Pergunto pro Paulo onde está o cinto e ele diz que não tem (!). Uma rápida arranhada na primeira, solto a embreagem rápido para não forçá-la, giro alto e lá vamos nós de novo. Câmbio suave, suspensão e motor idem. Uma belezinha. É claro que a carga emocional é menor, afinal o batismo já tinha acontecido antes e também eu conhecia pouco sobre os Fórmula Vê, ao contrário de uma dezena de experts que passaram o dia falando e andando naquele carrinho. Mesmo assim, aproveito o momento raro, que acaba passando rápido. O Paulo disse para não deixar o motor morrer na entrada do box, chego acelerando para manter o giro alto. Vejo o Tio Zullino com seu capacete vintage e óculos especiais - para enxergar os instrumentos, como disse o Vicente - já pronto para entrar e acelerar. Rápida troca de "pilotos" (na verdade o Zullino pilota mesmo, na Classic em SP), e o Fitti-Vê estava novamente em ação. E o Paulo sempre dizendo "VAI, VAI, VAI!!!"
Um breve descanso. Se o dia terminasse ali eu já estava mais do que satisfeito. A movimentação era intensa. Aquilo parecia festa de confraternização da turma que fez um bolão e acertou na mega sena - se é que isso existe, claro. Mas acho que mesmo na turma da mega, deve haver muita inveja, discórdia, pois sempre tem um que apostou uma grana a mais que o outro, a ganância aflora, dane-se a amizade. O que vimos em Guaporé foi um grande companheirismo. Todos faziam questão de ajudar os demais naquilo que pudessem. Parou um carro, o novo piloto é mais "gordinho"? Já tinham uns três sobre a barata para ajustar o cinto, regular espelhos, alcançar equipamentos de segurança, enquanto os outros iam fazendo fotos e eternizando aqueles simples mortais entrando e saindo maravilhados daqueles carros que mantém viva a história do automobilismo do Brasil de antigamente. Encontrei outros amigos, o Mosquetta, o Erlon e o Arlindo e Luciano Marx. Fui dividir a minha alegria com eles. Os Marx levaram o Escort a convite do Paulo e deram algumas voltas por lá. O Mosquetta estava filmando para o programa do Speed Channel que irá ao ar em breve. O Erlon acabou fazendo fotos bem legais.
Entrou o Fórmula Fiat, carro que me deixou muito feliz ao vê-lo no caminhão em Passo Fundo. Dias antes do evento, o Paulo mandou uma lista com as baratas que estariam à disposição e esta não figurava entre elas. A felicidade se explica: o primeiro ano da Fórmula Fiat no Brasil foi em 1981, quando a VW tirou o patrocínio das categorias de monopostos e dos Passats. A Fiat, que fazia um baita sucesso nas pistas - com a pancadaria entre os 147s - decidiu apoiar os monopostos e assim, os chassis que estavam parados receberam a motorização italiana. Eu lembro dessas provas e o Kaimann, chassi que estava lá em Guaporé, era o meu preferido, por suas linhas agressivas. O chassi de propriedade do Paulo é um 1974 em perfeito estado de conservação. Entro no carro e a posição é super confortável. Muito espaço lateral e para os pés, que inclui ainda um descanso para o esquerdo. Quando me dou conta o Ceregatti está fazendo várias fotos desse momento. Ele percebe a minha alegria. O Ceregatti estava em alfa, era sem dúvida o mais brincalhão entre todos. Estar junto dessa turma foi incrível.
