Reencontro

Como disse no último domingo, a resposta do último Desafio traria consigo uma história incrível, que será contada em instantes. A imagem mostrava o grid completo de uma prova do Campeonato Brasileiro de Hot Car, em Tarumã no dia 3 de Outubro de 1982. O grid - que naquela época organizava os carros muito próximos - tinha Cezar "Bocão" Pegoraro na pole position e Paulo Júdice ao seu lado. A segunda fila tinha "Toninho" da Matta e Anor Friedrich. A terceira Aroldo Bauermann e José Junqueira. A quarta Egidio Micci e Flávio Pilau. A quinta Amadeu Rodrigues e Sérgio Pegoraro. A sexta Clemente Faria e Henrique Bertolucci. A sétima Cláudio Ely e um carro da SOK que não consegui identificar o piloto. A oitava Pedro Bartelle e "Beto Pareci" e na última aparece apenas o carro do Fernando Soares, o "Naná".

Lembrando um pouco sobre como foi a prova, a sexta do campeonato, o pole "Bocão" manteve a ponta e assim ficou sendo seguido de perto por "Toninho", com Júdice e Junqueira um pouco mais atrás. A vitória do gaúcho em casa parecia iminente, mas aquele não seria o dia de "Bocão" que acabou quebrando no final da prova, dando a vitória de presente ao futuro campeão da temporada "Toninho" da Matta.

Pois bem, mal sabia eu que essa história se cruzaria com uma grande lembrança minha, já relatada aqui no blog. Foi num e-mail que me fora enviado pelo próprio "Bocão" que percebi, surpreso, o que estava acontecendo. Transcreverei aqui parte desse e-mail dele do dia 10 de Novembro de 2009:

"Leandro, lendo tua última mensagem, a associei com um texto que li no blog e pergunto: foi contigo e com teu pai que conversei imediatamente após a frustração registrada nessa foto? Esse foi um dia muito ingrato. Eu dependia muito do resultado para poder seguir minha carreira no próximo ano. Fiz a pole, liderei toda a corrida, estabeleci um record e, como em outras oportunidades da vida, fiquei a poucos metros da linha de chegada. Nesse dia, me despedi pela primeira vez das corridas e no momento dessa foto, estou pensando nas coisas que deveria arrumar para voltar para Santa Catarina. Porém, como um consolo e alívio ao terrível pensamento, me chamaram para um churras. Tenho esse momento muito bem gravado em minha mente, muito mesmo, pois ao invés de chegar em um box e encontrar meu time triste e frustrado, tive a oportunidade de me preparar para isso na companhia de pessoas que gentilmente me acolheram com sua admiração e compreensão. Se eram tu e teu pai, aqui deixo 27 anos e 36 dias (bhá, quanto tempo passou) depois, o registro de que nunca esqueci o sabor daquele churrasco e muito menos o carinho do teu velho."

Agora leiam o que escrevi no dia 30 de Julho de 2007, num dos primeiros posts do blog:

"Me lembro como se fosse hoje de uma prova em que o Bocão corria e de repente o carro dele quebrou, ou recebeu um toque e acabou parando na entrada da curva do Tala Larga, logo após a Figueira. O ano devia ser 1982, naquela época a tela que dividia o público da pista ia muito além do que está hoje. Me lembro de estar agarrado na tela, como sempre, e de repente o carro dele foi parando no lado de lá da pista, ele saiu do carro, atravessou a pista e veio na direção onde eu e minha família estávamos. Caramba, quando vi, ele estava comendo um pedaço de carne de churrasco com o meu pai! Tudo bem que o meu pai sempre foi - e ainda é – um assador de mão cheia, mas o cara estava correndo a mil e logo em seguida degustava uma carne com o meu velho!? Me lembro inclusive que ele recusou um gole de cerveja numa daquelas latas da SKOL, acho que foi a primeira cerveja em lata que eu me lembro de ter visto. Eles conversaram um pouco, e logo depois ele saiu caminhando em direção aos boxes."

Incrível, não? Fiquei um pouco na dúvida em relação ao local exato no qual estávamos, mas as coincidências são tantas e eu era tão pequeno na época - tinha 5 anos e 11 meses - que acho que as histórias definitivamente se cruzaram.

Jamais pensei que uma ideia tão simples quanto esse blog iria me fazer voltar no tempo e reencontrar um dos personagens contando o ponto de vista dele sobre uma história tão marcante para mim.

Valeu, "Bocão"! Valeu mesmo...

Fonte das imagens: arquivo Cezar Pegoraro.