segura. A barata colada no chão, mas uma acelerada a mais e a traseira começa a dar o ar da graça.



A empolgação já tinha dado lugar à tranquilidade. Impressionante. Estava me sentindo em casa. Foram tantas vindas à Guaporé, por tantos anos que o traçado não foi nenhuma surpresa. Ao longo da segunda volta fui identificando várias fotos e histórias publicadas no blog nesses quase três anos. Na curva 1 voou o Maverick do Tróglio. Aqui o "Bocão" e o "Toninho" travaram uma grande disputa nos Passats, na curva que homenageia o Caetano Antinolfi. Nessa outra curva o pessoal vinha pendurado. Aqui tinha uma casa de madeira que ficava bem próxima da pista. No S os Fiats se encaixotavam na freada, aqui o Nique encheu a traseira do Uno do Ícaro com seu Chevette em 86, na última curva lembro de ter vibrado quando ví o Rogério Pretto liderando também com um Chevette a primeira volta das 12 Horas de 92 com os Opalas babando na cola dele. Alí parou o F2 do Pradinho, depois daquela estupidez em 81. Quantas histórias esse lugar tem. E como é bom estar aqui, nesse carro que vi correr em Tarumã, quando foi pole e acabou em segundo lugar há quase 21 anos. Estou ficando velho...

Terceira volta. Na saída da última curva o motor limpa, beleza, quarta, estica, quinta entrando com dificuldade, pé no fundo, cinto bem apertado, lá vem a curva, tudo vibrando, cadê a placa, só tem a dos 50, segura, segura, o pneu já tá quente, o motor pipoca, maravilha, o bicho contorna barbaridade, mantém o traçado, aceita os erros de um amador. A retomada te joga contra o banco. Isso aqui está muito bom. Alguém me belisca, por favor! Ops...Nas curvas sinto uma embrulhada, marcha para baixo para levantar o giro. Depois do Túnel, alguma coisa não está legal, o carro vai parando, parando e parou, logo depois do Radiador. O que foi que eu fiz???...

Bati o arranque de novo, o motor virava, mas não pegava. Melhor aguardar o resgate. Enquanto isso a turma ia passando. Lá vem o Fitti-Vê, o Aldee, o Ômega, o Kaimann, o KG Dacon. Vrummmmmmmmmm.......Acho que os primeiros foram o Joca, Zullino, Saloma, Francis e o Vicente. Todos passando, aproveitando cada metro da pista, curtindo aquele dia histórico. Eu já estava feliz demais. A turma passava lotada e eu ficava cuidando a tangência para entrar no S, o stop acendendo, o barulho das baratas. Depois de uns minutos chegou a Ranger e os guris do Paulo. Tenta de novo e nada. Voltei rebocado, justo quando o carro, a pista e eu já não nos víamos mais como estranhos. Acontece.

Ao chegar no box, os guris investigaram o que aconteceu. Acabaram trocando a ignição e o motor pegou novamente. Incrível como eles conseguem botar o carro de novo na pista tão rápido. O Paulo tem um time e tanto.

Encerrava alí o meu batismo no Blog Speed Day. Ao descer do carro eu nem lembro o que fiz, para que lado fui, com quem falei. A alegria era tanta que a razão fora completamente dominada pela emoção. Emoção boa, leve. Estava curtindo aquele momento quando ouço uma voz novamente dizendo: "SANCO, TU VAIS NO FITTI-VÊ. O LUCCA ESTÁ DEMORANDO. VAI, VAI, VAI!!!!!" Era o Paulo, com sua planilha, regendo seus carros e "pilotos" com a precisão e a firmeza de um grande maestro.

Não tinhamos tempo a perder. E lá fui eu de novo...
Em breve a continuação.

Fonte das imagens: Erlon Radl (na foto do #11 na pista é o Eric. Vai essa mesmo, enquanto as minhas, feitas pelo Leonardo não chegam), arquivo pessoal (valeu, Anselmo!) e vídeo do João César (valeu, João!).

9 comentários:

Giovanni Sanco disse...

Pultaquelosparela... que emoção!!!

Queria estar contigo pra ver tua cara mano... abração, tu merece!

Claudio Ceregatti disse...

S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L texto, meu caro Sanco!!!
Depois da minha imodéstia, da minha verborragia exacerbada, sem dúvida é a melhor descrição que li!!!
Tem mais é que fazer isso mesmo, camarada: Despeja tudo no teclado até doer os dedinhos, deixa dar uma amadurecida por algumas horas, depois corrige os erros de portugues, amarra as frases e despeja!!!
Peço que nos próximos tambem não economize, conta tudo aí com gosto, porque esses prazeres tem que ficar registrados para sempre.
Outro dia o Seabra e o Hugo Borghi comentaram que eu "escrevo sem pudores, despejo o que tenho sem nenhuma vergonha ou barreira..."
Peço a voce que exercite isso, mandar o pé sem pensar no que vão pensar de voce.
Adorei teu texto, e saiba que, mesmo não andando nesse carro, voce me fez estar nele.
Obrigado, meu caríssimo bajeiro.
Quem é da Terra, da Engenharia e da Gasolina não poderia ser mais feliz.
Então faça logo um filho, como voce disse lá no Francis.
Aí tua alegria fica inteirinha.
Grande abraço

jcesar disse...

Parabéns Sanco, vc merece, por swer essa pessoa bacana que pude conhecer um pouquinho em Passo Fundo, por ser um jovem que faz um excelente trabalho na preservação da história do automobilismo gaúcho... Abraço

SALOMA disse...

Sanco...batizado com diploma! òtimo conhecer o parceiro sulista que manda vê na cultura automobilistica da terrinha. Valeu conhcê-lo mais o brother Anselmo...

Francis Henrique Trennepohl disse...

Parabéns pelo belíssimo texto, Leandro!
Parece que estamos contigo dentro do carro.
Espero que possamos estar juntos outras centenas de vezes.
Forte abraço

regi nat rock disse...

Noooooossa, vc pode não ter percebido mas eu estava no banco do carona (?!?????) Vá descrever suas impressões de outro jeito e vai ter que ajoelhar no milho de castigo...
Delícia de texto.
Parabéns cara, Mesmo!

vitão disse...

Lindo texto Sanco. Quem passou por vocÊ com o Omega fui eu, que tive a oportunidade de estrea-lo .

Leandro Sanco disse...

Aí, Vitão! Como fiquei um bom tempo parado na pista não pude ver quem era quem nas baratas.

Também não puder ver a cara de faceiro de vocês ao descer da boléia.

Independente disso, cada um sabe o que passou lá dentro e vai levar aqueles momentos para o resto da vida.

Abraço a todos.

carlos giacomello disse...

Lendo o texto que tu escreveu(tô com os pelos do corpo arrepiados!!!!) dá uma depressão por não conhecer o Paulo e, além disso, ter a intimidade suficiente para ser convidado num evento deste porte, nem que tivesse sido só para assistir de longe.
Maravilha as palavras escritas. A emoção do piloto/blogueiro é à flor da pele e contagiante. Parabéns!!!!!