Em 1973 o automobilismo gaúcho, assim como brasileiro de uma maneira geral, vivia uma grande euforia. Talvez motivada pelo primeiro título mundial de Fórmula 1, conquistado pelo Emerson Fittipaldi no ano anterior. Para se ter uma idéia, o Campeonato Brasileiro de Divisão 3 chegava a reunir 50 carros em uma única prova. Por aqui o grid era obviamente menor, mas não menos disputado.
Após acumular uma boa experiência ao longo de 1972, incluindo as 12 Horas de Tarumã onde terminaram em sétimo lugar na categoria, mesmo após enfrentarem problemas com um cubo de roda quebrado e de uma penalização, os irmãos Echel entravam em 73 dispostos a vencer a qualquer custo. O Joel me disse que conseguir patrocínio naquela época não era nada fácil, ou seja, nada mudou. Quase todo o dinheiro que eles ganhavam eram utilizados para comprar equipamentos para a "barata", como carburadores duplos Weber 48, comando de válvulas Scat 165, etc. Naquela época muitas peças eram importadas, o que encarecia ainda mais a "brincadeira". Os custos eram tão altos que alguns pilotos exigiram que fosse criada uma categoria nacional, pois ficaria difícil de concorrer com os "importados". E assim foi feito, mas o #36 correria mesmo na importada, mais veloz e na qual os carros tinham um visual muito arrojado, com os paralamas dando uma moldura toda especial a eles por causa dos pneus importados, mais largos. O Edgar era o mais cuidadoso, poupava os pneus nos treinos para poder aproveitar melhor na corrida. Já o Joel só pensava em acelerar ao máximo e tentar baixar o tempo a cada volta. Sobre o preparador Pelegrini ele lembra que fazia a preparação do carro com muito capricho, era um ótimo mecânico. Inclusive a caixa de câmbio que eles utilizavam tinha sido construída por ele próprio. Os abandonos eram quase sempre por causa das pancadas que os pilotos davam. Para confirmar o fato das pancadas, vejam algumas imagens das 12 Horas de 72. Pelo visto algum dos pilotos deu uma "cassetada" na parte da manhã que afetou a parte dianteira do carro. Na parada para reabastecimento e troca de pilotos a esposa do Joel está limpando o parabrisa do carro. Mesmo faltando uns pedaços, cruzou a linha de chegada e como se sabe, em uma 12 Horas, isso já é uma vitória.
Ainda falando em pancadas, o Joel lembrou também das 12 Horas de Tarumã de 1973. O grid era de 35 carros, muitos deles da classe na qual ele e o Edgar corriam. O desempenho do carro e dos pilotos nos treinos foi muito bom. A tomada de tempos foi realizada na noite anterior e em uma determinada volta o Joel grudou no Fusca do Cláudio Mello. Ele saiu da curva do Laço tão forte que chegou a bater de traseira no guard-rail. Mesmo assim conseguiu ficar próximo para pegar o vácuo na saída da curva 9 até a linha de chegada. Resultado: pole position! Porém, a boa colocação custou caro à equipe. Os pneus traseiros, slick de 12 polegadas de largura, estavam acabados e não seria possível utilizá-los na corrida. A alternativa era colocar os mesmos utilizados na dianteira, de 9 polegadas. Na imagem abaixo é possível ver o carro no alinhamento já calçado com os pneus menores na traseira.
Como Joel era o mais "porra louca" da dupla, o risco de largar com ele seria considerável e a prudência fez com que Edgar largasse. Mas o destino não estava a favor deles naquele dia. O desempenho do carro com os "sapatos" menores na traseira não era mais o mesmo dos treinos e Edgar se esforçava para acompanhar o pelotão mais rápido. Pois logo na quinta volta, na saída da curva 9, ele escapou da pista e arrebentou o carro, acabando com as pretensões da equipe. Joel lembra que esse foi o momento mais decepcionante da sua carreira nas pistas.
Pouco depois, no dia 27 de Outubro, Joel estava mais uma vez bem classificado para a largada de mais um etapa do Campeonato Gaúcho, mas agora, como era uma prova curta, ele corria sozinho. Todas as classes corriam juntas e logo no início da corrida ele já era o segundo em sua categoria, atrás apenas do Fernando Esbróglio no #1, que por sua vez seguia já com uma certa distância os Opalas do paranaense Carlos Eduardo de Andrade, do Pedro Carneiro Pereira e do Ivan Iglesias. Na segunda volta esses dois últimos se enroscaram na reta e o resto, como todo mundo já sabe, virou história. Joel lembra que quando saiu da curva 9 viu a explosão e mesmo assim não conseguiu parar de acelerar forte. Acabou passando em meio à fumaça e sentiu aquele calor impressionante de dentro do seu carro. A imagem abaixo mostra o #36 momentos antes da paralisação da prova, além de outras da largada e dos boxes mostrando o caçula Roque junto ao carro.
Passada a tristeza do acidente em Tarumã muitos pilotos gaúchos estavam presentes em São Paulo para participar das Mil Milhas de Interlagos. As equipes gaúchas eram a de Bruno D'Almeida e Voltaire Moog, Júlio Renner e Fernando Esbróglio, João Roberto Schmidt que corria com o paulista Ricardo di Loreto e o trio Joel Echel, Ervino Einsfeld e Raul Machado, o dono do Fusca e também conhecido como "Boca". O carro era preparado para utilizar gasolina verde. O motor tinha uma alta compressão. A preparação ficava a cargo do Alonso. O Raul largou da 56ª posição com gasolina azul. Não demorou muito e acabou furando um pistão, encerrando assim a participação daquele trio na prova paulista. Abaixo algumas imagens dos preparativos para a corrida. O cara de pé ao fundo e de macacão com uma listra é o Ervino Einsfeld.
1974 será a próxima parada dessa história. Não percam, pois vocês verão imagens sensacionais do piloto que sempre acelerava fundo.
Fonte das imagens: arquivo Joel Echel.
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