O motor não pega. O Marcos faz de tudo. Cara esforçado, competente, atencioso com todos. Bom vê-lo a mil de novo. Descobri que ele acompanha o Paulo há 18 anos, desde o tempo em que o Paulo corria no Gaúcho de Fórmula Ford. Eram oito carros precisando de atenção quase que o tempo todo e era raro algum ficar estacionado por muito tempo. Tentamos mais uma vez, o motor roncou alto para não apagar mais. A posição de guiar é ótima. A melhor até então. Poderia ficar horas ali curtindo. Uma esticada forte na saída do box (piloto de box, como disse o Mosquetta) e já noto a dianteira meio solta. Não é tão estável quando o JQ Reynard, mas o câmbio é melhor. Mesmo assim, é possível acelerar bastante e se divertir de novo. Mais algumas voltas, o motor meio embrulhado, mas na entrada da reta ele vem cheio, uma delícia. Nas reduções o motor pipoca. Como é legal ouvir isso de dentro do carro. Já me perdi nas voltas. Não tem ninguém na mureta acenando, acho que é a última. Vou devagar, aproveitando cada segundo. Se desse, eu levava esse pra casa.
5 comentários:
Leandro...
Ocupado como sempre em registrar a história do automobilismo no sul, talvez voce nunca tenha reparado que, além de abnegado historiador e blogueiro de primeira - tu és um excepcional cronista.
Sempre escrevendo "sobre os outros ou algo de outros", o Engenheiro de Bajas e Palavras estava meio escondido. Pois agora apareceu!
Não vi teu depoimento ao Speed Channel, mas pelo que me disseram, foi apaixonado e aplaudido.
Tudo isso junto, além de ser um cara do Bem e da Luz, encantou a todos.
parabéns por voce ser assim, camarada Sanco.
E vamos incendiar essa blogosfera e outras esferas de histórias. O mundo inteiro precisa saber que Brasil é esse, localizado fora do eixo Rio-São Paulo e que é a República do Rio Grande desde sempre...
Continua, camarada.
Não economize as palavras. Quem te lê está adorando, não tenha dúvida nenhuma disso.
Eu me dou a liberdade de responder a tua pergunta, Leandro: TEREMOS SIM!
As pessoas envolvidas no projeto da nova F-Vê (ou "Vee") estão fazendo tudo com cérebro e tesão, não entrando na jogada interesses financeiros, o que já é mais de 90% pro sucesso.
Se Deus quiser vou correr nessa categoria, mesmo com o risco do vexame de ficar entalado no carro.
Essas pessoas merecem toda nossa consideração, respeito e admiração pela iniciativa e trabalho árduo que estão desenvolvendo.
Sem contar as figuras que estão nos bastidores, aí vira um "dream team".
Assino embaixo do comentário do Cerega.
Pisa fundo nos textos, Leandro!!!
A turma da área técnica fez um projeto muito bem pensado, a ergonomia do carro será a melhor possível. Não acredito que alguém fique entalado, nem o Cerega.
Não corro mais na classic, regulei meu carro para a rua e ando com ele normalmente aterrorizando as famílias granjeiras na rodovia raposo tavares.
Minha última corrida foi em 2003 e já estou enferrujado, mas me entusiasmei nessa viajem a PF e Guaporé e estou com vontade de fazer algumas corridas em 2010, só para brincar, meu carro não é mais competitivo na classic e não vou enfiar mais um caminhão de grana para isso. Vou esperar a nova categoria para gastar em brinquedo novo.
Abs,
Hmmm interessante.
Pra vc esse tem a frente frouxa, Pra mim, agarra pra valer e eu não estava desfilando não. Adorei seu depoimento. Quando crescer pode pleitear uma vaga de escritor na ABL. Talento não lhe falta.
Sugiro um título.
" Crônicas de um sonho concreto".
Tudo a ver né?
abração guri.
Só temos que parabenizar o jovem Sanco pelo maravilhoso trabalho de resgate da memória do automobilismo gaúcho. Automobilismo histórico, ganhador de 1000 milhas brasileiras, pioneiro na preparação de DKW (viva a familia Iwers), com Simcas 'apurados', ignorando no centro do Brasil, 'estamos longe demais das capitais', cantava os Eng. do Hawaii nos anos 80, esquecido no RS. Sorte a nossa que surgiu o Sanco, auxiliando o Trevisan na preservação e resgate da história do automobilismo. Abraço
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